Notícias
Preservar a Amazônia depende do modelo de desenvolvimento
"Para a Amazônia continuar a cumprir sua função ambiental e a trazer benefícios para a população brasileira e mundial, o Brasil precisa construir a necessária ponte entre preservação e desenvolvimento", disse a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na abertura da 3ª Conferência Internacional do LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia), nesta terça-feira, em Brasília (DF). Durante o encontro do LBA, considerado um dos mais importantes experimentos científicos em andamento no globo, serão apresentadas inúmeras novas informações e pesquisas sobre a dinâmica dos ecossistemas amazônicos, em acelerado processo de transformação pela ação humana, e quanto a sua influência no clima regional e mundial.
Em seu discurso, Marina Silva destacou ações do governo federal para a conservação da floresta amazônica, como programas e projetos implementados com apoio do PPG7 (Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil) e o PAS (Programa Amazônia Sustentável). O PAS conta com cerca de R$ 400 milhões em 2004, e com a participação de 15 ministérios. Suas linhas de atuação tem como base: gestão ambiental e ordenamento territorial; produção sustentável; inclusão social e cidadania; infra-estrutura para o desenvolvimento; e um novo padrão de financiamento para a região. "Quando assumimos o governo, decidimos que o combate ao desmatamento e às queimadas na Amazônia seria um esforço de todo o governo", disse a ministra.
De acordo com Marina Silva, a primeira fase do PAS está concluída, quando foram definidas as principais linhas de atuação governamental para tentar frear o avanço do desmatamento. Agora, disse, serão consultados setores como a sociedade civil, a comunidade científica e o setor empresarial para qualificar o Programa. O trabalho desenvolvido por várias instituições e as informações acumuladas pelo LBA ao longo de mais de seis anos de trabalho, por exemplo, auxiliarão na consolidação dessas propostas e ações voltadas ao desenvolvimento sustentável da região. As ações propostas pelo PAS deverão ser capazes de conciliar a evolução econômica e social da região com a renovação natural da floresta.
Para Carlos Nobre, presidente do Comitê Científico Internacional e coordenador científico do LBA, as motivações que levaram à implementação do Experimento, há 10 anos, ainda persistem com os altos índices de desmatamento e de queimadas que são registrados a cada período na região. Entre 2002 e 2003, 23.750 quilômetros quadrados foram desflorestados na Amazônia brasileira. Nobre salientou, ainda, a necessidade de investimentos constantes para a continuidade do trabalho do LBA e para garantir a permanência de pesquisadores na região. "A Amazônia deveria receber um grande 'impulso científico' devido a sua importância para o Brasil e para o mundo", disse o pesquisador.
Também participaram da abertura do evento, que segue até quinta-feira (29), na Academia de Tênis, Paulo Artaxo, coordenador da 3ª Conferência do LBA, Diane Wickland, gerente do Programa de Ecologia Terrestre da Nasa (Agência Espacial Norte-Americana), Cylon Gonçalves da Silva, secretário de Políticas Estratégicas e de Desenvolvimento Científico do MCT, Flávio Luizão, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), que completa 50 anos nesta terça-feira, e Yadvinder Malhi, representando a Comissão Européia.
Apresentação - O Ministério do Meio Ambiente proporá à coordenação do LBA uma apresentação de suas principais experiências e resultados ao Grupo Permanenente de Trabalho Interministerial para a Redução dos Índices de Desmatamento da Amazônia Legal. O encontro deverá ocorrer na próxima semana. De acordo com o secretário de Biodiversidade e Florestas do MMA, João Paulo Capobianco, o objetivo é levar ao Grupo, formado por representantes de 15 ministérios, subsídios para a formulação e qualificação de políticas públicas. "O desafio é usar os recursos naturais com mais inteligência e racionalidade, de modo diferente do que tem ocorrido", disse.
O LBA tem como principal função estudar as relações entre a Amazônia e as condições atmosféricas e climáticas em escala regional e global, ou seja, traduzir como o desmatamento, as queimadas e outras alterações no uso da terra afetam o clima do Brasil, da América Latina e do mundo. Ao final do experimento, em 2006, também serão identificadas como as mudanças climáticas influem na biologia, na química e na sustentabilidade da floresta. Participam das atividades do LBA quase dois mil cientistas de todo o mundo, a maioria de brasileiros, entre eles alguns dos melhores especialistas em alterações climáticas e biológicas.