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Investindo no B do BRIC (CartaCapital, 3/1/2009)
Quando tomei posse no primeiro mandato em 2003, prometi acabar com a fome em meu país. Sob a bandeira do Fome Zero, coloquei a erradicação da Pobreza e a redução da desigualdade em primeiro plano na ação do governo. Estava convencido de que, sem lidar diretamente com estes dois males, seria impossível superar séculos de atraso econômico e agitação política.
Após quase seis anos, muito progresso foi feito. O número dos muito pobres no Brasil se reduziu à metade. A classe média está agora em maioria, 52% da população.
Não há motivo para complacência. Muitos brasileiros ainda são incapazes de se sustentar com dignidade. Contudo, a resposta da sociedade brasileira para,eliminar a privação social e econômica é uma indicação das profundas mudanças pelas quais o País está passando. O Brasil nunca esteve em melhor posição para enfrentar os desafios adiante e está totalmente ciente de suas crescentes responsabilidades globais.
Uma agenda global
Os programas de etanol e biodiesel do Brasil são um marco de referência para as fontes de combustíveis alternativos e renováveis. As parcerias estabe1ecidas com países em desenvolvimento buscam reproduzir as conquistas do Brasil, especialmente a redução de 675 milhões de toneladas na emissão de gases de efeito estufa, o 1 milhão de novos empregos criados e a drástica redução na dependência de combustíveis fósseis importados, procedentes de um número perigosamente pequeno de países produtores. Tudo isso se consumou sem comprometer a segurança alimentar, que, ao contrário, foi beneficiada com a crescente produção agrícola.
A escassez de alimentos ameaça prejudicar nossas conquistas na redução da pobreza mundial. O Brasil esta expandindo a produção agrícola e reforça a posição como o segundo maior exportador de alimentos do mundo. Ao mesmo tempo, o ritmo de desmatamento na Amazônia se reduziu à metade, uma indicação de que a agroindústria moderna do Brasil não representa ameaça à floresta tropical.
A reprodução na América Latina e na África de muitas iniciativas sociais brasileiras, incluindo o Fome Zero e os programas para HIV-Aids, é uma prova de que as Metas de Desenvolvimento do Milênio são alcançáveis a um custo relativamente baixo.
Para lidar com a mudança climática, a ação coletiva é o único caminho a ser tomado. O ponto de interrogação sobre a relevância do G-8 e do Conselho de Segurança não reformado - sem mencionar as instituições de Bretton Woods - destaca que não é mais possível excluir as grandes economias emergentes do debate de questões de suprema importância para a agenda global. Mais democracia nas tomadas de decisão internacionais é essencial se queremos encontrar respostas verdadeiramente eficazes para os desafios globais. A magnitude da atual crise financeira, por exemplo, exige urna resposta vigorosa das instituições multilaterais.
O Brasil permanece comprometido com a conclusão bem-sucedida da Rodada de Doha. Desejamos eliminar todas as barreiras ao comércio internacional que estrangulam o potencial produtivo de incontáveis países na Ásia, África e América Latina. Estive em contato direto com líderes de alguns dos principais países e acredito que ainda temos uma chance real de avançar nas questões relativamente menores que ainda estão em aberto.
O mundo industrializado deve tomar a liderança na redução da emissão de gases de efeito estufa e dar apoio para as nações em desenvolvimento fazer o mesmo, mas sem que precisem comprometer o crescimento doméstico. Similarmente, a proteção da propriedade intelectual não pode ter prioridade sobre o imperativo ético de assegurar que as populações pobres tenham acesso a drogas que salvam vidas.
Implementar essa agenda exige um novo sistema internacional, mais regulamentado e transparente. Para esse fim, o Brasil uniu-se à índia e à África do Sul para formar a lbsa, uma associação das três maiores democracias do sul do globo, com foco nos temas de cooperação e desenvolvimento.
Também nos juntamos aos nossos vizinhos na formação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que tem por objetivo fortalecer a integração regional e assegurar uma presença internacional mais forte para o nosso bloco. A Unasul está estruturando um plano de energia, um conselho de segurança e um banco de desenvolvimento.
Com essas iniciativas vamos fortalecer o diálogo e melhorar os mecanismos exigidos para revigorar o multilateralismo. Mais que tudo, vamos fortalecer nossa capacidade de unir as mãos na construção de um futuro mais próspero, justo e pacifico para todos.
Obs.: Artigo publicado originalmente na edição especial The World in 2009 da revista britânica The Economist