História Brasil-Áustria
BRASIL-ÁUSTRIA:
REFERÊNCIAS HISTÓRICO-CULTURAIS
As relações Brasil-Áustria beneficiam-se, ainda hoje, do legado de laços históricos e culturais únicos.
Este texto apresenta referências essenciais sobre os seguintes tópicos: (i) a presença dos Habsburgos na história do Brasil; (ii) a expedição científico-cultural austríaca ao Brasil a partir de 1817 e os acervos dela resultantes em museus austríacos; (iii) a ligação do escritor austríaco Stefan Zweig com o Brasil; (iv) a iniciativa brasileira nas Nações Unidas, em 1952, em favor do pleno restabelecimento da soberania austríaca; e (v) brasileiros de destaque de origem austríaca.
De naturezas inteiramente distintas entre si, em contextos históricos os mais diversos possíveis, os tópicos mencionados têm em comum o fato de serem parte de um substrato de simpatia recíproca que continua a marcar as relações Brasil-Áustria.
Ao incluir em sua página na internet informações essenciais sobre essas referências histórico-culturais, a Embaixada do Brasil em Viena tem por objetivo facilitar um primeiro contato com esses temas para todos aqueles que desejem neles se aprofundar.
Tenciona-se, ao mesmo tempo, oferecer uma plataforma de diálogo para aqueles que desejem enviar contribuições para ampliação desta página, sobretudo no que diz respeito ao enriquecimento das referências bibliográficas.
As referências a várias obras históricas não representam um endosso a seu conteúdo ou a julgamentos e opiniões de seus autores.
**********
(i) A PRESENÇA DOS HABSBURGOS NA HISTÓRIA DO BRASIL
Dona Leopoldina
No contexto das políticas de uniões dinásticas características da história europeia naquele período, a Arquiduquesa Leopoldina (1797-1826), filha do Imperador austríaco Francisco I, casou-se em 1817 com D. Pedro, da casa portuguesa dos Braganças, o qual viria a proclamar a independência do Brasil em 1822 e se tornaria o primeiro imperador do Brasil entre 1822-1831.
Os registros históricos enfatizam a ligação afetiva que a Imperatriz Leopoldina viria a desenvolver com o Brasil, apesar de sua infelicidade no casamento. De personalidade disciplinada, participava da vida política nacional e apoiou D. Pedro na decisão de proclamação da independência do Brasil em 1822. Buscou promover o desenvolvimento da ciência e da cultura no país – sendo que ela própria havia se dedicado a estudos de história natural.
A simpatia que viria a conquistar entre os brasileiros foi ilustrada pelas manifestações de luto popular por ocasião de seu falecimento em 1826, antes de completar 30 anos. Seus restos mortais estão no Monumento do Ipiranga, em São Paulo.
Referências
- Carlos H. Oberacker. Leopoldine, Habsburgs Kaiserin von Brasilien. Viena, Amalthea Verlag, 1988. (Edição brasileira lançada pelo Conselho Federal de Cultura, em 1973.)
- Gloria Kaiser. Dona Leopoldina. Die Habsburgerin auf Brasiliens Thron. Graz, Verlag Styria, 1995. (Romance lançado no Brasil pela Reler Editora.)
-----. Um diário imperial - Leopoldina, Princesa da Áustria e Imperatriz do Brasil. Editora Reler.
- Johanna Prantner. Kaiserin Leopoldine von Brasilien. Viena/Munique, Herold, 1974. (Edição brasileira pela Editora Vozes, em 1997.)
- Em 1997, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro realizou Simpósio Comemorativo do Bicentenário do Nascimento da Imperatriz Leopoldina, havendo publicado coletânea de textos alusivos à data.
D. Pedro II
A historiografia brasileira e internacional é virtualmente unânime na avaliação sobre o papel-chave desempenhado pelo Imperador Dom Pedro II na consolidação do Brasil como Estado-nação durante seu longo reinado de praticamente meio século (1840-1889). Filho de D. Pedro I e da Imperatriz Leopoldina – e, portanto, neto do imperador austríaco Francisco I (1768-1835) e primo do Imperador Francisco José (1830-1916) –, nasceu em 1825 e viria a falecer no exílio, em Paris, em 1891, após a proclamação da República em 1889.
D. Pedro II, imperador de virtudes republicanas, notabilizou-se pelo seu interesse pelas ciências e pela cultura. Em suas viagens de estudo ao exterior, esteve em Viena em 1871 e 1877. Nesse contexto, vale mencionar a curiosidade de sua longa visita aos Estados Unidos, em 1876, por ocasião das comemorações do primeiro centenário da independência daquele país e criação da primeira república nas Américas: o Imperador D. Pedro II foi o único chefe de Estado a participar de tais comemorações.
D. Pedro II está sepultado na catedral de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro.
Referências
Em razão de sua importância na história do Brasil, é naturalmente extensa a bibliografia a respeito de D. Pedro II, a começar pelas obras tradicionais de Heitor Lyra, Hélio Vianna ou Pedro Calmon. Por essa razão, são abaixo indicadas tão somente três obras. A primeira, pela sua ligação direta com as relações Brasil-Áustria. As duas outras, por serem mais recentes e por trazerem, ao final, amplo levantamento bibliográfico, atualizado, de obras sobre D. Pedro II.
- Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança. D. Pedro II em Viena, 1871 e 1877. Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, 2010.
- José Murilo de Carvalho. D. Pedro II. Companhia das Letras.
- Roderick J. Barman. Citizen Emperor - Pedro II and the Making of Brazil, 1825-1891. Stanford University Press. (Há nesta obra numerosas referências a aspectos das relações Brasil-Áustria.)
**********
(ii) A EXPEDIÇÃO CIENTÍFICO-CULTURAL AUSTRÍACA DE 1817
Expedição científica e cultural austríaca acompanhou a Arquiduquesa Leopoldina ao Brasil, em 1817. O material de pesquisa recolhido pela expedição encontra-se hoje sobretudo em dois museus em Viena: Weltmuseum Wien (antigo Museu de Etnologia - Völkerkundemuseum) e Museu de História Natural (Naturhistorisches Museum). Os respectivos acervos constituem, possivelmente, as mais importantes coleções de etnologia e história natural, no exterior, sobre o Brasil.
Integraram a expedição, entre outros cientistas, o zoólogo Johann Natterer (1787-1843) e o mineralogista e botânico Johann Baptist Emanuel Pohl (1782-1834), bem como – por indicação do rei da Baviera – o botânico Carl Philipp Friedrich von Martius (1794-1868) e o zoólogo Johann Baptist von Spix (1781-1826).
A importância das coleções resultantes da expedição pode ser ilustrada pela introdução ao artigo abaixo mencionado, de Peter Kann e Christa Riedl-Dorn: "Nos diferentes acervos do Museu de História Natural e do Museu de Etnologia encontram-se as coleções resultantes [do trabalho] dos pesquisadores austríacos da Expedição-Brasil. Elas são o produto do maior empreendimento de pesquisa levado a cabo pela Áustria na América e se encontram dessa forma entre os tesouros mais preciosos de ambos os museus. Em toda a história de coleções austríacas, nunca mais chegariam a museus austríacos objetos em tamanho número e diversidade recolhidos por uma expedição".
O pintor Thomas Ender (1793-1875) integrou a expedição austríaca de 1817. Suas obras com paisagens e cenas urbanas do Brasil da época estão na Academia de Belas Artes de Viena (Akademie der Bildenden Künste).
Referências
- Wilfried Seipel (Org.). Die Entdeckung der Welt – Die Welt der Entedeckung. Skira.
(Catálogo de exposição realizada na Künstlerhaus, em Viena, em 2001/2002. Tratam da expedição austríaca de 1817 os artigos de Peter Kann e Christa Riedl-Dorn, Die österreichische Brasilien-Expedition 1817-1836, e de Kurt Schmutzer, Johann Natterer: 18 Jahre im Urwald Brasiliens. Ambos os artigos contêm referências bibliográficas que constituem levantamento abrangente de obras ou documentos históricos sobre a expedição de 1817.)
- Claudia Augustat (Org.). Além do Brasil. Johann Natterer e as coleções etnográficas da expedição austríaca de 1817 a 1835 ao Brasil.
(Catálogo de exposição no Weltmuseum Wien [antigo Museu de Etnologia], em Viena, em 2012/2013. Informações de caráter histórico sobre a Expedição austríaca e o destino das "coleções brasileiras" em museus vienenses constam, em particular, dos artigos de Claudia Augustat, Além do Brasil e Christian Feest, Johann Natterer e as coleções etnográficas dos naturalistas austríacos no Brasil.
- Christa Riedl-Dorn. Johann Natterer und die Österreichische Brasilienexpedition. Editora Index, Petrópolis, 2000.
- Robert Wagner. Thomas Ender in Brasilien. ADEVA, Graz, 1994.
- Viagens ao Brasil nas Aquarelas de Thomas Ender. Catálogo em três volumes, com imagens de 796 obras, com textos introdutórios de Júlio Bandeira e Robert Wagner, patrocinado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, Petrobras e Banco BBA, lançado em 2001.
- Robert Wagner, Júlio Bandeira. Eine Reise nach Brasilien. Aquarelle von Thomas Ender 1817-1818. Kapa Editorial, Petrópolis, 2003. (A bibliografia final inclui numerosas referências a obras e/ou exposições sobre a Imperatriz Leopoldina ou sobre a Expedição austríaca.)
- Bundesministerium für europäische und internationale Angelegenheiten / Ministério Federal dos Assuntos Europeus e Internacionais. Abre Alas - Thomas Ender - Encontro com uma Nova Luz - Áustria-Brasil. 2007 (Catálogo de exposição em Brasília, na Caixa Econômica Federal.)
**********
(iii) STEFAN ZWEIG
Stefan Zweig (1881-1942) foi um dos mais conhecidos e respeitados escritores austríacos na primeira metade do século XX. Fugindo do regime nazista em seu país, terminou por exilar-se no Brasil. Em 1941, foi lançado o clássico Brasilien. Ein Land der Zukunft, que popularizou a expressão e a visão do Brasil como o/um país do futuro. Suicidou-se em Petrópolis, em fevereiro de 1942.
Por iniciativa do jornalista e escritor Alberto Dines, foi aberta naquela cidade, em 2012, a Casa Stefan Zweig (www.casastefanzweig.org), dirigida pela senhora Kristina Michahelles.
Referências
- Alberto Dines. Morte no paraíso - a tragédia de Stefan Zweig. 1981. (Este livro foi adaptado para o cinema por Sylvio Back, em 2002, no filme Lost Zweig. O mesmo diretor fez igualmente um documentário, de 1995, Zweig, a morte em cena.)
- http://www.stefan-zweig-centre-salzburg.at
- Der Tod im Paradies - Die letzten Tage des Stefan Zweig. Documentário de Franz Fluch (1988, ÖRF).
**********
(iv) A INICIATIVA BRASILEIRA NA ONU, EM 1952
Em 1952, o Brasil tomou a iniciativa de apresentar, nas Nações Unidas, projeto de resolução em favor do pronto restabelecimento da plena soberania austríaca. Aprovada na Assembleia-Geral das Nações Unidas em dezembro de 1952, a resolução contribuiu para manter em foco na agenda internacional a Questão da Áustria. Em 15/05/1955 viria a ser assinado o Tratado de Estado com as quatro potências ocupantes (Estados Unidos, França, Reino Unido e URSS), por meio do qual a Áustria recuperou sua plena soberania.
Referências
- Klaus Eisterer. A iniciativa brasileira na ONU de 1952 para uma rápida conclusão do Tratado de Estado austríaco. (Texto disponível no site da Embaixada da Áustria em Brasília: http://www.bmeia.gv.at/fileadmin/user_upload/bmeia/media/Vertretungsbehoerden/Brasilia/4660_staatsvertrag_klaus_eisterer.pdf.)
**********
(v) BRASILEIROS DE DESTAQUE DE ORIGEM AUSTRÍACA
- Nomes de grande destaque na cultura brasileira, o escritor e jornalista Otto Maria Carpeaux (1900-1978) e o artista plástico Franz Weissmann (1911-2005) nasceram na Áustria, da mesma forma que o economista Paul Singer.