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Palavras da Senhora Secretária-Geral na Cerimônia de Abertura do Curso sobre Diplomacia Amazônica para Jovens Diplomatas dos Países-membros da OTCA - 1º de agosto de 2023
Senhora Diretora do Instituto Rio Branco, Embaixadora Glivânia Oliveira
Senhora Secretária Geral da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), Maria Alexandra Moreira
Senhor Embaixador Extraordinário para a Mudança do Clima, Embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado
Senhora Secretária da América Latina e Caribe, Embaixadora Gisela Padovan
Senhoras e Senhores Embaixadores dos demais países amazônicos,
Senhoras e senhores membros do corpo diplomático,
Queridas alunas e queridos alunos,
É uma satisfação participar da abertura desta primeira edição do curso sobre diplomacia amazônica, promovido pelo Instituto Rio Branco, em parceria com a Agência Brasileira de Cooperação e a OTCA, e com apoio da Fundação Alexandre de Gusmão.
O desafio de refletir sobre a Amazônia e propor soluções para a promoção do desenvolvimento sustentável da região e das pessoas que nela vivem tem mobilizado os mais diversos segmentos das nossas sociedades. Nada mais natural e oportuno que tenhamos também um espaço para pensá-lo no âmbito da nossa atuação diplomática.
As questões amazônicas já estão presentes cotidianamente na interlocução que nossas chancelarias mantêm em instâncias bilaterais, regionais e multilaterais, sob diferentes enfoques. Trata-se de tópico sempre presente nas agendas dos nossos diálogos, debates e negociações sobre meio ambiente, direitos humanos, economia, inclusão social, segurança e cooperação Sul-Sul. A OTCA, em especial, tem propiciado uma rica troca de experiências, conhecimentos, boas práticas e lições aprendidas entre os oito países amazônicos. A Agência Brasileira de Cooperação também tem forte atuação nos países da região, inclusive em cooperação com a OTCA. Faltava, porém, incorporar essa temática às reflexões das nossas academias diplomáticas, de modo a consolidar as bases de uma diplomacia amazônica na formação dos nossos quadros. Este curso vem preencher essa lacuna.
Em maio deste ano, durante o seminário sobre o desenvolvimento sustentável da Amazônia realizado pelo Itamaraty com apoio da FUNAG, o Ministro Mauro Vieira instruiu-nos a enfatizar, de modo mais sistemático, a Amazônia como um tema central na política externa brasileira. Na ocasião, instou-nos a manter um olhar amazônico sobre diferentes áreas de nossa atuação.
Ao falar, em termos mais gerais, sobre a necessidade de a sociedade brasileira se educar sobre a Amazônia, recordou que essa educação precisa dar conta de todas as Amazônias: a da floresta, a da cidade, a dos saberes tradicionais, a da pesquisa e da inovação. A Amazônia cultural, digital e universitária.
A busca por mais conhecimento sobre a Amazônia passa, naturalmente, pelo diálogo com os outros países amazônicos. Aqui nesta sala hoje reunimos pessoas que nos trazem visões de muitas Amazônias: da Bolívia, do Peru, do Equador, da Colômbia, da Venezuela, da Guiana e do Suriname. Peço aos jovens diplomatas brasileiros que aproveitem estes dias com seus colegas dos outros sete países para começar a apreender a Amazônia em toda sua dimensão regional.
O curso também conta com a participação de representantes de outros Ministérios, como o dos Povos Indígenas, e de alunos da Universidade de Brasília, em uma parceria, que, esperamos, seja duradoura e sirva para aproximar, ainda mais, o Instituto Rio Branco da Academia e de outros órgãos federais, com forte atuação na região.
Nossa compreensão da Amazônia precisa dar conta dos desafios compartilhados com os outros países, das dinâmicas próprias de diferentes partes do bioma e da bacia hidrográfica, da dimensão transfronteiriça de problemas que nos afetam, e dos caminhos que já temos percorrido juntos com os nossos vizinhos para equacionar algumas questões. A Amazônia urge o fortalecimento da atuação conjunta dos nossos oito países.
O exercício de valorização das experiências comuns deve conter também uma orientação para o futuro. Poderá, assim, contribuir com elementos para o processo mais amplo de relançamento da cooperação amazônica atualmente em curso.
Como todos sabem, nossos países já vêm tratando, há alguns meses, da construção de uma nova agenda regional amazônica. O assunto foi objeto de importantes discussões, no início de julho, no Encontro Técnico-Científico da Amazônia, em Letícia, na Colômbia, promovido pelo governo colombiano. Deixo aqui registrado os agradecimentos brasileiros ao governo colombiano.
Esse processo de elaboração de uma nova agenda de cooperação regional culminará, dentro de poucos dias, em Belém, na Cúpula da Amazônia - a IV Reunião dos Presidentes dos países que são parte do Tratado de Cooperação Amazônica.
Nossos presidentes não se reuniam para tratar da Amazônia há quase quatorze anos. Em Belém, haverá dois dias de diálogo para conformar uma visão comum da região, além do lançamento de uma ambiciosa Declaração que orientará os esforços conjuntos nos próximos anos.
Precisaremos da energia, do entusiasmo e do compromisso de vocês para implementar os mandatos emanados da Cúpula, que devem impulsionar este novo ciclo de cooperação amazônica.
Caros alunos, caras alunas,
Há poucas semanas, o Embaixador Rubens Ricúpero, um dos idealizadores do Tratado de Cooperação Amazônica, esteve na sede da OTCA para participar das comemorações dos 45 anos da assinatura do Tratado.
Em sua intervenção, ele falou da experiência de visitar a Organização, da alegria de encontrar muitas das ideias do Tratado de Cooperação Amazônica transformadas em realidade.
O Embaixador Ricúpero comentou também a surpresa que sentia ao conhecer certas iniciativas. A cooperação amazônica tinha tomado rumos interessantes, que ele não havia imaginado. Nas suas palavras, os negociadores do Tratado haviam plantado uma semente que não sabiam que árvore ia dar.
Vou me deter um pouco sobre a feliz figura de linguagem empregada pelo Embaixador Ricúpero. Essa semente da diplomacia amazônica, plantada em 1978, quando nossos países firmaram o Tratado de Cooperação Amazônica, cresceu e se tornou uma árvore que já dá novas sementes. Cabe agora às nossas oito chancelarias cultivá-las para que se tornem um bosque.
Vocês, jovens diplomatas, pesquisadores e servidores de Ministérios que atuam na região amazônica serão parte dessa história. Certamente, farão muito pela Amazônia nas próximas décadas.
Que estas semanas de aulas, discussões, visitas de campo e viagem à Amazônia brasileira ajudem a motivar o interesse pessoal e profissional pela região, a criar massa crítica sobre possíveis soluções para desafios comuns e a fomentar os laços necessários para avançarmos juntos rumo à sustentabilidade da Amazônia.
Ao agradecer o Instituto Rio Branco pela organização do programa e a parceria da Agência Brasileira de Cooperação, da OTCA e da FUNAG para sua execução, manifesto meu mais sincero desejo de que Primeira Edição do Curso sobre Diplomacia Amazônica seja um sucesso. Que ele se torne uma tradição compartilhada entre as academias diplomáticas da região e uma referência internacional nas reflexões sobre os desafios comuns e as alternativas possíveis para o futuro da Amazônia.
Muito obrigada.