Discurso da ministra Cida Gonçalves durante a abertura da 3ª Reunião Técnica do Grupo de Trabalho de Empoderamento de Mulheres do G20
Meu muito bom dia a todas e todos os representantes governamentais dos países-membros dos G20, dos países convidados e das organizações internacionais convidadas.
Gostaria de dar uma saudação especial à minha colega e amiga Nadine Gasman, Presidenta do Instituto Nacional das Mulheres do México, através de quem saúdo a todas e todos as Chefas e Chefes de Delegação aqui presentes.
É um imenso prazer rever diversas delegadas que estiveram conosco aqui neste mesmo local por ocasião da Segunda Reunião do Grupo Empoderamento das Mulheres, em 13 e 14 de maio último.
Enquanto me preparava para este momento, estava revendo minha fala na reunião de maio. Naquela oportunidade, afirmei ser fundamental que possamos construir consensos neste Grupo de Trabalho e pensar nas mulheres que serão as principais beneficiadas se lograrmos êxito nesta nobre missão que nos é apresentada. Também reiterei o compromisso brasileiro com a construção de um mundo mais justo e um planeta sustentável para todas as mulheres.
Passados quase dois meses, é uma grande satisfação notar que estamos caminhando nessa direção.
Tivemos uma reunião bastante produtiva em maio, em que os países e organizações internacionais participaram de forma ativa e construtiva. Recebemos, nas semanas seguintes à reunião, comentários por escrito de diversas delegações sobre os Termos de Referência que orientarão as entregas do nosso Grupo de Trabalho. Agradeço a todas as delegações que estão se engajando nesta empreitada. Tenho certeza de que, juntas, deixaremos uma contribuição valiosa ao G20 neste primeiro ano do Grupo de Trabalho Empoderamento das Mulheres.
Senhoras Delegadas, Senhores Delegados,
Hoje iniciaremos uma nova e importantíssima etapa de nossa missão. Esta reunião marca o início do processo de negociação da Declaração Ministerial que deverá ser firmada por mim e minhas colegas ministras e ministros em outubro.
Como diria um conhecido provérbio chinês, traduzido para muitas línguas, inclusive o português, “uma jornada de mil quilômetros começa com um simples passo”.
O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera um governo com grandes ambições no plano interno e também na esfera internacional.
Queremos que o G20 possa, ao final de nossa presidência, apresentar ao mundo resultados compatíveis com os desafios que temos à frente. O Presidente Lula assumiu o compromisso de colocar o combate à fome, à extrema pobreza e à desigualdade no centro da agenda internacional. Definiu também o desenvolvimento sustentável e a reforma da governança global como outras duas prioridades da presidência brasileira do G20.
Nessa linha, e no âmbito deste Grupo de Trabalho, propusemos dar ênfase a três temas: a igualdade e autonomia econômica das mulheres; o enfrentamento à violência e à misoginia; e a justiça climática.
Entendemos que esses temas dialogam de maneira formidável com as prioridades estabelecidas pelo Presidente Lula para a presidência brasileira do G20.
Isso porque a atual divisão de trabalho baseada em gênero tem perpetuado a desigualdade entre mulheres e homens através da garantia de empregos e salários superiores aos homens e do trabalho doméstico às mulheres.
A pobreza e a desigualdade de gênero estão calcadas nas barreiras enfrentadas nas discriminações e nos preconceitos estruturais estabelecidos na sociedade, também no mercado de trabalho e na distribuição desigual do trabalho doméstico e de cuidados não remunerado. Este último é majorado pela baixa oferta de políticas públicas que contribuam para a diminuição das horas de trabalho não remuneradas que as mulheres dedicam aos cuidados.
O trabalho de cuidados, apesar de essencial para a construção das sociedades, sobrecarrega mulheres em todo o mundo.
Apesar de diversas conquistas nas últimas décadas, a violência contra mulheres continua a ocorrer em proporções alarmantes.
Tenho insistido que é preciso enfrentar a misoginia para prevenir os feminicídios. Os feminicídios não se resumem ao ato de acabar com a vida e a identidade de uma mulher. Eles começam antes, começam com o discurso de ódio.
A violência contra meninas e mulheres persegue todos os países e tem se reinventado com as novas tecnologias, fazendo com que nós, do poder público, tenhamos desafios mais complexos.
No ambiente das redes sociais, vivemos uma realidade que já sabemos não ser exclusiva do Brasil: a misoginia é amplamente reiterada por grupos chamados de masculinistas e deve ser enfrentada pelos governos, pela sociedade civil, pelas empresas.
O ambiente virtual amplifica a escalada da violência e a torna mais veloz e sofisticada. Mulheres comunicadoras ou influenciadoras da política são grandes alvos deste discurso de ódio e de violentas campanhas de desinformação - trata-se de um recado ameaçador a todas as mulheres.
Na área da justiça climática, precisamos reconhecer que as mulheres são as protagonistas de importantes ações territoriais que visam a frear o agravamento da crise climática e de suas consequências sobre seus povos e territórios. Apesar disso, elas estão sub-representadas nos espaços de poder e decisão globais sobre essas questões.
Por isso, para o Brasil, é fundamental que nos comprometamos a apoiar e promover a maior participação, parcerias, tomada de decisão e liderança das mulheres na adaptação, transição justa e mitigação das mudanças climáticas, bem como nas estratégias de redução de riscos de desastres e na formulação de políticas ambientais. Ao fazer isso, devemos buscar promover o desenvolvimento sustentável em suas três dimensões: econômica, ambiental e social.
Investir na igualdade de gênero e empoderamento das mulheres é comprovadamente uma ferramenta indispensável na promoção do desenvolvimento, na recuperação econômica, no avanço tecnológico e mesmo na prevenção de conflitos. Não se trata de uma agenda de interesse exclusivo de um grupo de países, muito menos uma imposição de alguns. Antes, beneficia a todas e todos, em todas as partes do globo.
Senhoras Delegadas, Senhores Delegados,
Há alguns minutos, citei um conhecido provérbio, disse que temos grandes ambições e discorri sobre desafios que, certamente, enfrentamos todas e todos em nossos países e coletivamente no contexto global.
Pois bem, como eu dizia, “uma jornada de mil quilômetros começa com um simples passo”. Esse primeiro simples passo vamos dar no dia de hoje.
O projeto de Declaração Ministerial que todas e todos vocês receberam busca dar uma resposta, ainda que inicial, a esses desafios.
Esse projeto de Declaração Ministerial reflete nosso compromisso comum em avançar na promoção da igualdade de gênero e no empoderamento das mulheres, abordando questões cruciais como a autonomia econômica, o enfrentamento à violência e à misoginia, e a justiça climática.
Ao longo do restante deste dia, e amanhã de manhã, teremos a oportunidade de debater, aprimorar e fortalecer esse documento. Tenho certeza de que, com o engajamento e a dedicação de todas e todos aqui presentes, chegaremos a um texto consensual, que represente um passo significativo em nossa jornada rumo a um mundo mais justo e igualitário para as mulheres.
Não tenho dúvidas de que enfrentaremos desafios ao longo desse processo de negociação. Afinal, somos um grupo diverso, com realidades e perspectivas distintas. No entanto, acredito firmemente que o que nos une é muito maior do que o que nos separa. Compartilhamos o compromisso inabalável com a promoção dos direitos das mulheres e a convicção de que a igualdade de gênero é um requisito fundamental para o desenvolvimento sustentável e a construção de sociedades mais justas e pacíficas.
Portanto, convido a todas e todos a abraçarem esse desafio com determinação, abertura ao diálogo e espírito construtivo. Que possamos, ao final deste processo que se inicia hoje, apresentar ao mundo, em outubro, uma Declaração Ministerial que seja um testemunho de nossa capacidade de trabalhar em conjunto, de superar diferenças e de construir consensos em prol de um objetivo comum.
Antes de encerrar, gostaria de reiterar meu agradecimento a todas as delegações aqui presentes pelo empenho e dedicação demonstrados até o momento.
Tenho certeza de que, com a contribuição de cada uma e cada um de vocês, alcançaremos resultados significativos nesta reunião e ao longo de todo o processo do Grupo de Trabalho Empoderamento das Mulheres do G20.
Muito obrigada pela atenção e desejo a todas e todos uma excelente reunião.