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O Brasil e as cadeias globais de suprimento (O Globo, 21/8/2022)
A política externa brasileira tem defendido os interesses do Brasil na configuração das cadeias globais de suprimento, questão crucial para a economia mundial. O assunto ocupa o centro das discussões internacionais no contexto da pandemia e de crescentes tensões comerciais e políticas.
No G20, na OMC e na ONU, a voz do Brasil tem sido clara: os países precisam resistir à adoção de medidas comerciais restritivas sobre as cadeias globais de suprimento. Essas restrições prolongam incerteza nos mercados e ameaçam os mais vulneráveis em todo o mundo. O Itamaraty tem reforçado diálogos com outros países, organismos e agrupamentos internacionais a fim de incentivar a criação de condições de mercado justas.
O Itamaraty vem atuando para que o Brasil garanta a posição que lhe cabe nas cadeias de valor, como elo incontornável para a agregação de valor a produtos de alta demanda global. O acesso a insumos agrícolas essenciais constitui grande preocupação, devido à concentração de sua produção em poucos países. As perturbações nesse segmento viram-se agravadas com o conflito na Ucrânia. Normalizar esse mercado não é apenas questão comercial, mas também imperativo humanitário.
As perturbações em cadeias de valor afetam também as indústrias do aço, de equipamentos industriais, de infraestrutura e de serviços de transportes, setores fundamentais para a economia mundial e a segurança alimentar, assim como para o suprimento de energia em diversos países.
Em paralelo, o Itamaraty tem mantido diálogo com o Congresso Nacional e a iniciativa privada com vista à maior inserção do Brasil nas cadeias internacionais de suprimento de semicondutores, tendo em conta o número limitado de fornecedores globais. A organização de seminário sobre o tema no ministério, em abril, permitiu incrementar parcerias e vislumbrar aumento da participação brasileira no mercado mundial.
O Brasil tem defendido o comércio livre e fluido em todos os setores como instrumento para a promoção da estabilidade. Na Conferência Ministerial da OMC, em junho, o Brasil somou-se a iniciativas, declarações e acordos que tratam da sustentabilidade da pesca, da relação entre agricultura e insegurança alimentar e de respostas a pandemias. O país apoiou decisão que simplifica uso de licenças compulsórias de patentes para produção e distribuição de vacinas e tem encorajado adoção de medidas dirigidas ao enfrentamento de eventuais novas pandemias.
O Brasil trabalha por soluções conjuntas aos desafios da governança global. Na reunião de chanceleres do G20, em julho, além de propor comércio livre e fluido nas cadeias de alimentos e insumos agrícolas, o país defendeu que as grandes economias acelerem sua transição energética, como parte da reorganização dos mercados internacionais de energia, por meio da ampliação dos investimentos em fontes renováveis, inclusive biocombustíveis. O Brasil tem exercido papel importante nesses temas, à medida que se prepara para presidir o G20 em 2024.
Participei do Fórum Ministerial sobre Resiliência de Cadeias de Suprimentos, também no mês de julho, iniciativa dos Estados Unidos para promover cooperação em prol do fortalecimento das cadeias globais. Em declaração conjunta, 17 países e a União Europeia expressaram o compromisso de enfrentar rupturas de curto prazo nas cadeias de fornecimento e de gerar resistência de longo prazo ante choques futuros.
O Brasil tem consolidado, assim, posição decisiva para o desenvolvimento sustentável, a segurança alimentar e a transição energética globais, ao mesmo tempo que continua a trabalhar para que a evolução das cadeias de suprimento transnacionais seja cada vez mais inclusiva e abrangente.