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Declaração do presidente Lula à imprensa durante visita do primeiro-ministro do Japão - 3 de maio de 2024
Bem, eu quero começar essa entrevista pedindo licença ao primeiro-ministro japonês, ao nosso visitante ilustre Fumio Kishida, para falar um pouco do Brasil e dizer para a imprensa o seguinte.
As primeiras palavras do ministro Fumio Kishida na reunião que fizemos foi de solidariedade ao povo do estado do Rio Grande do Sul, que está sendo vítima de uma das maiores enchentes que nós temos conhecimento.
Nunca antes na história do Brasil tinha havido uma quantidade de chuva num único local. Só para se ter uma ideia, primeiro-ministro, já são 235 municípios que estão afetados pela corrente da água e pela chuva. Metade do estado.
Já tem 35 óbitos, 74 pessoas desaparecidas, e as pontes do Rio Guaíba, quem é brasileiro conhece o que é o Rio Guaíba, já estão a uma altura de 4 metros e meio. Elas foram interditadas porque a água já ocupou todas as pontes.
Todo mundo sabe que eu estive em Porto Alegre ontem, a gente não conseguia enxergar quase que um palmo à frente do nariz. Era muita chuva e muita névoa, muita neblina, mas nós fomos com vários ministros, não só prestar solidariedade, mas nós fomos assumir o compromisso público de que o Governo Federal não deixará faltar nenhum apoio para que a gente possa recuperar os estragos que essa chuva está causando no estado.
A única coisa que a gente não pode recuperar são as vidas, sabe, que foram perdidas, mas também nós queremos daqui transmitir aos familiares a nossa solidariedade, ao povo gaúcho a nossa solidariedade, e voltar a afirmar ao governador do Estado que o governo brasileiro, o Governo Federal e seus 37 ministros estaremos à disposição para tentar ajudar o estado do Rio Grande do Sul.
Por isso, primeiro-ministro, muito obrigado pela sua solidariedade e eu tenho certeza que no Rio Grande do Sul também mora uma quantidade razoável de descendentes de japoneses.
Bem, essa visita do primeiro-ministro Fumio Kishida é uma visita importante. O Japão tem tanta gente no Brasil que o ministro não pode ficar muito tempo sem visitar o Brasil. Não são todas as cidades japonesas que tem a quantidade de habitantes japoneses que tem aqui no Brasil.
Então, acho que todo primeiro-ministro japonês, todo, quando ganhar as eleições, ele tem que fazer a visita no Japão, tem que visitar alguns países, mas o Brasil é o país que mais tem imigrantes japoneses. A maior cidade depois do Japão é o Brasil.
Então, os ministros japoneses precisam, de vez em quando, vir visitar o Brasil. Da mesma forma, os empresários japoneses. Os empresários japoneses, sobretudo aqueles que querem fazer investimentos em novas tecnologias, que querem fazer investimentos, sabe, nessa coisa nova chamada inteligência artificial, que querem fazer investimentos nessa nova indústria de dados.
O Brasil é um país que oferece todas as possibilidades na construção de parceria entre empresários brasileiros e empresários japoneses. Eu digo todo dia, primeiro-ministro, que para nós, brasileiros, o comércio bom não é só aquele que você só vende e que você não compra nada. O comércio bom é aquele que é uma via de duas mãos. Você vende e você compra, e que esse comércio tenha um certo equilíbrio para que os dois países se sintam confortáveis, sabe, com a sua política de relação comercial.
Eu disse ao primeiro-ministro Fumio aqui, o problema é que nós já tivemos, entre Brasil e Japão, uma relação comercial, um fluxo na balança comercial de quase US$ 18 bilhões, e hoje caiu para US$ 11 bilhões.
É pouco para um país que é a terceira economia do mundo, para um país que vai ser a oitava economia do mundo, é pouco pela quantidade de habitantes que têm o Japão, é pouco pela quantidade de habitantes que tem o Brasil, e é pouco pela população que tem poder de compra para consumir as coisas boas produzidas nos nossos países.
Eu lembro, eu não queria perder a oportunidade de contar essa pequena história aqui. O primeiro-ministro japonês que eu recebi era o primeiro-ministro Koizumi (Junichiro Koizumi). E o Brasil estava tentando vender frutas há 28 anos para o Japão. E o Japão não comprava frutas brasileiras por causa do preconceito contra a chamada mosca do fruto.
E na hora do almoço, eu preparei uma bandeja de mangas, as mais bonitas que tinham sido produzidas na safra brasileira, para colocar entre eu e o primeiro-ministro japonês. E também mandei preparar uma bandeja de manga já cortada, pronta para comer.
E aí o primeiro-ministro Koizumi ficou admirando a beleza das mangas, o tamanho das mangas, sabe? Estava muito entusiasmado. Aí eu falei: "Primeiro-ministro, experimenta um pedaço de manga." E ele então pegou o garfo, pegou um pedaço de manga, colocou na boca, mastigou, falou: "Muito boa".
Eu falei: "Pois é, primeiro-ministro, é muito boa, mas nós estamos há 28 anos tentando exportar para o Japão e vocês não compram nossa manga aqui. Vocês vão comprar na Malásia, sei lá onde, mas aqui vocês não compram".
O que eu sei é que quatro ou cinco meses depois, nós exportamos a primeira carga de frutas para o Japão e muitas mangas que saíram do aeroporto de Petrolina, em Pernambuco, para exportar para o Japão.
E é assim que a gente vai fazendo as coisas acontecerem. Ninguém ama o que não conhece. Ninguém gosta do que nunca experimentou. E muitas vezes nós fazemos muito preconceito um contra os outros sem que a gente se conheça.
Então essa visita do primeiro-ministro Fumio Kishida ao Brasil, com um grupo de empresários, que vai amanhã a São Paulo conversar com os empresários em São Paulo, que vai ao Ibirapuera ter um encontro com a comunidade japonesa.
E eu pedi para ele ir ao bairro da Liberdade para conhecer o Japão dentro do Brasil. Vá a um restaurante na Liberdade para comer a melhor comida japonesa no Brasil, feita por japoneses, descendentes de japoneses no Brasil. Porque são dois milhões e setecentos mil, sabe, entre japoneses e descendentes de japoneses aqui no Brasil. É muita coisa. E nós temos duzentos e onze mil brasileiros no Japão, aproximadamente, ou duzentos e treze.
Então, essa reunião de hoje, para mim, é muito gratificante. Primeiro porque eu comecei agradecendo ao primeiro-ministro que me convidou para o G7 em Hiroshima. Eu confesso que eu tinha vontade de conhecer Hiroshima, conheci Hiroshima, visitei o túmulo em homenagem aos povos que morreram em Hiroshima, e pude participar de uma reunião muito importante em Hiroshima.
E também eu comecei agradecendo ao primeiro-ministro porque o Japão tomou uma atitude extraordinária que o Japão aboliu a exigência de vistos de brasileiro para viajar para o Japão. Significa que o brasileiro agora pode viajar para o Japão, conhecer o Japão, conhecer as ilhas do Japão, conhecer o povo japonês, ver como esse país é desenvolvido.
E eu acho que foi um avanço extraordinário na relação Brasil-Japão que vamos completar 130 anos de relações diplomáticas, 130 anos. O primeiro-ministro me convidou para ir ao Japão em 2025. Em 2025, a gente completa uma parceria estratégica que a gente faz e vai ter o Ano da Cultura Brasil-Japão.
Eu disse ao primeiro-ministro: "Tudo bem, eu já aceitei ir ao Japão em 2025". Não vou levar você, Alckmin, porque a gente não pode viajar junto, e eu espero que a gente faça uma grande festa no Japão, entre a comunidade japonesa e a comunidade brasileira, pra gente selar definitivamente essa parceria estratégica.
O Brasil não quer que o Japão fique vendo o Brasil como se fosse um país menor, como se fosse um país pobre, como se fosse... Não, o Japão tem que enxergar o Brasil do tamanho que ele é. O Brasil é um país grande, não apenas do ponto de vista territorial, não apenas do ponto de vista fronteiriço, não apenas do ponto de vista da sua floresta, não apenas do ponto de vista da sua riqueza de minerais.
O Brasil é um país grande porque o Brasil tem um povo extremamente trabalhador e um povo generoso. Eu, sem falta de respeito a nenhum país, eu acho que existe pouca gente no mundo com alegria e com despojamento do povo brasileiro. Por isso é importante o Japão adotar o Brasil como parceiro preferencial, como parceiro estratégico. Pra gente vender mais, a gente comprar mais.
Eu, por exemplo, acho que... Eu não sei o que vocês jantaram ontem à noite, mas, pelo amor de Deus, se estiverem em São Paulo… Alckmin, você vai estar lá. Você foi governador daquele estado, você é o ministro de desenvolvimento, você é o vice-presidente. Por favor, leve o primeiro-ministro Fumio pra comer um churrasco no melhor restaurante de São Paulo, para que na semana seguinte ele comece a importar nossa carne, para poder gerar mais desenvolvimento.
A nossa carne é de qualidade e é mais barata do que a carne que vocês compram. Eu nem sei o preço, mas tenho certeza que a nossa é mais barata. E qualidade extrema. Esse ministro da Agricultura (Carlos Fávaro) faz um churrasco que, se o primeiro-ministro comesse, não iria querer voltar pro Japão.
Então, eu estou muito gratificado com essa reunião. Quero dizer aos empresários japoneses que estão aqui que esse país resolveu ser grande, o Brasil resolveu ser desenvolvido, o Brasil quer sair do grupo de países em vias de desenvolvimento. Nós queremos nos transformar num país altamente desenvolvido, nós queremos estar entre as seis maiores economias do mundo, nós temos estabilidade jurídica, nós temos estabilidade fiscal, nós temos estabilidade econômica, nós temos estabilidade social, e a gente tem uma coisa sagrada que é previsibilidade.
Aqui, a gente não faz nada nas caladas da noite. Aqui, todo mundo sabe o que a gente vai fazer, porque o nosso compromisso, agora que não somos mais um país do terceiro mundo, agora que não somos mais um país em vias de desenvolvimento, agora, orgulhosamente, primeiro-ministro, nós somos um país do Sul global. Isso dá um status maior ao Brasil, porque os países que antes estavam em desenvolvimento começaram a crescer, gostaram de crescer, o povo está gostando de ganhar mais, o povo está gostando de trabalhar mais, o povo está gostando de ter acesso aos bens materiais que ele produz.
Eu lembro que eu era presidente da República quando surgiu a questão da TV digital. Tinha o modelo americano, tinha o modelo japonês e tinha o modelo europeu. Aqui na América do Sul, quase todos os países estavam adotando o modelo europeu. E o Brasil resolveu adotar o modelo japonês. E eu conversei com todos os presidentes, do Chávez (Hugo Chávez, ex-presidente da Venezuela) ao Kirchner (Néstor Kirchner, ex-presidente da Argentina), mostrando a importância de adotar o modelo japonês. Que o Japão viria a montar aqui na América do Sul e no Brasil uma fábrica de semicondutores. Tudo isso foi mostrado.
Ainda não aconteceu a fábrica de semicondutores. Mas como eu estou vivo e sou jovem, eu acredito que os empresários japoneses haverão de saber que não se pode perder o mercado como brasileiro e a influência que o mercado brasileiro tem em outros mercados. Porque, para nós, no Brasil não adianta crescer sozinho. A gente não quer ser rico cercado de pobres. A gente quer que todo mundo cresça, sabe, igual.
A gente quer que os países vizinhos do Brasil se desenvolvam. A gente quer que todo mundo cresça e tenha oportunidade. E agora que o mundo está atônito discutindo a questão do clima. Que o mundo está se dando conta de que ou a gente cuida do planeta ou ele não cuida mais de nós, as pessoas estão percebendo que a discussão sobre o aquecimento global é uma coisa mais séria do que uma coisa teórica, a América do Sul se apresenta como um lugar de ouro para investimento, para discussão da transição energética, para discussão da transição climática e para produzir a energia limpa que se queira produzir.
Por isso eu queria que os empresários japoneses que vieram ao Brasil pensassem. Quando estiverem pensando em fazer algum investimento, olhem para o mapa do mundo e falem: "É o Brasil que eu vou fazer investimento, porque é lá que o japonês ficou, é lá que o japonês encostou, é lá que o japonês está morando e é lá que nós temos quase 3 milhões de habitantes".
E aí nós ficaremos agradecidos. Vamos começar a investir no Japão. Os nossos empresários vão crescer. E tudo vai melhorar entre Japão e Brasil. É com essas palavras que eu quero agradecer a visita do Japão nesse dia muito importante para nós.
Primeiro-ministro, muito obrigado. Tenha certeza que você levará do Brasil o que nós temos de melhor, que é muito, mas muito amor no coração para distribuir com todos os irmãos do planeta Terra.
Muito obrigado, querido.