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Discurso da Secretária-Geral, Embaixadora Maria Laura da Rocha, na Assembleia de Fundação da Associação das Mulheres Diplomatas Brasileiras (AMDB) - Brasília, 16 de janeiro de 2023
Senhor Ministro de Estado,
Queridas colegas,
Hoje é um dia de alegria para nós, mulheres diplomatas, no Itamaraty. Com satisfação aceitei o convite para participar, como primeira mulher Secretária-Geral das Relações Exteriores, da Assembleia de fundação da Associação das Mulheres Diplomatas Brasileiras.
Ocupar este cargo é uma grande honra e responsabilidade. Uma honra pelo especial reconhecimento de minha trajetória profissional e, por que não dizer, pela representatividade que a função me confere em relação a tantas colegas que trabalham com competência e dedicação em prol dos interesses do Brasil. Responsabilidade, em particular, pela missão que tocará também à Secretaria-geral de contribuir para o desenvolvimento e a implantação de uma política de gênero no Ministério.
As mulheres diplomatas da minha geração são quase sempre pioneiras, tal como eu, mas nem todas têm tido o reconhecimento que merecem, apesar das qualidades que nunca lhes faltaram. Devemos pensar como podemos trabalhar para eliminar a desigualdade de gênero na nossa instituição.
Reconhecemos que o aumento da representatividade feminina tanto em termos numéricos quanto em postos de liderança na carreira vem ocorrendo paulatinamente, ao longo das últimas décadas, com avanços e recuos. Esse processo, contudo, tem-se mostrado insuficiente. É preciso embasá-lo com políticas institucionais.
Pensemos em como mudar métodos, práticas e hábitos arraigados de trabalho, com o devido enfoque de gênero, de modo a favorecer a participação de mulheres na carreira e em cargos de comando.
Reflitamos sobre como estimular uma cultura institucional mais favorável às mulheres e como envolver também os colegas homens nesse objetivo. E como atrair mais mulheres para a carreira diplomática, a fim de tornar nosso percentual de representação mais próximo à composição da população brasileira.
Não há respostas fáceis, mas há respostas possíveis, e estamos dispostas a buscar soluções em consulta com as associações de classe. Em particular, contaremos com a Associação das Mulheres Diplomatas Brasileiras - AMDB, com a Associação dos Diplomatas Brasileiros - ADB e com o Grupo de Mulheres Diplomatas, esse coletivo informal que foi a força motriz de tantas ações em prol da equidade de gênero no Itamaraty, que originou também o processo que culmina hoje com a criação desta Associação.
A Secretaria-Geral estará de portas abertas para receber sugestões e trabalhar em conjunto, a fim de buscar soluções que possam contribuir para alcançar a almejada paridade de gênero no Itamaraty.
Pretendemos criar canais de diálogo sobre gênero, raça, pessoas com deficiência e pessoas idosas no Ministério. Para tanto, tendo como ponto de partida o trabalho e lições aprendidas com a experiência do Comitê Gestor de Gênero e Raça no Ministério, extinto em 2020, pretendemos estabelecer comitês específicos para tratar das questões de gênero e raça, com enfoque interseccional. As mulheres não são um grupo homogêneo e uma mulher negra, ou uma mulher indígena, por exemplo, enfrentará desafios diferentes daqueles enfrentados por suas colegas de etnia diversa, assim como aquelas com deficiência, pessoas LGBTQIA+ ou idosas. Levando em consideração essa diversidade, buscaremos promover medidas de inclusão com vistas à formação de um Itamaraty mais representativo e plural.
Ademais da questão relativa à representatividade numérica na carreira, pensemos na busca da paridade de gênero no Itamaraty como um processo em construção, que envolve pilares fundamentais relativos à ascensão e participação de mulheres em posições-chave de tomada de decisão, a um ambiente de trabalho livre de discriminação e violência de gênero e a uma política de gênero transversal, a ser implementada nas diversas áreas do Ministério.
O tema da progressão funcional das mulheres não poderá prescindir de ações para normalizar o fluxo de carreira, em particular no que se refere aos limites de idade e de tempo de classe do Quadro Especial.
No universo de 1557 diplomatas brasileiros, apenas 23,2% são mulheres. Sabemos que a representatividade feminina diminui conforme a carreira avança. No topo da carreira, entre ministros de primeira classe, há apenas 19,6% de mulheres. Merece destaque, ainda, o elevado número de mulheres diplomatas que encerram a carreira como conselheiras.
Comprometo-me a trabalhar, em conjunto com a Secretaria de Gestão Administrativa, para que tenhamos dados desagregados por gênero e relatório periódico com a distribuição das mulheres diplomatas por cargo e função, posto e nível na carreira, com comparação gráfica em relação a anos anteriores. Um dos desafios que afeta o exame desse tema diz respeito à necessidade de ampliar a informação para o aperfeiçoamento de nossa atuação. Acompanharemos esse tema em coordenação estreita com o Gabinete do Ministro de Estado, que está atento às questões de gênero no Ministério.
Em reconhecimento às colegas que nos antecederam, abriram caminhos e contribuíram para que pudéssemos trilhar nossas trajetórias profissionais, não poderia deixar de prestar especial homenagem a Maria José de Castro Rebello Mendes, pioneira, primeira mulher a ingressar no Itamaraty, em 1918, e à minha amiga Mônica Menezes de Campos. Fiquei feliz em saber da criação de mentoria em seu nome, com o objetivo de orientar gratuitamente mulheres e homens negros que queiram entrar para a carreira diplomática.
A memória dessas duas extraordinárias colegas segue viva e continuará a inspirar-nos a desafiar e superar os estereótipos que dificultam o acesso à carreira.
Sigamos juntas trabalhando por um Itamaraty mais igualitário e representativo.
Meus votos de trabalho frutífero e muitos êxitos à nova associação.
Muito obrigada a todas e parabéns pela fundação da AMDB!