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Novos fornos economizam madeira da Caatinga
Aldem Bourscheit
Populações da região de Bom Jesus da Lapa, no sudoeste baiano, e também do interior do Ceará e de Pernambuco estão aprendendo a economizar lenha para fabricar carvão e, ao mesmo tempo, ajudando a preservar a Caatinga. Com a substituição dos fornos "bacurau", que consomem 7 metros cúbicos esteres de madeira (metro cúbico de madeira retorcida, típica do Semi-Árido) para fabricar um metro cúbico de carvão, pelos fornos do tipo "rabo quente" (foto), que usam apenas 3 metros cúbicos esteres de lenha para fabricar a mesma quantidade de carvão, o consumo da madeira da Caatinga é reduzido em quase 60%.
Cada forno custa em média R$ 300, e não requer muita qualificação profissional para sua construção. A tecnologia foi desenvolvida pela Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais.
O consumo da madeira para a fabricação de tijolos, atividade comum no Semi-Árido, também pode ser reduzido com melhorias nos fornos. Atualmente são usados quatro metros esteres de lenha para se fabricar mil tijolos, mas esse número pode cair para até meio metro estere com o aumento da eficiência dos fornos, que em muitas localidades são abertos e desperdiçam calor.
Experiências como essas já estão sendo incorporadas pelo Projeto de Manejo Integrado de Ecossistemas e de Bacias Hidrográficas na Caatinga , do Ministério do Meio Ambiente. O GEF Caatinga conta com US$ 4,1 milhões do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, do inglês Global Environment Facility ), apenas na sua primeira fase, até 2007, para estimular o desenvolvimento econômico e social sustentável e a conservação da Caatinga em 160 municípios de nove estados do Semi-Árido (imagem ao lado).
Esta semana, foram assinados contratos para o repasse de R$ 2,3 milhões à Fundação Araripe, Instituto Jurema, Instituto Amigos da Caatinga, Associação Plantas do Nordeste, Fundação Esquel e à ong Agendha.
Essas entidades são as primeiras parceiras do programa, e serão responsáveis por estudos envolvendo o melhor uso dos recursos naturais, sobre espécies animais e vegetais, desenvolvimento de programas de capacitação de produtores e técnicos, formação de bancos de dados, análise das linhas de crédito e fontes de financiamento, e ainda elaboração de programas para difusão de informações sobre práticas que levem ao uso susentável e à recuperação da Caatinga. Novos contratos serão firmados em breve.
De acordo com o coordenador do GEF Caatinga, Francisco Barreto Campello, o programa aposta em boas práticas de manejo para evitar o esgotamento da vegetação. Além da escassez de recursos para famílias e atividades produtivas, isso pode levar ao avanço da desertificação com o empobrecimento do solo. "O combate à destruição da Caatinga e à desertificação será reforçado com reflorestamento em pontos críticos e com o manejo adequado dos recursos naturais da região", disse.
No Semi-Árido, que abrange nove estados do Nordeste e parte de Minas Gerais e do Espírito Santo, muitas famílias e grande parte da produção ainda dependem da madeira e do carvão, produzidos com a madeira da Caatinga. Conforme Campello, 40% do parque industrial nordestino ainda usa lenha. "É a segunda fonte de energia da região, atrás apenas das usinas hidrelétricas", salientou.
Geração de energia em residências e indústrias, alimentação animal, construção de habitações, de escoras e de mourões, por exemplo, ainda são mantidas com a exploração predatória dos recursos naturais. Na região, o consumo industrial de madeira é de 29 milhões de metros esteres de madeira por ano, enquanto que o consumo nas residências chega a 39 milhões de metros esteres a cada ano.
Para Campello, uma solução para esse problema seria aumentar o número de unidades de conservação, da área de florestas manejadas e incentivar o plantio de espécies nativas e exóticas.
Apesar de aproximadamente 50% da Caatinga ainda possuir cobertura vegetal, as áreas protegidas ocupam apenas 2% do Semi-Árido, e a maioria delas não está exatamente naquele bioma. As ações do GEF Caatinga estão voltadas justamente para a recuperação de áreas degradadas e ainda para a criação de três corredores ecológicos e de uma unidade de conservação.
Os corredores serão implementados nas regiões de Peruaçú e Jaíba, em Minas Gerais, das serras da Capivara e das Confusões, no Piauí, e no sertão de Alagoas e Sergipe. Conforme Campello, os corredores não servirão apenas para unir fragmentos de florestas. "As populações dessas áreas receberão apoio e assistência técnica e serão estimuladas a práticas como recuperação de florestas e de áreas degradadas", disse.
Municípios por Estado
Bahia
19
Minas Gerais
8
Alagoas
11
Sergipe
4
Pernambuco
19
Ceará
38
Paraíba
18
Rio Grande do Norte
16
Piauí
27
Total
160