Ucrânia
O governo brasileiro reconheceu a independência da Ucrânia em dezembro de 1991 e estabeleceu relações diplomáticas com o país em 11 de fevereiro de 1992. A partir da consolidação de sua independência, a Ucrânia deu demonstrações concretas de interesse em aprofundar as relações bilaterais, a começar pela abertura de embaixada residente em Brasília, em 1993, gesto retribuído em 1995, quando foi instalada a embaixada brasileira em Kiev. O Brasil é o único país da América Latina que recebeu, por três vezes, visitas oficiais de chefes de estado ucranianos (1995, 2003 e 2011). Realizou, por sua vez, duas visitas presidenciais à Ucrânia (2002 e em 2009, quando do lançamento da parceria estratégica entre os dois países).
O relacionamento bilateral se desenvolveu nos anos subsequentes ao estabelecimento de relações diplomáticas, favorecido pela percepção mútua de potencial parceria estratégica. Assim, já em 1995, os dois países firmaram Acordo de Cooperação Econômico-Comercial, dando início ao diálogo nos setores comercial e tecnológico. Em avanço importante, celebrou-se, em 2003, acordo que permitiria utilizar o foguete ucraniano Cyclone-4 para realizar lançamentos de satélites no Centro de Lançamentos de Alcântara (CLA), visto à época como o principal pilar do relacionamento.
Em fins de 2013, a eclosão da revolução "Euromaidan", seguida, meses depois, pelo início dos conflitos na Crimeia e no Donbas, levou a alterações profundas na economia e na política ucranianas. A crise que atingiu a economia reduziu fortemente o comércio com o Brasil. No plano político, a Ucrânia passou a focalizar atenção nos referidos conflitos. Nessa mesma época, o governo brasileiro decidiu retirar-se do projeto espacial bilateral. As negociações para liquidar a empresa pública binacional ACS redundaram em sua extinção em 2019.
O interesse em reativar a parceria estratégica ganhou força com o governo do Presidente Jair Bolsonaro. Em seu primeiro ano de mandato, o Presidente Jair Bolsonaro encontrou-se por duas vezes com homólogos ucranianos - a primeira vez em janeiro de 2019, com Petro Poroshenko, e a segunda, em outubro de 2019, com Volodymyr Zelensky (ocasião em que o Presidente brasileiro foi convidado a visitar oficialmente a Ucrânia e o Presidente ucraniano manifestou interesse em visitar o Brasil).
Brasil e Ucrânia têm grande potencial de adensamento das relações bilaterais, em especial nos campos econômico e de cooperação científico-tecnológico. O relacionamento Brasil-Ucrânia passa por momento favorável, com manifestações de ambos os governos em prol da retomada da cooperação.
As relações bilaterais se beneficiam da existência, no Brasil, de comunidade de descendentes de ucranianos estimada em cerca de 450 mil pessoas, a terceira maior nas Américas, depois de EUA e Canadá. Concentrada no Paraná, a comunidade tem respaldado iniciativas de aproximação com a Ucrânia, como o intercâmbio de estudantes universitários e o ensino da língua portuguesa na Universidade Nacional Taras Shevchenko.
Vivem na Ucrânia cerca de 300 cidadãos brasileiros, aos quais é prestada assistência consular por meio da embaixada em Kiev. Desde 2012, brasileiros e ucranianos estão mutuamente dispensados de vistos em viagens de curta duração. A Ucrânia mantém, no Brasil, consulados honorários em Blumenau (SC), Paranaguá (PR) e São Paulo (SP). Já o Brasil conta com três consulados honorários na Ucrânia, que vêm prestando serviços relevantes: em Kharkiv, segunda cidade mais populosa e principal polo industrial do país; em Dnipro, polo aeroespacial; e em Lviv, polo turístico e de informática.
Os dois países mantêm parceria na área de saúde, pela qual o Brasil importa insulina recombinante NPH da empresa ucraniana Indar, em troca da instalação de planta de produção desse medicamento no Brasil, por meio de joint-venture com a empresa Bahiafarma.
A Ucrânia oferece atmosfera propícia à cooperação na área cultural pela ampla importância da literatura, do teatro e da música no país. A Embaixada do Brasil em Kiev mantém parceria com a Filarmônica Nacional da Ucrânia, que tornou possível a realização de vários concertos brasileiros em 2018 e 2019. A embaixada do Brasil na Ucrânia promoveu em anos recentes mostras de cinema brasileiro em Kiev e em outras cidades.
Relações econômico-comerciais
As exportações brasileiras tiveram comportamento dinâmico nos anos que antecederam a revolução "Euromaidan" em 2013, marcados por grande expansão econômica na Ucrânia. De US$ 344 milhões em 2010, as exportações cresceram 81%, atingindo o ápice de US$ 624 milhões em 2012. A partir de então, retrocederam para US$ 483 milhões em 2013, US$ 151 milhões em 2014 e US$ 85 milhões em 2015. Voltaram a crescer a partir de 2016, atingindo US$ 119 milhões em 2018 e US$ 111 milhões em 2019.
Os principais produtos exportados em 2019 foram café (US$ 28 milhões); tabaco (US$ 22 milhões); aparelhos mecânicos (US$ 14 milhões); amendoim (US$ 11 milhões); tripas, bexigas e estômagos de animais (US$ 10 milhões); açúcar (US$ 5,7 milhões); cítricos (US$ 2,8 milhões); ferro-ligas (US$ 2,7 milhões); e ferramentas pneumáticas, hidráulicas e de motor (US$ 1,2 milhões).
As importações seguiram trajetória análoga. Partiram de US$ 294 milhões em 2010 para US$ 666 milhões em 2011. Caíram, porém, para US$ 24 milhões em 2017. Voltaram a acelerar-se desde então, atingindo US$ 60 milhões em 2018 e US$ 106 milhões em 2019. Os principais produtos importados da Ucrânia foram farmacêuticos (US$ 31,2 milhões); laminados de ferro e aço a quente e frio (US$ 22 milhões); aquecedores elétricos de água (US$ 13,1 milhões), malte (US$ 11,3 milhões); aparelhos elétricos para telefonia (US$ 5,5 milhões), têxteis (US$ 3 milhões), eletrodos de carvão (US$ 2,9 milhões); fio máquina de ferro ou aço (US$ 2,6 milhões); e rolamentos de esferas (US$ 2,3 milhões).
O fluxo total, que chegou a alcançar patamar superior a US$ 1 bilhão em 2011-2012, caiu para US$ 133 milhões em 2016, mas vem se recuperando desde então, embora em ritmo relativamente modesto: US$ 179 milhões em 2018 e US$ 217 milhões em 2019. O Brasil apresentou superávit em todo o período. A recuperação econômica da Ucrânia a partir de 2016 voltou a torná-la mercado capaz de absorver ampla gama de produtos brasileiros.
Cronologia das relações bilaterais
2019 – Encontro do Presidente Jair Bolsonaro com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em Tóquio, Japão (22 de outubro)
2019 – Encontro do Presidente Jair Bolsonaro com o Presidente Petro Poroshenko, à margem do Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça (24 de janeiro)
2013 – Realização da VI CIC, em Brasília, com a presença do Ministro do Desenvolvimento Econômico e Comércio da Ucrânia, Igor Prassolov (8 de novembro)
2013 – Visita à Ucrânia do Chanceler Antonio de Aguiar Patriota (3 de julho)
2012 – Visita ao Brasil do Chanceler Kostyantyn Gryshchenko (Brasília, 20 de janeiro)
2011 – Visita ao Brasil do Ministro da Defesa, Mykhailo Yezhel
2011 – Visita à Ucrânia do Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante
2011 – Visita ao Brasil do Presidente Viktor Yanukovych (outubro)
2010 – Visita à Ucrânia do Ministro da Defesa, Nelson Jobim
2009 – Visita à Ucrânia do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (dezembro). Lançamento da parceria estratégica
2005 – Visita a Kiev de delegação da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, chefiada pelo deputado Aroldo Cedraz (outubro)
2005 – Visita ao Brasil do Chanceler Boris Tarasyuk
2004 – Encontro em Kiev do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o Presidente Leonid Kutchma e todo o Gabinete, em maio; segundo encontro da CIC
2003 – Visita ao Brasil do Presidente Leonid Kutchma, em outubro
2002 – Visita à Ucrânia do Presidente Fernando Henrique Cardoso
2001 – Primeira reunião da Comissão Intergovernamental Brasil-Ucrânia de Cooperação (CIC)
1999 – Visita ao Brasil do Chanceler Boris Tarassiuk
1996 – Visita ao Brasil do Chanceler Guenadi Udovenko
1995 – Visita do Presidente Leonid Kutchma ao Brasil. Assinatura do Acordo de Cooperação Econômico-Comercial, que dispôs sobre a formação da Comissão Intergovernamental Brasil-Ucrânia de Cooperação (CIC)
1995 – Abertura de Embaixada residente do Brasil em Kiev
1993 – Abertura de Embaixada residente da Ucrânia em Brasília
1992 – Estabelecimento de relações diplomáticas
1991 – Brasil reconhece a independência da Ucrânia