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Brasil e Argentina: tempo de convergência pragmática (O Globo, 7/02/2017)
A união de Brasil e Argentina é ainda mais necessária num mundo que, imerso em incertezas, cede a influências desagregadoras. É preciso recuperar o tempo perdido. Os destinos de argentinos e brasileiros são em larga medida comuns. A integração de nossas sociedades — cultivada no terreno da democracia — tornou-se tão profunda que, hoje, a prosperidade que buscamos é a prosperidade compartilhada. A aliança estratégica Brasil-Argentina constitui, para nós, imperativo do desenvolvimento.
Nossa união é ainda mais necessária num mundo que, imerso em incertezas, cede a influências desagregadoras. Diante de nacionalismos exacerbados e de crescentes pressões protecionistas, temos que nos aproximar e nos articular cada vez mais — nas dimensões política, econômica, científica e tecnológica, de segurança pública. Nossa resposta a tendências isolacionistas deve ser mais integração.
É sob o signo dessas convicções que, neste 7 de fevereiro, terei o prazer de receber em Brasília, para visita de Estado, o presidente Mauricio Macri — nosso terceiro encontro em seis meses. Nosso móvel será, estou certo, pôr as relações entre os dois países a serviço não de concepções dogmáticas, mas dos valores e dos interesses de argentinos e brasileiros. Nosso encontro estará concentrado em medidas concretas que se traduzam em crescimento econômico, em mais empregos, em maior bem-estar para todos.
Vivemos novo momento da parceria entre o Brasil e a Argentina. Temos desafios de mesma natureza e formas semelhantes de enfrentá-los. Ingressamos em ciclo de convergência pragmática, de compromisso com o dia a dia de nossos povos. Há que recuperar o tempo perdido —e é o que temos feito. Nos últimos três meses, houve significativo aumento das importações de produtos argentinos pelo Brasil, importante sinal de retomada de dinamismo econômico.
Junto ao presidente Macri, sempre em nome de resultados práticos, já pudemos retomar a regularidade e a qualidade do diálogo entre nossos governos. Recompusemos canais bilaterais que haviam sido virtualmente congelados. Ministros de parte a parte voltaram a reunir-se com assiduidade, e instâncias técnicas voltaram a funcionar. Com isso, por exemplo, questões comerciais que antes ficavam paralisadas por meses encontram, agora, espaços institucionais de encaminhamento.
Em Brasília, seguiremos aprimorando esse ambiente construtivo nas relações bilaterais. Objetivos já antigos, como o da cooperação em normas técnicas, sanitárias e fitossanitárias, serão retomados. A coordenação no combate ao crime organizado transnacional será fortalecida. Projetos conjuntos em áreas intensivas em conhecimento, como a nuclear, a espacial e a aeronáutica, merecerão atenção redobrada. Trataremos da agenda das fronteiras e, em especial, da integração física.
O presidente Macri nos visitará, também, como presidente pro tempore do Mercosul — responsabilidade que cabe à Argentina neste primeiro semestre de 2017 e que, no segundo semestre, passará ao Brasil.
É hora de redinamizar o Mercosul, que só fará sentido se voltar a responder aos anseios dos cidadãos dos Estados-membros. É hora de retomar a trilha da efetiva integração. A dispersão de esforços legou-nos um saldo modesto de realizações.
É tempo de trabalharmos lado a lado com os demais sócios pelo resgate do espírito original do Mercosul: livre mercado e democracia. Para dentro do bloco, revitalizaremos o mercado comum, sob o primado do estado de direito. Para fora, diversificaremos as negociações com atores relevantes da economia global — países desenvolvidos e em desenvolvimento, países de nossa região e de todos os continentes.
Aguardo o presidente Macri, de braços abertos, para reafirmar a prioridade que atribuímos às relações com a Argentina na política externa e na visão de desenvolvimento do Brasil. Celebraremos, uma vez mais, a amizade que irmana nossos povos.