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Discurso em jantar em homenagem ao Presidente do Suriname, Ramsewak Shankar - Brasília, 9 de agosto de 1989
Senhor Presidente, Minha mulher e eu estamos muitos felizes em receber Vossa Excelência e a Senhora Shankar nesta visita oficial, que tanto nos honra. Guardamos a mais grata recordação da hospitalidade e da simpatia com que fomos acolhidos, em março último, durante nossa estada em vosso belo país.
Forjamos então um relacionamento pessoal extremamente fecundo. Muito me beneficiei das lúcidas apreciações de Vossa Excelência sobre temas de nosso interesse comum. Nosso entendimento bem reflete o excelente estado das relações de toda ordem que felizmente unem o Brasil e o Suriname. Meu desejo é que Vossa Excelência e a Senhora Shankar, assim como os ilustres integrantes da comitiva que os acompanha, sintam-se recebidos no Brasil com o mesmo carinho, a mesma fidalguia e a mesma generosidade de que fui cercado no Suriname.
O sentimento mútuo de amizade entre brasileiros e surinamenses resulta dos inúmeros fatores de convergência que aproximam os nossos países. Brasil e Suriname formaram suas nacionalidades com base no convívio entre etnias diversas, o que lhes possibilitou uma experiência cultural enriquecedora e uma acentuada vocação universalista. Partilhamos também desafios e aspirações comuns. Juntos enfrentamos os desafios dos imensos espaços amazônicos. Travamos solidários — em meio a tantas dificuldades — a luta pelo nosso desenvolvimento econômico e social. O Suriname é um país jovem, que inicia a passos firmes a sua vida independente. Temos acompanhado no Brasil, com fraterno interesse, os notáveis avanços registrados na evolução institucional de seu país. Estamos, brasileiros e surinamenses, irmanados pela convicção de que a solidez de nossas instituições democráticas constitui fator essencial para o exercício das liberdades fundamentais de nossos povos. Sem liberdade não há como construir sociedades estáveis, justas e igualitárias, em que cada qual possa desenvolver suas potencialidades, em prol do bem-estar e do progresso de todos.
Estamos igualmente unidos na luta pela cooperação regional, mediante o estreitamento permanente dos vínculos que unem os países do Continente. Fazemos ambos do respeito invariável às normas da boa-vizinhança um dos pilares de nossa atuação externa. O perfeito entendimento e a cooperação entre vizinhos constituem condição indispensável para a realização da obra maior de integração regional, que ressalta entre as prioridades de nossos Governos.
Assim como os demais países da região, temos enfrentado tempos difíceis, marcados por uma conjuntura econômica internacional injusta e adversa às nações em desenvolvimento. Aos sinais que apontam para maior distensão na cena mundial, não têm correspondido avanços nas relações Norte-Sul. Nossos países seguem penalizados pelo peso insuportável da dívida externa, pela queda dos preços internacionais das matérias-primas, pelo protecionismo e por medidas unilaterais impostas por países industrializados. Crescentes barreiras se antepõem ao nosso acesso aos conhecimentos e às tecnologias de ponta, dificultando a plena participação de nossos países nas grandes transformações em curso no mundo. A pretexto de preservar a natureza — e são nossos países os mais interessados em protegê-la e aproveitá-la racionalmente — procuram ditarnos regras e impor-nos condicionalidades injustificadas, freqüentemente resultantes de um conhecimento imperfeito de nossas realidades ou de motivações inconfessáveis. São desafios que exigem de nós respostas precisas e seguras para que possamos preservar o exercício de nossas soberanias, tão penosamente obtidas, e para evitar que se amplie o fosso que nos separa dos países ricos. Nessa tarefa, dependemos essencialmente de nós mesmos. A era das grandes ajudas acabou e, com ela, a presunção de que podemos contar com recursos de fora. Nosso futuro estará em função do que pudermos construir solidariamente em nosso espaço regional.
É preciso seguir pois estimulando a coordenação entre nossos países, juntar as nossas capacidades empreendedoras, os nossos recursos, as nossas imaginações criadoras. E ousar! Não faremos nada se não formos capazes de ousar. É preciso criar novos hábitos de contatos entre nossos Governos, nossos empresários, nossas sociedades. São tantos e potencialmente tão ricos os interesses que nos vinculam que não tenho dúvidas em prever um futuro de grandes realizações para nossos países. Sei que o Governo de Vossa Excelência tem na integração uma das mais importantes vertentes da sua política externa. Esteja seguro de que o Brasil, por sua parte, seguirá fazendo o que estiver a seu alcance para a consecução desse objetivo, que vem ao encontro do desejo de todo Continente.
O trabalho de integração regional começa pelo fortalecimento dos vínculos bilaterais que nos aproximam. Conscientes disso, Brasil e Suriname temos sabido construir um relacionamento exemplar, cujo alcance se estende hoje pelos mais distintos setores. Sua presença entre nós eleva a uma dimensão nova o processo de aproximação que se iniciou com a ida da Missão Especial chefiada pelo Chanceler Abreu Sodré, em janeiro de 1988, às cerimônias de posse do Governo liderado por Vossa Excelência. Desde então, numerosos e profícuos vêm sendo os contatos entre autoridades brasileiras e surinamenses, com vistas ao aprimoramento da cooperação bilateral.
Durante minha visita ao Suriname, sistematizamos, no «Programa de Trabalho de Paramaribo», as iniciativas bilaterais de curto e médio prazos em que ora estamos empenhados. A estada de Vossa Excelência em Brasília hoje testemunha o alto grau de maturidade que atinge o relacionamento bilateral, amparado numa moldura institucional que se renova e aperfeiçoa constantemente. Esteja Vossa Excelência seguro de que conta e contará sempre com o Brasil. Não mediremos esforços para cooperar com o Suriname e forjar uma relação sólida, duradoura e mutuamente vantajosa. Estamos permanentemente abertos ao diálogo e à cooperação. Queremos ter ao nosso lado um Suriname próspero e estável. Queremos que as nossas fronteiras sejam linhas de aproximação e convivência fraterna. Queremos crescer juntos! É pois com grande prazer que convido todos os presentes a comigo se unirem num brinde à prosperidade do Suriname, ao bem-estar do seu nobre e valoroso povo e à saúde e felicidade pessoais de Vossa Excelência e da Senhora Shankar.
(Texto reproduzido em conformidade com o acordo ortográfico vigente à época de sua publicação original)