Áreas do conhecimento abordadas na RedEE – Edifícios Públicos
A metodologia das Redes de Aprendizagem se baseia na transmissão de conhecimento aos participantes, no acompanhamento técnico por parte de consultores especialistas e na troca de experiências entre os participantes, mediados por uma equipe profissional de moderação e facilitação de grupos. A primeira tarefa para sua implementação é a definição das áreas de conhecimento que serão abordadas nestas atividades.
Diversos fatores influenciam nesta escolha. Entre eles estão o objetivo da Rede de Aprendizagem e o seu escopo de aplicação. Neste projeto-piloto que tratou da eficiência energética e da geração distribuída em prédios públicos, os principais fatores influenciadores foram o quão significativo é um determinado uso final da energia em relação ao consumo total do edifício, e o quão apropriada é uma determinada modalidade de geração de energia para o edifício.
Uma lista preliminar de temas abordados foi desenvolvida com base na literatura especializada e nos conhecimentos dos consultores. O intuito da lista preliminar foi estabelecer parâmetros para possibilitar o início da criação de materiais, metodologias de trabalho em grupo e seleção preliminar de especialistas. Uma vez definidas as instituições participantes, a Coordenação Técnica pôde conhecer a realidade de cada uma delas, bem como suas necessidades e expectativas. A lista preliminar, então, recebeu ajustes para garantir sua adequação à realidade e necessidade dos edifícios participantes. A lista final foi organizada nas grandes áreas de conhecimento, conforme exposto nas seguintes seções.
Eficiência Energética nos sistemas de usos significativos de energia
Dentro desta vasta área do conhecimento, os temas foram escolhidos pela sua representatividade dentro dos edifícios públicos. Tal representatividade engloba tanto a probabilidade de ocorrência quanto a significância do consumo de energia do sistema em questão. Desta forma, entendendo os edifícios participantes da RedEE como uma amostra da população de prédios públicos brasileiros, os temas abordados aqui são aqueles que causam maior impacto na eficiência energética deste público.
É importante ressaltar que o propósito das capacitações realizadas a respeito dos temas seguintes não foi o de elucidar extensivamente o funcionamento dos sistemas, mas explicitar a interface existente entre tais sistemas e seu impacto no consumo de energia do edifício.
Sistemas de climatização
Em edifícios públicos, os sistemas de climatização são utilizados majoritariamente para o conforto térmico dos usuários. São, via de regra, os principais consumidores de energia dos edifícios administrativos, chegando a alcançar uma fatia de 70% do seu consumo. Para efeitos de classificação, dividimos os sistemas entre:
- Sistemas de climatização centralizados
- Centrais de Água Gelada (CAG);
- Sistemas de Fluxo de Refrigerante Variável (VRF)
- Sistemas de climatização descentralizados
- Ar-condicionado tipo split e multi-split
- Ar-condicionado de janela
- Ar-condicionado do tipo Self-contained
- Sistemas de ventilação
- Fan-coils e fancoletes das CAGs
- Sistemas de resfriamento evaporativo
- Ventiladores
- Exaustores
No contexto da RedEE-Edifícios Públicos, foram tratados aspectos relativos à seleção de equipamentos, operação, manutenção e eventual substituição, visando garantir o melhor índice benefício-custo na aquisição e operação do sistema.
Iluminação
Tipicamente o uso da energia com o segundo maior consumo, os sistemas de iluminação são identificados pelos especialistas como a porta de entrada para as Ações de Eficiência Energética. O motivo disso é a facilidade encontrada pelos gestores em substituir uma lâmpada de tecnologia obsoleta por um sistema LED.
Tal facilidade, no entanto, ajuda a esconder parâmetros importantes que precisam ser estudados ao fazer um retrofit dessa natureza e estes aspectos foram analisados à luz dos conceitos da eficiência energética. Os sistemas de iluminação foram intensamente discutidos com os participantes não apenas pela grande fatia que representam do consumo total da edificação. Foram incluídos também porque têm muitas interfaces com outros sistemas relevantes. Exemplos disso são os efeitos interativos que possuem na carga térmica da edificação – lâmpadas menos eficientes “perdem” mais energia na forma de calor liberado para o ambiente – e a relação de dependência que apresentam em relação à envoltória do edifício.
Para endereçar todos os aspectos relevantes dos sistemas de iluminação, especialistas foram convidados para palestrar e discutir as especificidades com os participantes. Pela popularidade das ações de retrofit de iluminação, foi possível realizar uma extensa troca de experiências entre os representantes das instituições.
Envoltória predial e arquitetura bioclimática
O aspecto construtivo de um edifício pode influenciar em grande medida o seu consumo de energia. As soluções arquitetônicas e os materiais empregados impactam diretamente nos dois principais usos de energia do edifício: condicionamento ambiental e iluminação. Maneiras de balancear a iluminação natural e a carga térmica de um ambiente foram alguns aspectos discutidos com o apoio de especialistas e ferramentas específicas para esse fim. Os participantes conheceram desde tecnologias e recursos aplicáveis ao envelope dos edifícios até conceitos de arquitetura bioclimática, que tem o propósito de projetar edificações energeticamente eficientes, considerando de forma inteligente as características climáticas do local da edificação.
Automação predial
A exemplo da envoltória predial, a automação não é, em si, um uso final de energia, mas uma ferramenta que tem o potencial de aumentar o nível de eficiência energética de sistemas específicos. Foram discutidas diversas estratégias a respeito da automação de sistemas de ar-condicionado centralizados e descentralizados, além dos sistemas de iluminação.
Alguns participantes apresentaram suas experiências na relação entre a utilização de ferramentas para automação dos processos e a diminuição dos gastos com operação e manutenção.
Geração distribuída
Devido ao caráter da infraestrutura física dos edifícios participantes, a geração solar fotovoltaica (FV) foi a modalidade de geração distribuída com a melhor aplicabilidade para abordagem nas atividades da RedEE – Edifícios Públicos. Os temas debatidos a este respeito foram divididos em quatro tópicos, descritos a seguir.
Contextualização a respeito dos sistemas de geração FV no Brasil
A RedEE – Edifícios Públicos promoveu uma série de conversas sobre o tema, trazendo aos participantes uma contextualização sobre as tecnologias envolvidas, a inserção da geração FV na matriz energética brasileira e pontos pertinentes da regulamentação como, por exemplo, o sistema de compensação de energia para os consumidores do grupo A. O intuito era garantir aos participantes da RedEE segurança ao fazer as análises da forma correta.
Metodologia para avaliação do potencial de geração fotovoltaica em edifícios
A viabilidade técnica deste tipo de empreendimento foi estudada junto aos participantes da RedEE – Edifícios Públicos partindo da avaliação do potencial de geração FV de um determinado edifício. Para isto, foi apresentada uma metodologia para a verificação preliminar do potencial FV nas edificações.
Pré-projeto FV para edifícios
Os participantes da RedEE – Edifícios Públicos aprenderam como fazer o dimensionamento de tal sistema com uma ferramenta que trata, de forma facilitada, os principais tipos de limitação com as quais os projetistas se deparam numa edificação de um grande consumidor:
- Limitação na área disponível para a instalação (comum em casos de instalação em telhados ou lajes de edifícios);
- Limitação na quantidade de energia gerada por ano (comum em projetos em geral, por não haver a vantagem prática de acumular créditos além do período de um ano);
- Limitação na potência total instalada (pela restrição de potência máxima igual à demanda contratada da distribuidora).
Aspectos administrativos do processo de aquisição de um sistema FV
Participantes de instituições que já haviam instalado um sistema FV compartilharam na RedEE-Edifícios Públicos as experiências positivas ou negativas que tiveram em alguma parte do processo administrativo de contratação. Desta forma, os percalços enfrentados pelos pioneiros do grupo serviram de alerta para a atuação dos demais.