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Brasil e Japão, 110 anos que nos unem (Folha de S. Paulo, 19/6/2018)
Nipodescendentes se tornaram parte do nosso país
ALOYSIO NUNES FERREIRA
Ministro das relações exteriores e senador licenciado (PSDB-SP)
Brasil e Japão comemoram, em 2018, os 110 anos da viagem do navio Kasato Maru de Kobe a Santos. O primeiro grupo de 781 imigrantes japoneses desembarcou em 18 de junho de 1908. Certamente não sabiam, mas o Japão passava a fazer parte indissociável da identidade, da cultura e do desenvolvimento brasileiros.
Do norte ao sul do Brasil, são cerca de 1,9 milhão os descendentes de japoneses, formando a maior comunidade nipo-descendente fora do Japão. A presença deles se faz sentir nos setores produtivos, nas universidades, na cultura. Não por acaso, a avenida Paulista foi escolhida como endereço da primeira "Japan House" no mundo, aberta em 2017 e que já se consolidou como um dos principais espaços culturais de São Paulo.
Já a vibrante comunidade brasileira no Japão soma 190 mil pessoas, que contribuem com seu trabalho e engenho para a prosperidade daquele país. No metrô de Nagoia, ouve-se português.
A visita da princesa Mako, em julho, marcará os 110 anos desses profundos laços humanos. Em março, fomos honrados pela visita do príncipe herdeiro Naruhito, no âmbito do 8o Fórum Mundial da Água, em Brasília. Em maio, o chanceler Taro Kono esteve em São Paulo.
Temos muitos motivos para celebrar. O Japão é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil na Ásia. O Brasil, o principal parceiro do Japão na América Latina; aqui estão instaladas 698 empresas japonesas.
O Japão contribuiu decisivamente para revolucionar nossa agricultura. Os primeiros imigrantes chegaram para trabalhar na lavoura cafeeira. A partir da década de 1970, a evolução tecnológica japonesa auxiliou o desenvolvimento da agricultura tropical no cerrado, em particular da soja.
Desde 2014, elevamos nosso relacionamento a uma Parceria Estratégica e Global, marcada pelo interesse comum em aprofundar a cooperação em ciência, tecnologia e inovação, em ampliar fluxos de comércio e investimentos e em fortalecer nossos vínculos políticos globais em torno de uma ordem mundial fundamentada em regras.
Iniciamos o Diálogo de Chanceleres, cuja segunda edição foi realizada em maio, quando visitei o Japão e repassei com o chanceler Taro Kono a ampla agenda bilateral. Também estive com o vice-primeiro-ministro, Taro Aso, com o ministro da lnfraestrutura, Keiichilshii, e falei na "Keidanren", a federação de indústrias do Japão.
Constatei o claro interesse de autoridades e lideranças empresariais nas oportunidades que as reformas macroeconômicas oferecem para o reforço dos investimentos japoneses, sobretudo em infraestrutura.
Lideranças dos setores empresariais dos dois países compõem o chamado "Grupo de Notáveis", que sere-uniu neste mês, no Rio de Janeiro. Em julho, será realizada, no Japão, reunião entre a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a "Keidanren". Em pauta, o interesse da comunidade empresarial por negociações comerciais Mercosul-Japão.
No mês da Copa, não é demais recordar que a tecnologia de televisão digital em nossas casas é produto da cooperação Brasil-Japão. E que nossos laços de amizade se repetem na história do esporte. A taça do penta foi erguida em Yokohama. Rio e Tóquio foram irmanadas pela bandeira olímpica. Aprendemos o judô, ensinamos o futebol e há até brasileiro que se destaca no sumô.
Passados no anos da longa viagem do Kasato Maru, o Brasil e o Japão celebram aquele que foi o primeiro passo em um caminho que seguiremos trilhando juntos.