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Discurso do orador da Turma Bertha Lutz (2015-2017), Terceiro Secretário João Soares Viana Neto, por ocasião do dia do diplomata – Palácio Itamaraty, 20 de abril de 2017
O Natal de 2015 jamais será esquecido. Ao meio dia de 24 de dezembro, na sala da senhora subsecretária-geral do Serviço Exterior, diante do retrato do imperador Pedro II, sentindo o peso da história, passamos a integrar o corpo diplomático brasileiro.
Hoje, Senhor Presidente, no dia do diplomata, na presença de Vossa Excelência, confirmamos a fé na diplomacia como meio de vida e partilhamos nossa felicidade, que supera aquela da posse – afinal, como nos lembra Santo Agostinho, “há maior alegria quando se conclui alguma coisa do que quando se começa”.
Mas sabemos que essa etapa concluída é pequena, comparada ao que virá, e que não podemos perder tempo, cantando vitória pelo que terminamos, pois já começou outra fase. O Brasil tem pressa, e nós também.
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores,
As escolhas que fizemos para esta formatura dizem quem somos e o que queremos.
Bertha Lutz soube ocupar espaços e trazer o novo. Filha do século XIX, ajudou a modelar o século XX. Bióloga, fez-se jurista. Quando a mulher casada era relativamente incapaz para os atos da vida civil, foi deputada. Quando os vencedores da Segunda Guerra reuniram-se em São Francisco para desenhar o futuro, fez-se diplomata, representou o Brasil numa conferência na qual 97% dos delegados eram homens e foi a responsável pela inclusão da igualdade de direitos entre homens e mulheres no preâmbulo da Carta da ONU.
Se somos Bertha Lutz, também queremos ser o embaixador Sérgio Danese.
Hoje não somos os únicos fazendo política externa: parlamento, empresas, sociedade civil – muitos querem falar pelo Brasil, e precisamos dialogar com todos, se queremos exercer o protagonismo que nos cabe.
A sociedade brasileira tem exigido mais dos funcionários públicos, sobretudo em momentos de sacrifício. O cidadão espera que o diplomata, além de erudito, seja eficiente na concepção e implementação de políticas públicas.
Em sua passagem pelos ministérios do Meio Ambiente e da Fazenda, pela Assessoria Especial de Assuntos Federativos e Parlamentares e pela Subsecretaria-Geral das Comunidades Brasileiras no Exterior, o embaixador Danese soube atender essas expectativas. Suas contribuições foram variadas. Alegra-nos tê-lo como colega.
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores,
Um diplomata deve conhecer seu país. Por isso agradecemos ao embaixador José Estanislau por organizar as viagens que fizemos ao Amazonas, a Santa Catarina e à Bahia. Convenhamos: é uma ousadia querer representar um país com as dimensões do Brasil. E nós o quisemos. E graças às viagens, podemos dizer que somos mais brasileiros.
Devemos, ainda, representar a diversidade social e étnica do nosso povo, um dos fundamentos de nossa projeção internacional, especialmente no diálogo com a África. Por isso nós louvamos o programa de ações afirmativas do ministério, que em 2002 foi pioneiro na esplanada, e reputamos essencial seu aperfeiçoamento, para incluir mais negros na carreira.
Agradecemos aos professores do Rio Branco, na pessoa do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, cujo nome já faz parte da história do Itamaraty. Somos particularmente gratos, embaixador, pela lembrança constante de que o Brasil é um país grande.
Também honramos a memória do conselheiro Bruno Carneiro Leão, que nos deixou prematuramente. Bruno era um professor brilhante e um defensor competente dos interesses comerciais brasileiros, e sua ausência é muito sentida. À sua família, nosso abraço.
Agradecemos, ainda, à Thaís, servidora homenageada, pela gentileza à prova de tudo e pelo trabalho eficiente.
Finalmente, peço licença ao Senhor Presidente da República para dirigir-me a nossos familiares. Vocês abraçaram conosco essa carreira cheia de recompensas, mas também de renúncias. E fizeram-no com generosidade, com sacrifícios. A vocês, nosso amor e gratidão.
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores,
Em sua posse, o ministro de Estado afirmou que queria ouvir, queria destravar as línguas. Isso nos alegra, pois gostamos de falar. Como é próprio da democracia, entre os formandos há diferentes visões de mundo, mas isto nos iguala: queremos servir. Permita-me dizer, Senhor Presidente, que queremos a diplomacia com os pés no chão e sede de mudança da qual Vossa Excelência falou às Nações Unidas. Definidas as diretrizes, e disponibilizados os meios, vamos executá-la. É o que a sociedade espera de nós e é o que o mundo espera do Brasil.
Muito obrigado.