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Conversa do presidente Lula e do ministro Mauro Vieira com a imprensa na partida da COP28
Ministro Mauro Vieira — Bom dia a todos. Queria dizer, em nome do presidente, que o presidente Lula está encerrando hoje, então, a participação nesse segmento de alto nível, no segmento de chefes de Estado da participação brasileira na 28ª Conferência dos Estados-Partes do Acordo Quadro de mudança Climática da ONU.
Os trabalhos da COP continuarão ainda pelos próximos 10 dias, só se encerrarão no dia 12, ao longo desse tempo haverá negociações de vários temas, acordos e ajustes importantes a serem feitos até o dia 12. Nós, é importante dizer que a participação do presidente Lula nessa 28ª COP representa a volta do Brasil a um dos símbolos da volta do Brasil ao mundo e a volta também da... do que se fazia no passado, nos governos dele, da presidente Dilma, de se credenciar, além da delegação governamental, também a sociedade civil na discussão da COP.
É importante dizer também que o presidente Lula teve uma participação no ato de abertura da COP, junto com o presidente dos Emirados Árabes, o Sheikh Mohammed, o secretário-geral da ONU, o rei Carlos, da Inglaterra, e o presidente Lula. Essa individualização de quatro oradores mostra o papel relevante que o Brasil tem tido, liderando pelo exemplo em todas as iniciativas de combate à mudança climática e preservação ambiental.
O presidente Lula participou também de vários outros eventos ao longo desses dois dias. Ele participou dessa abertura que eu já falei, depois fez um pronunciamento importante também, um discurso de muita substância no segmento de alto nível, e no dia de ontem ele participou da cúpula do G77 e China e também do evento sobre "Florestas: protegendo a natureza, para o clima, vida e subsistência". Além disso, o presidente teve também uma série de encontros bilaterais com outros chefes de Estado. Ele se reuniu com o primeiro-ministro do Reino Unido, ele se reuniu com o secretário-geral da ONU, com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e também com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez.
No segundo dia, ele se encontrou com o presidente de Cuba, Miguel Días-Canel, com o presidente da França, Emmanuel Macron, e o presidente da União Africana, Moussa Faki, que trouxe ao presidente um convite para que ele participe da próxima Assembleia Geral da União Africana, que se realizará em Addis Abeba, na Etiópia, em fevereiro do próximo ano, em torno dos dias 17 e 18.
O presidente também participou do lançamento da iniciativa "Florestas Tropicais Sempre" e do lançamento do "Programa de Transformação Ecológica". É importante dizer também que a COP 28 é um importante marco no processo do acordo de Paris. Quando vai haver uma avaliação, agora, que será completada na COP 30, que se realiza em Belém do Pará — a candidatura de Belém foi proposta pelo presidente Lula ainda ano passado, na COP 27 — quando nesse momento os países deverão apresentar suas novas contribuições nacionalmente determinadas para justamente reduzir a emissão de gases de efeito estufa.
O Brasil já anunciou, o presidente já anunciou a mudança, a revisão dessas metas passando de 37% para 48%, em 2025, e de 50% a 53% até 2030. Portanto, é importante dizer também que o presidente destacou ao longo do seu pronunciamento que é importante proteger com justiça a floresta, promovendo o desenvolvimento sustentável, a criação de empregos e protegendo, sobretudo, os habitantes desse bioma amazônico, em que mais de 40 milhões de pessoas vivem nos oito países membros do Tratado de Cooperação Amazônica.
Isso tudo também é uma consequência, é um resultado da Cúpula da Amazônia, organizada no Brasil, por iniciativa do presidente, no mês de agosto último, em que estiveram presentes os oito chefes de estado dos países amazônicos. Com isso, presidente, dei uma ideia geral do que aconteceu nesses dois dias e da importância da sua presença com uma delegação, com um conjunto, a participação do Brasil se refletiu através de uma importante participação do Governo Federal, da sociedade civil e do empresariado. É uma ação conjunta dessas três grandes unidades da sociedade brasileira na COP.
Presidente Lula — Uma coisa que eu queria lembrar a vocês é o seguinte: ontem, no encontro com o movimento social brasileiro, eu alertei as pessoas para que ninguém fique imaginando que vai ser possível em algum lugar repetir uma COP como essa com, sabe, o luxo, a riqueza das coisas, ou seja, a importância. Não é possível fazer isso em outro país do mundo, eu não sei. A não ser que seja em outro país árabe, quem sabe no principado de Mônaco, ou sei lá aonde. Mas nós vamos fazer uma COP com a cara do Brasil, com o povo brasileiro, num estado amazônico que vai ser a grande novidade.
Eu disse ontem que se a gente não tiver o palácio que tem aqui para a gente fazer uma reunião, a gente pode fazer embaixo de uma copa de uma árvore e discutir os assuntos do mesmo jeito, ou fazer em uma canoa no igarapé. Essa vai ser a nossa COP no Brasil em 2025. Mas dizer para vocês que eu volto agora para Alemanha, e depois para o Rio de Janeiro, para reunir o Mercosul, eu volto muito feliz. Muito feliz porque nós estamos saindo de um encontro internacional que a cada ano que passa ganha mais envergadura, ganha mais responsabilidade, e ganha mais representatividade.
O Brasil é um país que ninguém hoje, no planeta, pode discutir a questão do clima sem levar em conta a existência do nosso país, sem levar em conta a nossa experiência, e sem levar em conta o que vai acontecer no Brasil nessa questão da transição energética. Eu tenho dito que não existirá nenhum país do mundo em condições de oferecer ao planeta a quantidade e as variáveis de opção de energia limpa que o Brasil pode oferecer. É uma coisa impressionante.
Nós achamos que é uma oportunidade que o Brasil está tendo no século 21 de fazer uma revolução econômica a partir da chamada "bioeconomia", a chamada "economia verde", a chamada "renovação energética" que o mundo está passando. E foi isso que nós vimos mostrar aqui. Vocês viram ontem que eu me emocionei na questão da floresta. Todo mundo fala da Amazônia.
Há 30 anos atrás tinha gente que comprava terra na Amazônia. Um tempo desse eu conversei com uma jornalista, ela me disse que ela era criança quando o pai dela pediu para ela comprar um pedaço de terra na Amazônia. Então, todo mundo fala da Amazônia. Então ontem, nessa COP, foi a primeira vez que a floresta amazônica e outras florestas falaram o que querem, como querem e pra que querem.
Daí porque é a minha emoção. Até porque eu estava falando da Amazônia, eu sou de Pernambuco, com uma ministra que nasceu na Amazônia, que foi seringueira no estado do Acre, que se alfabetizou aos 16 anos e que, portanto, ela era a que tinha que falar. Ou seja, foi um gesto de reconhecimento e de mostrar ao mundo que o Brasil está levando essa questão muito a sério. Muito a sério.
Ou seja, nós queremos convencer. Nós não queremos brigar. Nós queremos convencer as pessoas que investem em agricultura, as pessoas que investem em indústria de imóveis, as pessoas que investem na criação de gado. Nós queremos mostrar que é plenamente possível a gente manter a floresta intacta e a gente ter terra pra gente plantar o que quiser. Com o avanço da genética, com o avanço da engenharia, a gente pode produzir muito mais na mesma quantidade de hectares se a gente discutir o melhoramento da terra.
Nós estamos agora com um programa muito sério, que é a recuperação de quase 40 milhões de hectares de terras degradadas. Isso é praticamente quase o que nós temos hoje de plantado, portanto, a gente vai poder dobrar a produção do que a gente quiser sem mexer em nenhum bioma nosso. Nós precisamos manter a Caatinga, nós vamos manter o Cerrado, manter a Mata Atlântica, manter o Pantanal, manter a Amazônia, tudo, tudo, tudo, tudo, sabe, intocável. Sem precisar mexer, preservando, porque aí é que está a riqueza dessa combinação, sabe, de melhorar a qualidade da vida das pessoas que estão lá.
As pessoas que estão lá, na verdade, são os principais homens e mulheres, guardiãs da manutenção dos nossos biomas, e nós temos que fazer disso não um santuário, nós temos que fazer disso um modelo de desenvolvimento, porque as pessoas que destruíram o planeta, as pessoas que mais emitiram gás de efeito estufa ao longo de todo o processo da industrialização do mundo têm uma conta para pagar com a humanidade. Não é a partir de agora, é a partir do passado, e, portanto, nós vamos transformar a preservação numa fonte de recursos constantes, não é apenas o financiamento para não desmatar. Ao não desmatar temos que cuidar e ao olhar para uma copa de uma árvore nós temos que lembrar a riqueza da biodiversidade e nós temos que ligar que lá embaixo tem um indígena, tem um pescador, tem um seringueiro, tem um ribeirinho, tem um pequeno trabalhador rural. Então, essa gente faz parte da biodiversidade do nosso planeta e da Amazônia.
Então, é isso que nós viemos falar aqui. Eu saio daqui muito satisfeito. Inclusive, o maior presente que a minha delegação leva ao embarcar para Berlim é o carinho com que nós fomos tratados, o respeito com que todos os governantes de todos os países nos trataram e eu saio daqui com a certeza de que nós vamos chegar na COP30 altamente preparados. Possivelmente seja a maior COP já realizada em todos os tempos porque vai ser na Amazônia. Eu sinto a expectativa de muita gente querer ir para a Amazônia, quer conhecer a Amazônia, ver a riqueza, a beleza da Amazônia. Eu acho que a gente então vai ter um outro patamar nas discussões da COP.
Vocês viram o meu discurso inicial, era tentando mostrar que nós temos que fazer uma combinação da questão ambiental com a mudança governamental, porque é preciso que a gente tome decisões e essas decisões sejam implementadas. Os países ricos muitas vezes acham que o problema é só dinheiro, então para qualquer coisa eles oferecem dinheiro. Mas não é só dinheiro. Eles também têm responsabilidade de diminuir as emissões de gás de efeito de estufa.
Todo mundo sabe que uma pessoa que trabalha numa sala com ar-condicionado e que depois sai no seu carrão para ir para casa, todo mundo sabe que ele emite mais gás de efeito de estufa do que centenas de pobres que moram na periferia, que não andam de carro, sabe? Então é esse mundo que tem que ser compreendido. Nós temos que tentar diminuir o pensamento da individualidade, tentar mostrar a necessidade de pensar coletivamente, porque é um mundo só. Não tem dois planetas, não descobriram vida na lua, não descobriram em Marte, não descobriram em Plutão, não descobriram em nenhum outro planeta. Então, nós temos que cuidar de nós mesmos aqui. Então, essa é a riqueza desse encontro. O Brasil acho que está com a maior delegação de todos os países, muita gente do movimento social, muita gente de ONGs. Eu acho isso extraordinário.
Eu saio daqui muito satisfeito, muito realizado, com muito mais responsabilidade, porque a partir de agora até 2025 é um passo. Parece que está longe, mas quando a gente tem mais responsabilidade o tempo passa muito mais rápido e aí nós vamos ter que trabalhar muito. Então, eu quero agradecer inclusive a cobertura de vocês e quero que vocês continuem cobrindo isso, porque a informação que vocês passarem para a sociedade vai ajudar ela a pensar melhor ou pensar pior. Eu acho que nós temos que passar mensagens construtivas daquilo que nós queremos que o mundo seja daqui para frente.
Pergunta — Bom dia, presidente. Presidente, não é contraditório? Ontem o senhor confirmou que a gente vai entrar na OPEP+. A gente participando numa COP, falando justamente da diminuição de combustíveis fósseis e o Brasil anunciando numa COP que a gente vai entrar na OPEP+?
Presidente Lula — Primeiro, o nome é tão chique que só por ser chique o Brasil deveria entrar. A "OPEP Plus"... Poderia ser observador. O observador ele vai para ouvir e vai para dar palpite. E por que é importante o Brasil participar? O Brasil é observador do G7. Eu sou convidado, desde que eu ganhei o primeiro ano de 2003 eu sou convidado. Eu sou observador. Nós convidamos para o Mercosul observadores. Nós convidamos para o G20 observadores. Nós convidamos para os BRICS observadores. As pessoas que vão muitas vezes até podem falar, mas não tem poder nenhum de decisão. O que nós queremos? É verdade que nós precisamos diminuir o combustível fóssil. Mas é verdade que nós precisamos criar alternativa. Então, antes de você acabar, por sectarismo, você precisa oferecer à humanidade a opção. E a nossa participação na OPEP Plus é para a gente discutir com a OPEP a necessidade dos países que têm petróleo e que são ricos começar a investir um pouco do seu dinheiro para ajudar os países pobres do continente africano, da América Latina, da Ásia a investir em combustíveis fósseis... eles podem financiar. Eles podem financiar o etanol, podem financiar o biodiesel, podem financiar a eólica, podem financiar solar, podem financiar hidrogênio verde. Esse é o nosso papel.
Ontem eu estava dizendo para a companheira Marina. Quando eu fui entrar no sindicato, em 1969, os meus companheiros que pertenciam ao Partido Comunista Brasileiro diziam assim para mim: ô Lula, você não pode entrar no sindicalismo. O sindicato é pelego. Você não vai conseguir mudar nada, você vai virar pelego. E o que aconteceu? Nós mudamos a cara do sindicato e do sindicalismo brasileiro. Em 78 nasceu o novo sindicalismo brasileiro. Eu acho que é participando desse fórum que a gente vai convencer as pessoas que uma parte dos recursos ganho com o petróleo deve ser investido para a gente ir anulando o petróleo, criando alternativas. É isso que nós vamos fazer. É isso. É muito importante. Não tem nenhuma contradição. O Brasil não será membro efetivo da OPEP nunca, porque nós não queremos. O que nós queremos é influir.
Pergunta — Presidente, bom dia. Presidente, o Jean-Paul Prates anunciou ontem que a Petrobras está criando uma subsidiaria aqui no Oriente Médio, a Petrobras-Arábia. Eu queria saber do senhor qual a importância estratégica dessa subsidiária para o Brasil e também nesse momento em que se fala de descarbonização? Porque a Petrobras-Arábia vai investir em petróleo, né?
Presidente Lula — Olha, primeiro você deve fazer essa pergunta para o Jean-Paul Prates. Você deve fazer a pergunta para ele, porque eu não fui informado de que a gente vai criar uma Petrobras aqui. Como a cabeça dele é muito fértil e ele pensa numa velocidade de Fórmula 1 e eu funciono numa velocidade de Volkswagen, eu preciso aprender o que é isso que ele vai fazer. Se a Petrobras tem algum investimento para fazer aqui, eu não sei no quê. Mas a Petrobras não vai deixar de prospectar petróleo. É importante lembrar isso. Porque o combustível fóssil ainda vai funcionar durante muito tempo na economia mundial.
Enquanto ele funcionar, nós vamos conseguir pegar petróleo, nós vamos melhorar a qualidade da gasolina. É importante vocês lembrarem que não é de hoje. A gasolina brasileira já tem 27% de etanol misturado a ela. Já não é poluente como as outras. O nosso diesel já tem 12% de biodiesel. Quando a gente fala de combustível no Brasil, vocês têm que lembrar que nós estamos um passo à frente dos outros. Então, o nosso petróleo já tem uma mistura. Eu descobri recentemente que o empresário brasileiro comprou 100 caminhões novos na Saab Scania e esses 100 caminhões novos vão utilizar 100% de biodiesel. Essa é uma novidade que a indústria automobilística europeia não falava para nós. Eles diziam 'não, só pode usar B12, B11, porque senão corrói o motor' e a Scania vendeu 100 caminhões 0 km que vão utilizar 100% de biodiesel.
Então, eu vou conversar com a indústria automobilística europeia. Por que eles dizem que corrói? Certamente porque eles querem vender o modelo de caminhões deles, que cada vez que eles fazem o modelo que eles chamam de Euro 4, Euro 5, cada vez que eles aumentam a queda, aumenta 20% dos caminhões no Brasil. Então, o Brasil não precisa seguir o modelo, o padrão deles, porque nós temos um combustível diferente. Nós temos uma mistura mais saudável, menos poluente.
E, portanto, nós vamos utilizar esse potencial que o Brasil tem. Agora, a Petrobras, enquanto empresa, ela vai ter que fazer o que precisar fazer para ela poder se transformar numa grande empresa e ajudar o Brasil a crescer. Mas, ao mesmo tempo, a Petrobras vai se transformar numa empresa não de petróleo apenas, uma empresa, sabe, que vai cuidar da energia como um todo.
Pergunta — E a Arábia, o senhor vai conversar com ele?
Presidente Lula — Eu vou conversar com ele. Você me deu uma bela informação.
Secretário José Chrispiniano — Pessoal, só tem mais uma pergunta porque o slot do avião a gente tem pouco tempo.
Presidente Lula — Aqui também tem slot. Se eu não embarcar, eu não desço lá.
Pergunta — Presidente, a fala do presidente Emmanuel Macron ontem indica que o acordo com a União Europeia não será fechado durante a presidência brasileira do Mercosul e o senhor acabou não se reunindo com o presidente da Guiana. Como é que está a intermediação desse esse conflito? O senhor tem temor de que ele se escale?
Presidente Lula — Primeiro, a posição do nosso companheiro presidente da França é conhecida historicamente. A França sempre foi o país que criou o obstáculo no acordo do Mercosul com a União Europeia, porque a França tem milhares de pequenos produtores e eles querem produzir os seus produtos. É isso. Agora, o que eles não sabem é que nós também temos 4 milhões e 600 mil pequenas propriedades, até 100 hectares, que produzem quase 90% do alimento que nós comemos e que são alimento de qualidade e que nós também queremos vender.
Eles têm que saber que nós também temos indústrias, que nós queremos crescer, e que nós não vamos facilitar as compras governamentais porque nós queremos que a nossa indústria cresça. Então a posição do Macron já era conhecida por mim. Ontem, eu fiz uma reunião com o Macron para tentar mexer com o coração dele. Eu falei: ‘Macron, quando você voltar para a França, abre o seu coração, cara. Pensa um pouco na América do Sul, pensa no Mercosul. Nós somos países pobres, temos países pequenos. Bom, me parece que ele não pensou. Ele não deu nem tempo para o coração dele, porque ele já foi comunicar vocês.
Mas nós vamos ter uma reunião do Mercosul no dia 7. No dia 6, nós vamos ter uma reunião com os ministros do Mercosul. Eu estou pedindo para o Celso Amorim ir na frente e fazer uma reunião com o movimento social brasileiro, porque também os sindicatos, os pequenos produtores, também me parece que não estão gostando da proposta feita. Se não tiver acordo, paciência. Não foi por falta de vontade.
A única coisa que tem que ficar claro é que não digam mais que é por conta do Brasil. E que não digam mais que é por conta da América do Sul. Assumam a responsabilidade de que os países ricos não querem fazer um acordo na perspectiva de fazer qualquer concessão. É sempre ganhar mais. E nós não somos mais colonizados. Nós somos independentes. E nós queremos ser tratados apenas com respeito de países independentes, que temos coisas para vender e as coisas que nós temos para vender tem preço. O que nós queremos é um certo equilíbrio.
Então, eu acho que nós vamos ter uma conversa. Eu tive uma grande conversa com a Ursula von der Leyen, que é a presidenta da Comissão Europeia, e vamos ver como é que vai acontecer na sexta-feira. Se eu não der acordo, pelo menos vai ficar patenteado de quem é a culpa de não ter acordo. Agora, o que a gente não vai fazer é um acordo para tomar prejuízo.
Pergunta — Eu a Guiana, presidente?
Presidente Lula — A Guiana eu conversei por telefone com o presidente da Guiana já duas vezes. O Celso já foi à Venezuela conversar com o Maduro. Teve um referendo, acho que é hoje o referendo, mas obviamente que o referendo vai dar o que o Maduro quer, porque é um chamamento ao povo para aumentar aquilo que ele entende que seja o território dele. Ele não acata um acordo que o Brasil já acatou, porque não só a decisão de 1887, como a decisão de 1965, em que houve um acordo, houve um tratado, que o Brasil aceitou. E eles agora estão dizendo que não aceitam. Então, vamos ver o que vai dar.
Eu acho que só tem uma coisa que o mundo não está precisando. Só tem uma coisa que a América do Sul não está precisando agora é de confusão. Se tem uma coisa que nós precisamos para crescer e para melhorar a vida do nosso povo é a gente "baixar o facho", trabalhar com muita disposição de melhorar a vida do povo, e não ficar pensando em briga. Não ficar inventando história. Então, eu espero que o bom senso prevaleça. Do lado da Venezuela e do lado da Guiana.
Pergunta — Você tem medo de uma guerra aqui no continente? Pode chegar nesse ponto?
Presidente Lula — Quem é que não tem medo de guerra, cara? Eu toda vez que vejo uma coisa daquela explodindo na Faixa de Gaza eu fico imaginando se fosse na minha cabeça. É uma contradição a gente fazer um encontro dessa magnitude para discutir a diminuição de emissão de gás de efeito estufa e os caras jogando bomba. É uma contradição. Então eu acho que a humanidade deveria ter medo de guerra. A humanidade! Porque só faz guerra quando falta o bom senso. Quando o poder da palavra se exauriu por fragilidade dos conversadores. Eu acredito muito nisso. Vale mais a pena uma conversa do que uma guerra.
Um abraço, gente. Obrigado.