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Discurso do presidente Lula durante o Fórum Empresarial Brasil - Chile
Vocês, empresários brasileiros e chilenos, sabem que a integração com seus vizinhos voltou a ser prioridade para o Brasil.
Essa certeza gera confiança para negociar e investir.
Esta visita de Estado ao Chile representa a renovação de uma parceria fundamental para o futuro da América do Sul.
Cumpri uma agenda intensa e muito produtiva de encontros oficiais.
Trouxe comigo uma comitiva de 14 ministros, e outros tantos altos funcionários de agências governamentais.
Assinamos 19 acordos, muitos com impacto direto nas nossas relações econômico-comerciais.
Quando há bom diálogo político entre os países, o comércio e os investimentos florescem, gerando renda, emprego e inovação.
A expressiva participação de empresários e empresárias neste evento reflete a força do empreendedorismo latino-americano e da potência econômico-comercial de nossos países.
No ano passado, o Brasil foi o terceiro maior sócio comercial do Chile no mundo. E o Chile foi o sexto destino das exportações brasileiras.
O intercâmbio bilateral aproximou-se de 13 bilhões de dólares, quase cinco vezes o que registramos há 20 anos (2,7 bilhões).
É um montante superior ao comércio do Brasil com a França ou com a Itália e o dobro do fluxo com o Reino Unido.
O Brasil já é o maior destino dos investimentos chilenos no mundo e o maior investidor latino-americano no Chile.
Contamos com empresas chilenas com presença importante em mineração, geração elétrica e serviços aéreos.
Mas ainda é pouco.
Estamos falando de duas economias vizinhas, modernas, robustas e estáveis.
Com responsabilidade fiscal e compromisso com a redução das desigualdades, o Brasil caminha para ser a oitava economia mundial em 2024.
O Chile foi o país convidado para participar do maior número de grupos de trabalho no âmbito da presidência brasileira do G20.
Não é por acaso.
O Chile é fundamental para discutir agricultura, transições energéticas, turismo, finanças sustentáveis e trabalho.
Temos um Acordo de Facilitação de Comércio em vigor, que garante segurança jurídica e procedimentos simplificados para fomentar fluxos de bens, serviços e investimentos.
Em 2023, avançamos com o estabelecimento de sistema de habilitação prévia para exportação na área agrícola.
Este ano, elaboramos um manual conjunto de compras públicas, que ampliará a possibilidade de participação nas licitações de lado a lado.
Hoje, assinamos mais um instrumento para eliminar barreiras técnicas: o protocolo de reconhecimento mútuo de produtos orgânicos.
O Brasil trabalhará para que possamos contar com convergência regulatória em cosméticos e ampliemos o reconhecimento mútuo de indicações geográficas.
As commodities minerais e agrícolas têm historicamente desempenhado um importante papel em nossas economias.
Mas sem agregar tecnologia e valor à produção e sem diversificar a pauta comercial, não nos desenvolveremos plenamente.
O Chile já é o principal mercado para os ônibus produzidos no Brasil.
Espero ver, em breve, ônibus elétricos brasileiros circulando em Santiago e aeronaves da EMBRAER cruzando os Andes para aproximar nossas sociedades.
Brasil e Chile estão bem posicionados para tornar a transição energética uma grande oportunidade de industrialização.
Somos os dois países mais inovadores da América Latina, segundo a Organização Mundial de Propriedade Intelectual.
Associar a riqueza mineral a sólidos investimentos em ciência, tecnologia e inovação será central para uma transição justa.
O Brasil já possui a matriz energética mais limpa entre os grandes países do mundo e tem investido em alternativas para setores de difícil descarbonização, como a aviação e o transporte marítimo.
O Chile sozinho detém cerca de 40% das reservas mundiais de lítio, enquanto o Brasil possui terras raras, nióbio, cobalto, entre outros minerais estratégicos.
Nossos países abrigam dois biomas chave para a humanidade no contexto da crise climática: a Amazônia e a Antártica.
Unidos, temos tudo para fazer da América do Sul o centro da sustentabilidade global.
Em Belém, na COP-30, vamos mostrar ao mundo todo o potencial de nossa região, ao aliar o manejo responsável de riquezas naturais com metas ambiciosas de transição para economias de baixo carbono.
Os empresários chilenos terão no Programa de Aceleração do Crescimento e no Programa Nova Indústria Brasil excelentes oportunidades para participar de grandes projetos de infraestrutura e sustentabilidade.
A nova política industrial brasileira vai aumentar a complementaridade com vizinhos sul-americanos e tornar as cadeias de produção regional mais densas e resilientes.
A cooperação em temas de defesa também deve ser um vetor para nosso desenvolvimento comum, muito além do aspecto comercial.
Queremos construir parcerias industriais no campo aeroespacial e naval.
Submarinos da classe “Riachuelo”, construídos no Complexo Naval de Itaguaí, podem contribuir para a defesa das extensas fronteiras marítimas chilenas.
E produtos de defesa fabricados pela Empresa Nacional de Aeronáutica do Chile certamente são do interesse do Brasil.
Senhoras e senhores,
O desenvolvimento de infraestruturas comuns é a base para um continente mais próspero, unido e interconectado.
O novo PAC contempla duas rotas de integração com o Chile.
A rota de Capricórnio interligará o estado do Mato Grosso do Sul a Paraguai, Argentina e Chile, dando acesso aos portos de Iquique e Antofagasta e à hidrovia do rio da Prata.
A expectativa é que já esteja em operação no primeiro semestre do ano que vem.
O corredor Porto Alegre-Coquimbo interligará o estado do Rio Grande do Sul a Uruguai, Argentina e Chile.
O Chile pode ser a porta de saída de produtos brasileiros para o Pacífico. E o Brasil pode cumprir o mesmo papel para o acesso das exportações chilenas ao continente africano.
A conclusão desses corredores permitirá uma economia de, no mínimo, mil dólares para cada contêiner exportado para a Ásia-Pacífico, bem como a redução no tempo de transporte de mercadorias em, pelo menos, quinze dias.
A integração física é complementada pela crescente conectividade aérea.
É extraordinário que hoje tenhamos mais frequências de voos para o Chile do que para qualquer capital europeia.
Isso se reflete em mais turismo, mais investimentos e mais renda e emprego.
No ano passado, o fluxo total entre os dois países alcançou quase um milhão de viajantes.
O Chile foi a 3o maior origem de turistas para o Brasil e somos a 2a maior fonte de visitantes ao Chile.
Juntamente com outros países do Mercosul, lançamos, em janeiro, a iniciativa “Visite a América do Sul” para atrair turistas de outras partes do mundo interessados em conhecer nossa região.
O setor privado é e será um dos protagonistas das relações Brasil-Chile.
Nossa parceria é mais do que uma escolha. É uma política de Estado que se sobrepõe a fatores conjunturais e mudanças circunstanciais.
O sucesso deste encontro confirma o consenso em torno de um projeto de integração que garantirá um futuro próspero, mais justo e sustentável para todos.
Muito obrigado.