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Entrevista coletiva do presidente Lula após reunião bilateral com o Emir do Catar
Jornalista: Eu queria saber como foi o encontro com o Emir, sobre o que vocês falaram, porque há poucas informações sobre isso pra gente.
Presidente Lula: Primeiro, o encontro foi importante por duas razões. Primeiro, porque o Brasil voltou a participar da geopolítica mundial e o Catar é um parceiro importante. É só importante lembrar que quando eu vim aqui a primeira vez, nós tínhamos uma relação comercial de 36 milhões de dólares. E agora já está em 1,6 bilhão, com potencial de muito investimento do Catar, sobretudo na questão de novas pesquisas, a exploração de petróleo, no reflorestamento do país, a manutenção de uma agricultura de baixo carbono. Eles têm muito interesse, sobretudo nesse instante que o Brasil está fazendo uma transição energética muito forte e eu acho que eles vão ter muito interesse.
A segunda coisa, de agradecimento ao Catar, porque o Catar teve um papel importante para a liberação dos brasileiros que estavam na Faixa de Gaza. Ainda tem mais brasileiros lá ainda. Na liberação de um refém que ainda pode ser liberado por esses dias. E eu vim agradecer a ele. E daqui nós vamos para a COP discutir a preservação da Floresta Amazônica e ver se os países ricos estão dispostos, efetivamente, a fazer os investimentos para os países que têm floresta manterem suas florestas em pé e o povo tomando café, almoçando e jantando todo dia, porque embaixo de cada copa de árvore mora um cidadão brasileiro.
Jornalista: Esse financiamento é o mais difícil de todos? Desses US$ 100 bilhões simplesmente virarem realidade?
Presidente Lula: Nós estamos propondo a criação de um fundo permanente. Para você manter o planeta habitável e todo mundo vivendo confortavelmente bem, não é apenas dar ajuda para não desmatar. É fazer com que se mantenha a floresta em pé para sempre e que se tente reflorestar aqueles lugares que não têm mais floresta. No caso do Brasil, nós temos mais de 40 milhões de hectares de terras degradadas que poderemos recuperar. Não apenas para plantar comida, mas para poder reflorestar com aquela madeira que a gente quiser.
Então, nós estamos com um vasto programa. Muito grande programa de energia verde e renovável. Nós estamos com um vasto programa de recuperação dessas terras degradadas. E eu acho que a discussão que vai se dar na COP ainda pode não ser decisiva, mas eu acho que nós vamos ter que mudar o jogo para que as pessoas aprendam que o planeta não está brincando. O planeta está avisando: cuidem de mim porque senão são vocês que vão perder. E o ser humano não pode continuar sendo irracional. Ele não pode ser o único animal vivo a destruir o seu habitat natural.
Ou seja, é a única espécie que mata sem fome. É a única espécie que rouba sem precisar e a única espécie que destrói a cama que dorme. Precisa se reeducar e o humanismo precisa voltar a prevalecer nas nossas decisões.
Jornalista: Esses US$ 100 bilhões que já deveriam ser investidos ao ano, desde 2020, pelos países ricos. O senhor tem cobrado muito. O senhor acredita que é possível chegar a um acordo pra isso?
Presidente Lula: Eu não acredito. Eu, sinceramente, acho que é preciso ter, primeiro é preciso que as lideranças políticas do mundo tomem decisões mais corajosas e mais rápidas. Nós precisamos ter uma governança global para ajudar a cuidar do planeta. Porque se você tomou uma decisão qualquer em benefício do mundo e ela tiver que ser votada internamente pelo seu Congresso Nacional significa que ninguém vai cumprir.
Vamos pegar, até hoje os Estados Unidos não cumpriu o Protocolo de Kyoto. O Acordo de Paris não foi cumprido quase em lugar nenhum do mundo. Então, se os governantes democratas querem continuar sendo acreditados pelo povo, é preciso que a gente comece a fazer as coisas que as pessoas estão achando que nós devemos fazer. Não dá para brincar. A gente está vendo enchente onde antigamente não tinha. A gente está vendo seca onde antigamente não existia. A gente está vendo furacão, a gente está vendo coisas acontecendo no planeta que não era esperado acontecer há dez anos atrás. E agora está acontecendo real.
É só ver o que está acontecendo no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. É só ver o que está acontecendo no Amazonas. Você imagina o Rio Tapajós vazio. Um rio que tem lugar que tem até 32 metros de largura vazio. Então significa que o planeta está alerta e está nos avisando: se cuidem, porque senão eu paro de cuidar de vocês.