Conversadeira
A Coordenação-Geral de Patrimônio Histórico (CGPH) publica neste Espaço da Memória informações sobre as obras pertencentes ao acervo do Itamaraty.
Por Thallita Barreira Dias
Foto: André Zimmerer
Conversadeira brasileira em Jacarandá e palinha, com rodízios, três assentos interligados, classificada como integrante do Ecletismo Brasileiro (2º Império Francês/Napoleão III). Possui uma estrutura mista. Encosto em palhinha, contendo na parte superior folhagens encimadas por medalhão e urna central entalhada, espaldar curvilíneo empalhado apoiado em pequenas esferas.
Na história do mobiliário brasileiro, constata-se que nos primeiros séculos o Brasil não possuía um estilo próprio, uma vez que, os móveis trazidos de Portugal já vinham com características dos reinados de D. João V, D. José I e Dona Maria I, estilos estes já fortemente consolidados na Europa. Entretanto, os móveis, na sua maioria, eram recriados ou “copiados” no Brasil, resultando em alterações no tipo de material utilizado. O século XIX foi um período em que a casa brasileira iniciou o seu processo de transformação. Ao abdicar dos moldes coloniais, valorizou a decoração de interior, começou a preencher os espaços quase vazios e viu surgir um tipo de mobiliário mais adequado ao clima e ao modo de vida brasileiros. Segundo a pesquisadora Lilian Filgueiras Gaudêncio, o século XIX deu início a novas propostas estilísticas sentidas nas formas sólidas e na criação de soluções mais frágeis e menos volumosas como são as decorações, laços de fitas, festões de flores entre outros motivos de inspiração clássica, que vão ser substituídas pela leveza e riqueza da palhinha. O Jacarandá (que só aparecia em Portugal levado em toras no fundo dos navios e que lá recebia o nome de Pau Preto ou Pau Santo) já fazia parte da fabricação nos estilos do século XVIII, mas nesse contexto tornou-se uma das principais riquezas na confecção do mobiliário.
A conversadeira era um móvel social, importante na história doméstica brasileira do século XIX. A versão mais comum faz-se de dois assentos, serpenteando numa peça de madeira para pôr dois interlocutores (quase) frente a frente. Existem, porém, conversadeiras de três ou quatro lugares, que segundo a historiadora Arabella Galvão também foram nomeadas como “indiscreto”. No fim do século XIX, os arquitetos começaram a projetar edifícios decorativos em diversos estilos, esta arquitetura é conhecida como Eclética. A palavra ecletismo significa a atitude antiga de formar um todo a partir da justaposição de elementos escolhidos entre diferentes sistemas. Este contexto corresponde ao momento em que as residências passaram a ser compostas não mais por peças individualizadas de móveis, mas por conjuntos de móveis, ou mobília, com uniformidade formal, estilística e decorativa, de origem ou de influência estrangeira. Desse modo, pode-se identificar o estilo Napoleão III caracterizado pela heterogeneidade dos móveis, compondo também as moradias da segunda metade do século XIX, quando a burguesia nascente trouxe para os espaços residenciais vários conjuntos de móveis.
Os móveis não são apenas objetos integrados à decoração, ao contrário, eles refletem preferências e estilos, e nos narram histórias de períodos, movimentos e sociedades. Um dos fatos que compõe a historicidade da conversadeira integrante do acervo do MRE, foi que sua transformação em símbolo do Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (IBAS). A instância foi constituída com intuito de promover a cooperação Sul-Sul, e em 6 de Junho de 2003 os Ministros das Relações Exteriores de cada país ocuparam um lugar na conversadeira, sinalizando o mecanismo de coordenação entre os três países.
REFERÊNCIAS:
Disponível em: http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/expo-desenhando/18637-dois-palacios-em-tres-tempos. Acessado em: 08/01/2020, Às 11:40.
Ecletismo na Arquitetura Brasileira I organização Annateresa Fabris. São Paulo: Nobel; Editora da Universidade de São Paulo: 1987.
Res Mobilis Revista internacional de investigación en mobiliario y objetos decorativos Vol. 5, nº. 6 (II), 2016
História do Mobiliário brasileiro, Revista CPC, São Paulo, n. 9, p. 42-64, nov. 2009/abr. 2010.