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Discurso da Senhora Secretária-Geral das Relações Exteriores, Embaixadora Maria Laura da Rocha, por ocasião de cerimônia no MRE alusiva aos 115 anos do início no Brasil da imigração japonesa - Brasília, 14 de junho de 2023
Senhora Presidente da Fundação Alexandre de Gusmão, Embaixadora Marcia Loureiro,
Senhor Embaixador do Japão, HAYASHI Teiji,
Senhor Presidente da Agência de Cooperação Internacional do Japão, TANAKA Akihiko,
Senhor Presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Japão, Deputado Luiz Nishimori, por meio de quem cumprimento os demais Parlamentares aqui presentes,
Senhor Secretário de Ásia e Pacífico, Embaixador Eduardo Saboia,
Senhoras e Senhores,
É uma grande alegria participar desta celebração em que comemoramos 115 anos do início da imigração japonesa no Brasil.
Relembramos hoje o desembarque no Porto de Santos de 165 famílias pioneiras que atravessaram o mundo para fazer de nosso país sua nova casa e contribuir para a formação da sociedade brasileira por meio de muito trabalho e aporte de múltiplas inovações.
Homenageamos, assim, a coragem, a esperança e o esforço dos 781 primeiros imigrantes japoneses chegados ao nosso país, e também dos mais de 160 mil imigrantes nipônicos que ao longo das décadas seguintes vieram construir uma nova vida em solo brasileiro.
Se, ao chegarem ao Brasil, os pioneiros encontraram emprego nas lavouras de café, em pouco tempo alguns desses trabalhadores, e sobretudo seus descendentes, passaram a exercer atividades adicionais, revolucionaram diversos setores e ganharam influência crescente em vários campos.
Hoje, o Brasil se orgulha de ter em sua população a maior comunidade nipodescendente fora do Japão, constituída por mais de 2 milhões de brasileiros nikkei. Essa numerosa comunidade está presente nos mais variados segmentos da sociedade e alguns de nossos convidados aqui presentes simbolizam esse percurso. Os nipodescendentes são, inquestionavelmente, parte da identidade nacional brasileira.
Desejo ressaltar a importância da mulher nikkei na construção de nosso país. As mulheres exerceram e exercem papel essencial no cultivo dos hábitos e transmissão da cultura e ancestralidade nipônica e em sua integração à nossa sociedade, junto ao exercício de atividades profissionais de enorme importância. Grandes artistas como Tomie Ohtake, cujas obras compõem o acervo de nosso Palácio, do Instituto Rio Branco e de diversas embaixadas brasileiras no exterior; cineastas como Tizuka Yamasaki; empreendedoras tais como Chieko Aoki; além de médicas, pesquisadoras, atrizes, escritoras, chefs de alta gastronomia, e também servidoras de diferentes carreiras do serviço público brasileiro.
Como não poderia deixar de ser, também no Itamaraty valemo-nos da competência de dezenas de servidores de ascendência nipônica, algumas e alguns dos quais estão igualmente aqui conosco. Aproveitamos a comemoração dos 115 anos da imigração japonesa para promover o lançamento do livro, de autoria do pesquisador Willians de Castilho, em memória do Embaixador Edmundo Sussumu Fujita, meu querido amigo e o primeiro diplomata nipo-brasileiro.
Há 20 anos, a FUNAG publicava “O Brasil e a Ásia no século XXI: ao Encontro de Novos Horizontes”, antologia organizada pelo Embaixador Fujita em que se descortinava sua notável capacidade de análise diplomática, que pautou igualmente os textos que escreveu sobre o diálogo do Brasil com o continente asiático. Esperamos que o livro “Edmundo Sussumu Fujita – o primeiro nipo-brasileiro no Itamaraty”, possibilite as novas gerações conhecerem um pouco mais da trajetória desse profissional de querida lembrança e brilhante carreira na diplomacia brasileira.
Agradeço a presença de sua esposa, Maria Ligaya Fujita, que nos prestigia neste evento e a quem faço uma saudação fraterna e especial, extensível a todos os demais membros da família Fujita aqui presentes.
Senhoras e senhores,
O valor da contribuição dos imigrantes japoneses e seus descendentes para o desenvolvimento do Brasil é incalculável.
O documentário que será lançado em alguns instantes, “Brasil-Japão: uma antologia de memórias”, produzido pela FUNAG com o cineasta Hugo Katsuo, foi idealizado para ressaltar os laços de amizade construídos por décadas de migrações e celebrar as muitas conquistas em diversos setores e a integração bem-sucedida dos imigrantes japoneses e seus descendentes no Brasil.
Esses laços foram fundamentais para o ingresso de investimentos produtivos de empresas japonesas em nosso país, bem como para o êxito de iniciativas de cooperação técnica empreendidas pelo Japão no Brasil, além das atividades conjuntas dos dois países em favor de nações de menor desenvolvimento relativo.
Não podemos deixar de ressaltar, ainda, a presença da comunidade brasileira no Japão, hoje constituída por mais de 200 mil pessoas, nossa quinta maior comunidade no mundo e a maior não asiática naquele país.
O governo brasileiro atribui a mais elevada importância à integração produtiva desse expressivo contingente, com atenção a suas necessidades e mantendo contato muito próximo com o governo japonês, ao qual agradeço pela constante colaboração. Faço também referência ao importante papel dos Parlamentares nipo-brasileiros e seus homólogos japoneses nessa área de mútuo interesse.
A comunidade nipo-brasileira tanto no Brasil como no Japão atua, de forma crescente, como uma ponte para a interação mais fluida entre os dois países. A promoção da nossa agenda bilateral tem sido fortalecida, ademais, pelo aumento dos contatos políticos e empresariais entre Brasil e Japão. Há menos de um mês, o Presidente Lula manteve longa reunião com o Primeiro-Ministro Kishida à margem da Cúpula do G7, à qual foi convidado pelo Governo japonês. Desse encontro resultaram importantes avanços, tais como o anúncio de que o Japão daria início aos procedimentos para a isenção de visto de curta duração para brasileiros e o apoio japonês à realização da Conferência do Clima no Brasil em 2025.
Também por ocasião da visita a Hiroshima, o Ministro Mauro Vieira se reuniu com o Chanceler Yoshimasa Hayashi. Em 2023, os Chefes de Governo já mantiveram contato direto em duas ocasiões, e os Ministros das Relações Exteriores por três vezes.
Os 115 anos de uma história tão bem-sucedida em dois continentes demonstram o quanto a amizade entre nossos países pode gerar grandes frutos para o futuro. Que essa trajetória continue a nos inspirar para construirmos uma relação bilateral cada vez mais robusta e diversificada, e que Brasil e Japão sigam colhendo os frutos materiais, culturais e sociais da integração entre nossos povos.
Muito obrigada!