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Discurso do Ministro Mauro Vieira por ocasião do relançamento da Revista Juca - Brasília, 22 de dezembro de 2023
Senhora Secretária-Geral, senhor Assessor-Chefe, querido amigo de muitíssimos anos, Celso Amorim, senhora Diretora do Instituto Rio Branco, jovens secretários e membros da revista, Laís, Ana Luíza e Bruno.
Eu queria dizer que tenho um grande prazer de estar aqui hoje por várias razões. Primeiro, por ter, na minha assessoria direta, o primeiro e o último editor da revista, se não estou enganado, Filipe Nasser e Bruno Imparato, e com eles, com o Filipe, já convivi em outros postos, aprendi a admirá-lo, mas o Bruno, que foi mais recente, também aprendi a admirá-lo, gostar muito de sua clareza intelectual, de sua objetividade. E ele que me trouxe pela primeira vez a questão do relançamento da revista Juca. E eu fiquei pasmo de saber que durante, sei lá, seis anos, sete? Quatro anos, não tinha havido a revista, que foi, me lembro muito do lançamento da primeira, eu não estava, estava no exterior, mas uma revista de grande interesse.
Eu acompanhava com muito prazer, inclusive um ano, quando fui ministro, há oito anos, da presidente Dilma Rousseff, dei uma entrevista e me lembro que nessa ocasião foram me entrevistar e eu sugeri que entrevistasse um, que naquela época não sei se era o último, mas se não era, talvez tivesse um mais, sobrevivente da primeira turma do Instituto Rio Branco, Gilberto Chateaubriand, que tinha deixado a carreira como primeiro-secretário, que era um grande amigo pessoal, um homem interessantíssimo, que produziu a maior coleção de arte brasileira, a arte contemporânea brasileira, e que era um apaixonado pelo Itamaraty e pela carreira e, por circunstâncias da vida, teve que deixar para se dedicar a outras funções, num determinado momento, mas que fez a carreira até primeiro-secretário. Que tinha as histórias mais fantásticas e deliciosas sobre o Itamaraty e que, lamentavelmente, faleceu ano passado, mas com muita idade. Acho que ele estava com 97 ou 98 anos. É, uma criança. E eu quero inclusive criar algum tipo de prêmio que leve o nome do Gilberto, porque ele, apesar de ter deixado o ministério como primeiro-secretário, deu, sem dúvida nenhuma, uma contribuição enorme. Deixou uma marca muito grande.
Mas, além disso, de ter os dois editores. Estar nesse momento aqui no Instituto Rio Branco, para mim é muito importante. Como o ministro Celso Amorim disse, eu preciso vir mais. Essa é a primeira vez, e também, muito me estimulou vir. Filipe e Bruno me disseram isso e aí eu me dei conta por que senão passaria o primeiro ano, eu não teria estado aqui.
Não estive, não porque não tivesse vontade de estar. Eu vim em outras ocasiões, inclusive em 2015 e 2016, estive aqui para uma conversa. Acho um pouco pretensioso chamar de Aula Magna, mas teve esse título as duas vezes, mas foi uma conversa muito agradável, inclusive estavam também os estagiários estrangeiros e foi sempre muito bom, mas esse ano foi um ano muito difícil, um ano de grande intensidade. Não foi fácil fazer todas as entregas que foram pedidas e imaginadas pelo Presidente da República. Celso sabe disso, estando lá ao lado dele.
Todos os projetos que nós tivemos, desde a cúpula de chefes de Estado da América do Sul, o TCA, as outras visitas que recebemos, o G20, CELAC, enfim, a volta a todas essas iniciativas, a reabertura da embaixada e, brevemente, dos consulados na Venezuela. Foi um ano de grande intensidade, concluindo com uma presidência brasileira do Conselho de Segurança. Como o Celso já se referiu, as dificuldades que tivemos para poder tentar consensuar uma resolução que no fundo eu fiquei muito contente também de termos alcançado aquele resultado, ficou claro e evidente. E quem exerceu o veto é que tem que se explicar, não somos nós. Então, eu creio que foi um ano de grande intensidade.
De 7 de outubro até a última vez que foi, nos primeiros dias de novembro, fui cinco vezes a Nova York, sendo que uma dessas passagens por Nova York, onde ficava 48 horas no máximo, fui ao Cairo e voltei para aquela reunião promovida pelo Egito, justamente para discutir a questão de Gaza. Então, eu não vim, não por falta de interesse, mas foi por absoluta falta de tempo.
Me ressentia e pensava sempre em vir, mas não consegui encontrar em muitos momentos. Eu passei pouquíssimos dias do mês em Brasília. Maria Laura sabe disso e me ajudou enormemente, suprindo a minha ausência de uma forma fantástica. E então, eu fico muito contente por ter voltado também, por ter vindo ao Rio Branco nessa primeira vez, nesse meu primeiro ano, e de estar aqui hoje com vocês, também, no encerramento desse ano letivo, uma espécie de despedida da Glivânia como diretora do Rio Branco. Também um momento de agradecer a sua dedicação no Instituto do Rio Branco. E eu queria, também, fazer um agradecimento de público à Secretária-Geral, Maria Laura Rocha, por ter sido uma Secretária -Geral de grande dedicação, de grande capacidade de trabalho e de grande produção. E eu, com todas as viagens, com todas as chamadas que tinha aqui do Presidente, os constantes despachos, sem a Maria Laura para cuidar da retaguarda e continuar o trabalho do Ministério, teria sido muito difícil. Portanto, muito obrigado. Foi fundamental.
E também queria registrar a satisfação de ter ao meu lado o ex-chanceler do Brasil por dez anos. Somadas as três, nove anos e dez meses talvez, e somados os períodos, todos eles, tive grande prazer de estar ao seu lado no Gabinete, na primeira ocasião, durante o governo Itamar Franco, depois, no início do período do presidente Lula, no primeiro ano e pouco, quando também tive a honra de ser o chefe de Gabinete antes de partir para Buenos Aires.
Mas a minha amizade com Celso é enorme e ele se referiu a esse período, a partir desse momento, no início do Ministério da Ciência e Tecnologia, em 1985, passamos, já nos conhecíamos, mas passamos a conviver e a trabalhar juntos, o que só fez crescer e consolidar essa amizade. E aprender muito com ele porque ele, eu acho que você foi o segundo ministro de Estado vindo do Rio Branco, que cursou o Rio Branco; não, eu acho que você foi o primeiro, porque foi no governo Itamar, eu acho que você precedeu.
Foi, é verdade, você foi o primeiro embaixador, ministro das Relações Exteriores, oriundo do Instituto Rio Branco. O que é um marco, uma coisa muito importante, e eu dou muita importância ao Rio Branco e é um prazer estar aqui. Na minha época, infelizmente, não dispúnhamos de um auditório como esse. É verdade que estava no Rio de Janeiro, mas eram anos difíceis, eram anos muito difíceis, em que os alunos do Rio Branco não tinham noção do que era a carreira diplomática e o ministério, porque nós não viemos aqui nenhuma vez, a não ser se quisesse, nas férias, tomar um avião e vir, mas não tinha nenhum contato com nenhuma autoridade do ministério e o Instituto Rio Branco. Houve um chefe de cerimonial que foi dar uma aula e ensinar coisas de protocolo, mas a maior parte dos cursos eram ministrados por colegas, que estavam ainda no Rio de Janeiro, mas era uma separação, uma dicotomia total entre o curso, entre os alunos e a realidade do ministério.
Não havia viagens-prêmios, não havia estágios, não havia absolutamente nada, não havia oradores nas cerimônias de formatura. Nós tivemos uma formatura aqui em Brasília, a minha turma, mas não, não tinha.
É a absoluta verdade. Na minha turma, que foi no governo Geisel, não houve paraninfo, não houve orador, não havia nada, havia uma cerimônia. O presidente da República vinha, participava, entregava os diplomas, participava depois do almoço, mas era isso, e não havia nenhum tipo de diálogo ou possibilidade de diálogo. Isso no período, foi o último ano do governo do Geisel e o ministro de Estado depois, posteriormente, foi meu chefe em Washington, outra pessoa que eu admiro muito e gosto muito, o chanceler Azeredo da Silveira, que também foi seu chefe aqui em Brasília, fez escola no Ministério. Acho que foi um nome muito importante e inclusive por ter resistido a muitas coisas no ministério.
Mas enfim, eu queria dizer isso, dizer que é um privilégio estar aqui, que para vocês todos é um privilégio ter o Instituto Rio Branco dentro, incorporado, inclusive à sede do Ministério em Brasília, porque isso dá uma intimidade, vocês já começam conhecendo.
Na minha turma, que era muito pequena, nós éramos 15. Chegamos em Brasília, ninguém sabia absolutamente nada, não tinha noção de nada, de como que era. O Instituto Rio Branco era um curso acadêmico de qualidade, tinha grandes professores no Rio, mas não preparava para absolutamente nada. Então, eu acho que é muito importante que haja esse convívio, essa permanência em Brasília intercalado por estágios, por viagens, porque isso é uma coisa que eu sempre admirei, via depois viajando, inclusive pelo Brasil, porque um país tão grande, muita gente não conhece, mas, quer dizer, foram turmas posteriores.
Viajar a Amazônia, o Rio Grande do Sul, enfim, eu acho que é um programa muito importante. Também quero fazer aqui uma referência ao nosso querido comum amigo Samuel Pinheiro Guimarães, que sempre, como seu secretário-geral, com a sua visão de futuro, no meu período, os meus seis anos de Buenos Aires, ele propôs primeiro que os alunos, que o ISEN, Instituto do Serviço Exterior da Nação Argentina recebesse um aluno brasileiro estagiário. Ele queria dois e no meu período foram dois. Ele promoveu isso com muito empenho. Queria que viessem os argentinos também para cá, os argentinos alegavam, naquele momento, dificuldades. Ele disse que colocaria tudo à disposição. Eles teriam que vir sem custo nenhum para facilitar. Acabaram que vieram, acho que argentinos nunca vieram dois, mas houve. E que esse programa, que é fantástico, cria e criou um conhecimento, uma amizade, uma intimidade entre diplomatas brasileiros e diplomatas argentinos, que é fantástico e só faz ajudar. Eu me lembro, eu tive dois logo no início, dois diplomatas da maior qualidade que me ajudavam muito, graças ao Samuel. Eu acho que o primeiro ou segundo ano iam, ficavam um ano, um ano e pouco em Buenos Aires e voltavam para Brasília. Eu falei um dia para o Samuel: isso é um absurdo, estamos jogando fora experiências, dinheiro e tudo. Eles têm que ficar em Buenos Aires para aproveitar os canais, os conhecimentos. E assim foi feito. E só produziu grandes resultados.
Mas enfim, eu queria dizer isso, e que a luta nossa continuará por número maior de vagas. Eu me empenhei muito que esse ano fossem 50. Foi o que foi possível. Também me empenhei muito com o concurso de oficial de chancelaria, sei lá, acho que há mais de dez anos não havia um concurso. Serão 200 vagas. Nós temos um déficit de 900 e tantos, o que é dificílimo de administrar, um Ministério sem diplomatas e sem oficiais de chancelaria. No meu último posto, na Croácia, eu tive a sorte de ter três do maior nível. E aí você vê como é importante ter gente capaz, dedicada e séria. E é muito importante depois também.
Nós, infelizmente, sofremos uma drenagem de funcionários e de cérebros para outros ministérios, obviamente, para a Presidência da República, e que não dá para continuar. Eu já, inclusive, disse ao presidente que não dá para tirar mais ninguém, que assim, chave na porta, não pode mais, porque é dificílimo. Mas tem muita gente. Não, não, não estou falando da sua assessoria, do Cerimonial. Tem você. Você tem que ter um bom blend.
Eu me empenhei muito, quis ter esses dois concursos. Serão 200 oficiais de chancelaria, 50 novos diplomatas e vamos manter isso no ano que vem. O mesmo número de diplomatas e o número, se puder, maior, de oficiais da chancelaria. Nós temos que preencher esse vazio de 900 e tantos. Enfim, várias outras coisas, tem grande preocupação com a questão de progressão funcional. É fundamental e estamos discutindo isso e vendo que medidas tomar para que haja uma progressão mais previsível. Não é possível a demora que existe hoje, nos interstícios entre uma classe e outra, para promoção. É um desestímulo. Não pode, isso tem que melhorar.
A questão da inclusão em todos os sentidos, racial, de mulheres. Na minha turma, tinha duas colegas mulheres, entre 15, muito pouco. E 15 que viramos 16 porque houve um, um colega meu de turno, mas já aposentado, que era muito mais velho, que ele, tinha sido eliminado, ele tinha sido reprovado nas entrevistas, que havia isso nos anos 60 e tantos, 60 e muitos, na turma do Felipe Seixas Corrêa, não foi o Felipe, foi um outro que foi eliminado numa entrevista. E aí ele entrou na Justiça e brigou por dez anos e dez anos depois foi incorporado e a sentença foi de que, do juiz, que ele teria que voltar ao Instituto Rio Branco, cursar na primeira turma que foi a minha e depois ser reenquadrado na turma dele. Carlos Augusto Loureiro de Carvalho e ele já se aposentou há muitos anos. Porque quando ele entrou, na minha turma. O Alexandre não foi da minha turma. Talvez tenha sido, foi um mais antigo. Ele já se aposentou há muitos anos, que brigou dez anos e entrou para o curso com 30 e poucos anos quando cinco pessoas tinham 20, 21, como era o meu caso. Então, já está fora da carreira há muitos anos.
Mas enfim, só como testemunho dizer isso, dizer que é uma grande satisfação estar aqui. No próximo ano, virei, sem dúvida nenhuma. Agradecer a diretora do Instituto Rio Branco, agradecer o conjunto, grupo editorial, da Juca, Filipe e Bruno, e dizer que eu tinha aqui um texto preparado por eles. Brilhante, muito bom, mas como é deles eu não vou ler, mas vou divulgar e quem sabe a gente pode publicar em breve, mas que está muito bom.
Mas também já falei muito e não podia deixar de fazer um pouco esses comentários de cunho mais pessoal e que falam da minha satisfação de estar aqui. Portanto, muitíssimo obrigado a todos e vamos continuar no próximo ano com o mesmo entusiasmo, trabalhando pela política externa e pelo governo do presidente Lula.
Obrigadíssimo. A vocês.