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Discurso em jantar oferecido ao Presidente Bill Clinton, dos Estados Unidos da América - Brasília, 13 de outubro de 1997
Senhor Presidente; Senhora Hillary Clinton; Senhoras e Senhores, Nós estamos reunidos nesta noite pare celebrar a renovação da amizade entre o Brasil e os Estados Unidos da América. Nós o recebemos com o interesse que naturalmente desperta a visita do líder de uma grande Nação, do representante de um povo amigo com o qual compartilhamos valores fundamentais e pontos de vista convergentes em inúmeras questões e desafips destes tempos modernos. E também o recebemos como Chefe de Estado do nosso maior parceiro económico, cuja presença no se^or externo da nossa economia continua a crescer, graças à multiplicação de oportunidades comerciais e de investimentos que o Brasil tem oferecido aos seus sócios. Ficamos muito satisfeitos de que venha não só à capital do Brasil, mas também a São Paulo e ao Rio de Janeiro. Assim poderá ter uma visão mais completa do que é o Brasil da democracia consolidada, da cidadania forte, da transparência no manejo do património público, da estabilidade, das reformas, da abertura e do crescimento.
ão há nada que substitua, nas relações entre os Estados, o conhecimento direto, o testemunho pessoal, o contato com a gente do país. Mormente no caso do povo brasileiro, que sempre recebe de braços abertos e desarmados os homens públicos que o buscam. Por isso, a sua visita vem acrescentar um elemento fundamental à relação positiva que o Brasil e os Estados Unidos vêm construindo há décadas e que ganhou rumos novos em nossos Governos. Mais de dois anos se passaram desde a minha visita de Estado a Washington. Nesse tempo, com grande atenção da opinião pública, acompanhamos o êxito com que frutificou boa parte daquilo que nos propusemos realizar naquele reinicio solene, mas entusiasmado, da grande parceria brasileiro-americana. Estamos prontos, agora, a dar mais um passo na história das relações entre o Brasil e os Estados Unidos. Da cooperação inovadora que estamos começando a desenvolver na área da educação às discussões para a criação de uma área de livre comércio nas Américas, objetivo ambicioso que compartilhamos, nossa agenda se pauta por propósitos comuns, sem deixar de oferecer um amplo espaço para que se expressem as nossas fortes individualidades, nossos interesses legítimos. Muitas vezes esses interesses não coincidem inteiramente, ou são mesmo concorrentes.
Mas, hoje, podemos lidar com essa realidade melhor do que jamais na história das nossas relações. É muito apropriado que os Presidentes possam simbolizar, com mais este encontro, a excelência das relações entre os seus dois países. Que possam comemorar as realizações conjuntas e renovar o compromisso com novas conquistas e iniciativas, com o mesmo espírito de confiança que deve presidir uma relação madura entre dois grandes países continentais. Que possam reafimar, para os seus povos e para os povos do nosso Hemisfério e de todo o mundo, a noção central de que o Brasil e os Estados Unidos, juntos, ajudam a construir uma história de liberdade, de respeito mútuo, de desenvolvimento e de paz no Novo Mundo.
Fomos aliados em duas guerras mundiais e, na paz, parceiros ao longo de cem anos da "aliança não-escrita" forjada por lideranças do porte de Rio Branco, Joaquim Nabuco, Franklin Roosevelt, Cordell Hull e Osvaldo Aranha. Por isso, temos uma vocação particular para a amizade, o entendimento, o intercâmbio e a cooperação. Por isso, somos capazes de falar a mesma linguagem, para concordar ou discordar, não importa, mas para nos entendermos sempre. A iniciativa conjunta na área da educação, que lançaremos nesta visita, é um símbolo de como, juntos, podemos realizar projetos de indiscutível impacto no desenvolvimento social brasileiro e nas relações entre os dois países. O Presidente Clinton e eu vamos conversar detidamente sobre a nossa agenda, sobre nossas muitas convergências e sobre alguns problemas que enfrentamos em questões tópicas de comércio. Desta visita ficará seguramente: o compromisso de continuarmos a trabalhar por relações muito produtivas e dinâmicas entre os Estados Unidos e o Brasil. E de prosseguirmos nas consultas amplas e francas que têm orientado a nossa participação em empreendimentos regionais e internacionais da maior relevância, como a Alça, a reforma das Nações Unidas e a consolidação da Organização Mundial de Comércio. Neste sentido, Senhor Presidente, é hora de recordar que o instante que vivemos - da globalização da economia - aproxima as nações. Por isso, buscando inspiração na Revolução Americana, que assegurou na Constituição os direitos, as fronteiras e a autonomia dos estados que se federavam, cabe a nos defender e assegurar o direito das nações. De cada nação, da mais poderosa à mais fraca, da mais rica à mais pobre. Só assim seremos herdeiros do espírito de liberdade e de democracia que nos une nos mesmos valores.
Até agora, o direito internacional baseia-se principalmente em processos de acomodação de interesses setoriais, expressos em pactos e contratos. Chegou o momento de evoluirmos, na ordem internacional, para uma configuração baseada em consensos amplos - uma verdadeira constituição -, que assegure às nações, aos povos, sua diversidade ultural, suas fronteiras, sua soberania. A nova ordem global não pode ser imposta, mas compartilhada; não deve ser espoliadora, mas promotora do bem-estar da humanidade. É este o desafio, Senhor Presidente, seu, meu e de cada um responsável pelo destino de nossas nações. Eu espero que o Presidente Clinton possa levar uma imagem ampla e precisa sobre o Brasil e que a sua presença entre nós contribua para uma compreensão ainda maior entre os dois países. Vamos trabalhar juntos, com a certeza de que a amizade entre os Estados Unidos e o Brasil é um fator de entendimento na nossa região e de progresso para os nossos povos. Que a hospitalidade brasileira seja a nossa melhor forma de saudá-lo.
Seja bem-vindo, Presidente.