História
História do Consulado-Geral do Brasil em Nova York
Origens e evolução
O primeiro agente consular do Brasil independente nos Estados Unidos foi Antônio Gonçalves da Cruz. Residente em Filadélfia desde 1817, foi nomeado Cônsul-Geral do Brasil nos EUA por decreto de 15/01/1823. De Filadélfia, Cruz manteve a corte no Rio de Janeiro informada sobre os acontecimentos nos Estados Unidos, mas não chegou a ser reconhecido pelas autoridades americanas, por não haver recebido a necessária carta-patente do Governo brasileiro.
À época, figuravam entre as principais funções dos consulados (tanto os do Brasil quanto os das outras nações) a supervisão do comércio e o despacho, no exterior, de navios destinados aos seus países, tarefa que exigia a presença de agentes consulares a serviço do Brasil em diversos portos americanos. Em 1824, portanto, Silvestre Rebello, primeiro representante diplomático brasileiro nos Estados Unidos, nomeou vice-cônsules – em geral, comerciantes americanos – para as principais cidades portuárias dos EUA: Alexandria, Baltimore, Boston, Filadélfia, Nova York, New London, Providence, Norfolk, Wilmington, Charleston, Savannah e Nova Orleans. Para Nova York, foi nomeado como vice-cônsul Herman Bruen, homem de negócios americano.
Em 1826, o Governo dos Estados Unidos reconheceu Francisco Joaquim de Lima como Cônsul-Geral do Império do Brasil, residente em Filadélfia. O Cônsul-Geral detinha o poder de nomear e demitir vice-cônsules em sua jurisdição, que na época abrangia todo o território americano.
Manoel Guilherme dos Reis, seu sucessor imediato, também se instalou em Filadélfia, em 1832.
Com a abertura do Canal do Eire, em 1825, e o consequente surgimento de uma rota navegável ligando os Grandes Lagos e o interior à cidade de Nova York, por volta de 1840 o porto nova-iorquino já era o maior do país e superava, em movimento, o total combinado dos portos de Boston, Baltimore e Nova Orleans. Dada a ligação, à época, entre a atividade consular, o comércio e a navegação, era natural que o Cônsul-Geral do Brasil nos Estados Unidos passasse a residir em Nova York, onde se instalou Silvestre de Sousa Telles, sucessor de Guilherme dos Reis à frente do Consulado-Geral, ao assumir o Posto em abril de 1836.
Em 1841, foi incumbido do Consulado-Geral em Nova York Luiz Henrique Ferreira de Aguiar, que viria a ser formalmente nomeado Cônsul-Geral no ano seguinte. Exceto por um curto período entre 1852 e 1854, Aguiar ocupou o cargo até 1875, ano de sua morte, sendo a pessoa que por mais tempo exerceu a função de Cônsul-Geral do Brasil em Nova York, um total de trinta anos. Falecendo na cidade, foi sepultado no Calvary Cemetery, em Queens. Entre 1852 e 1854, o Posto foi chefiado por Antonino José de Miranda Falcão, fundador do jornal Diário de Pernambuco.
O Governo brasileiro criou, por decreto de 1875, uma segunda repartição consular de carreira nos EUA: o Consulado em Baltimore. Naquele ano, além deste e do Consulado-Geral em Nova York, havia vice-cônsules nomeados para os portos de Boston, Baltimore, Charleston, Norfolk, Nova Orleans, Nova York e Washington. Havia também um cônsul honorário em Filadélfia.
“Faço votos para que o senhor preste tão bons serviços ao Império, nessa República, quantos prestou à sua República no meu Império”.
Por decreto de 1891, foi criado um Consulado de carreira em Nova Orleans, que se somou ao Consulado em Baltimore e ao Consulado-Geral em Nova York. Nos EUA, havia também vice-cônsules em Boston, Brunswick, Calais, Califórnia, Charleston, Filadélfia, Nova Orleans, Richmond, St. Louis, Savannah, New Port News, Wilmington/DE, Wilmington/NC, Nova York e Baltimore (nestes dois últimos Postos, os vice-cônsules eram auxiliares do Cônsul-Geral e do Cônsul, respectivamente).
Entretanto, em 1895, o Governo brasileiro decidiu extinguir os Consulados em Baltimore e Nova Orleans, restando apenas o Consulado-Geral em Nova York como repartição consular de carreira nos EUA.
Em 1918, foram criados por decreto um Consulado-Geral em Nova Orleans, Consulados de carreira em St. Louis e São Francisco e um Vice-Consulado de carreira em Chicago. A partir de então, o quadro de jurisdições consulares brasileiras nos EUA evoluiria até o presente, com os atuais dez Consulados-Gerais em território americano.
Nos anos 1920, o Consulado-Geral em Nova York foi chefiado por Hélio Lobo, membro da Academia Brasileira de Letras, e, em seguida, por Sebastião Sampaio. Este último atuou junto ao mercado e ao público nova-iorquinos durante a crise do café e o crash da Bolsa, em 1929. Sampaio foi presidente da Society of Foreign Consuls in New York entre 1933 e 1934.
Entre 1927 e 1930, o escritor Monteiro Lobato trabalhou com Sampaio no Consulado-Geral.
O Cônsul-Geral Oscar Correia presidiu a Society of Foreign Consuls in New York entre 1943 e 1945.
Ao assumir em 1959 o cargo de Cônsul-Geral em Nova York, Dora Vasconcellos tornou-se a primeira mulher a chefiar o Posto. Poetisa com três livros publicados, Dora cultivou contatos em Nova York com personagens de relevo da música erudita, como Villa-Lobos, e promoveu ativamente a Bossa Nova nos EUA. Sua amizade com o maestro brasileiro levou-a a compor as letras das canções da suíte Floresta do Amazonas, cuja primeira gravação (1959), com a soprano Bidu Sayão, foi regida pelo próprio Villa-Lobos. A versão de Djavan para Melodia Sentimental, uma das canções, figura na trilha sonora do longa-metragem Deus é Brasileiro (2003) e da novela Cordel Encantado (2011). Dora presidiu a Society of Foreign Consuls in New York entre 1964 e 1965.
Ao longo do restante do século XX, o Consulado-Geral em Nova York acompanhou as demais repartições consulares do Brasil, cujo foco principal deixou de ser a supervisão do comércio e da navegação, para concentrar-se na assistência consular.
A imigração brasileira para os Estados Unidos, intensificada a partir da década de 1980, levou o Consulado-Geral a estabelecer mecanismos de diálogo e interação com as comunidades brasileiras fixadas em sua jurisdição. Para tanto, além do atendimento em sua sede e de outras iniciativas, o Posto organiza todos os anos cerca de 46 missões itinerantes a cidades de seu distrito, de modo a levar às comunidades brasileiras os serviços consulares de que necessitam.
O ataque às Torres Gêmeas, em 11/09/2001, exigiu a completa mobilização do Consulado-Geral em Nova York para receber as mais de 2.500 consultas de brasileiros em busca de amigos e parentes que se encontravam no distrito consular. O Posto desdobrou-se para atendê-las, além de prestar assistência a turistas brasileiros temporariamente retidos na cidade.
No século XXI, passados quase 200 anos de existência, o Consulado-Geral continua a atuar nas áreas de promoção comercial, divulgação cultural e da realidade brasileira, emissão de documentos e assistência consular, lidando com o desafio permanente de prestar, de modo rápido e eficiente, mais de 100.000 atendimentos por ano.
Endereços anteriores
Em Filadélfia, na altura de 1828, o Cônsul-Geral do Brasil despachava em 108 South Front Street (segundo algumas fontes, 107 South Front St.) e, por volta de 1833, em 23 Walnut Street.
Após sua transferência para a cidade de Nova York, o Consulado-Geral manteve-se, ao longo do século XIX e de quase toda a primeira metade do século XX, em edifícios localizados em Downtown Manhattan, perto dos escritórios de empresas de comércio e de navegação.
Na altura de 1837, o Cônsul-Geral Sousa Telles despachava em 355 Greenwich Street, endereço localizado entre a Harrison e a Franklin Sts., no bairro atualmente conhecido como Tribeca. Seu sucessor, Dionísio de Azevedo Peçanha, tinha seu escritório em 165 Front Street e, posteriormente, em 27 Cedar Street, endereços no que é hoje o Financial District, próximo à conhecida Wall Street.
Por volta de 1842, o Cônsul-Geral Ferreira de Aguiar despachava em 34 Platt Street. Nos anos seguintes, o Consulado-Geral do Brasil esteve sediado em 36 Platt Street (na altura de 1858), 13 Broadway (1864), 40 Broadway (1876), 71 Broadway (1879), 24 State Street (1887), 17 State Street (1899) e 17 Battery Place (1927), onde permaneceria até 1940; este último edifício, o Whitehall Building, ainda existe.
Em 1940, o Consulado-Geral mudou-se para 10 Rockefeller Plaza, no Rockefeller Center, em Midtown Manhattan. Ocupou escritórios no oitavo andar daquele edifício até a mudança para 630 Fifth Avenue, em 1955. Em 1974, o Posto transferiu-se do quinto para o 27º andar do prédio. Entre 1998 e 1999, esteve temporariamente instalado no segundo piso de 551 Fifth Avenue, passando em 1999 ao 21º andar de 1185 Avenue of the Americas, na esquina da Rua 46, a Little Brazil.
Em junho de 2013, o Consulado foi transferido para os atuais endereços em 220 East 42nd Street (administração, cooperação educacional, assuntos culturais, imprensa, promoção comercial) e em 225 East 41st Street (assuntos consulares e atendimento ao público).
Relação de Cônsules-Gerais
A lista a seguir compõe-se dos titulares do Consulado-Geral e não inclui interinidades ou encarregaturas.