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Prêmio motiva guardiões de árvore rara
WALESKA BARBOSA
Foi com um cartaz ao estilo Bang-Bang que o engenheiro florestal Fernando Moreira Fernandes começou a busca de sua vida, em Minas Gerais. Abaixo do famoso “Procura-se”, no entanto, não estava a imagem de um vilão e sim a foto de uma espécie criticamente ameaçada de extinção, a Dimorphandra wilsonii ou faveiro-de-wilson.
Fernando relembra o início do Projeto Conservação e Manejo do Faveiro-de-wilson, coordenado pela Fundação Zoo-Botânica do Jardim Botânico de Belo Horizonte, um ano depois de a iniciativa vencer o Prêmio Nacional da Biodiversidade – PNB, na categoria Órgão Público. As inscrições para a segunda edição estão abertas até 22 de outubro.
“Ser selecionado foi uma vitória. Ganhar, então, foi uma grande surpresa”. Ele conta que o projeto já havia sido divulgado em algumas reportagens e tinha um certo reconhecimento local. “Mas prêmio mesmo, de verdade, foi o primeiro. Divulgamos a notícia entre todos os parceiros, apoiadores e colaboradores e todo o mundo ficou muito feliz e motivado”, comemora.
Para ele, a conquista também aumenta a responsabilidade. “Indica que estamos no caminho certo e que é preciso persistir, apesar de entraves como a falta de recursos”.
RARIDADE
Em 2003, Fernando Moreira foi convidado por um colega para conhecer uma espécie supostamente rara, encontrada em Paraopebas, Minas Gerais. A suspeita se confirmou porque, nas redondezas, eles encontraram apenas 12 indivíduos, esparsos e em meio à braquiária (capim plantado em área de pastagem). Fernando foi tomado pela curiosidade típica dos pesquisadores. “Existem mais delas? Estão em extinção? Como se reproduzem?”
Para obter as respostas, ele se inspirou no Velho Oeste e pensou no cartaz para mobilizar os proprietários da região e descobrir se eles tinham um exemplar do faveiro – a iniciativa deu início à pesquisa que continua até hoje.
Na primeira fase de trabalho, uma equipe percorreu, de carro, 10 mil quilômetros, abordou cerca de mil pessoas e passou por 74 municípios, perguntando, informando, mostrando e colando o cartaz com a foto e as características da espécie.
Dois anos depois, a primeira resposta e um faveiro-de-wilson a mais. Com a propaganda boca a boca e o envolvimento das pessoas, o número aumentou.
“Não fazemos mais essa busca in loco . Mas ainda recebemos telefonemas de gente que tem ou acha que tem a espécie em suas terras. Aí, vamos lá conferir”, explica Fernando.
PARCEIROS
O Projeto Conservação e Manejo do Faveiro-de-wilson conta com uma rede de parceiros e envolve dezenas de pessoas nas atividades de pesquisa, conservação e cultivo.
O Plano de Ação Nacional (PAN) lançado em 2014 traz as informações já catalogadas sobre genética, fenologia, cultivo e fisiologia da árvore e, ainda, os passos necessários para a sua conservação – preservação das populações existentes, reintrodução e restauração do habitat. Mas sua implementação ainda depende do aporte de investimentos.
Apesar do esforço, o status de criticamente em perigo não mudou e precisa de muito tempo para ser alterado pelo fato de o faveiro ser endêmico (ocorre apenas em determinada área), ter crescimento lento e levar cerca de 15 anos até a vida adulta.
Ele ocorre em baixa quantidade, de forma esparsa, em meio a regiões degradadas e urbanizadas, áreas de pastagens ou lavouras, perdeu seu habitat e os dispersores naturais de sementes, que segundo estudos, seriam as antas.
GUARDIÕES DA NATUREZA
O faveiro-de-wilson pode atingir até 17m de altura e 1,12m de diâmetro, produz floração abundante e uma vagem de cheiro adocicado, que atrai o gado. Como acontece com uma espécie irmã, a Dimorphandra mollis , ele apresenta a rutina, substância usada pela indústria farmacêutica. Mas no seu caso, a exploração comercial não é viável.
Para Fernando, ter utilidade ou não para o homem é uma informação secundária. “A prioridade é livrá-lo da extinção, preservando a biodiversidade do país”.
Atualmente, estão catalogados 250 faveiros adultos vivos e 80 jovens, na região central de Minas Gerais, área de transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica.
De acordo com o pesquisador, o número não sofreu baixas porque os donos das áreas terminam virando parceiros e conservadores. “Conseguimos o comprometimento das pessoas de não cortar ou queimar os exemplares encontrados”, explica.
Um dos protetores é Tomé Gonçalves, 58 anos, produtor e comerciante de Fortuna de Minas. Ele diz que viu uma reportagem sobre o faveiro-de-wilson e desconfiou que já o conhecia. Em conversa com o pesquisador, confirmou de que se tratava da espécie e passou a protegê-la, na propriedade de 25 hectares.
“A vagem dela é muito cheirosa e o gado come demais. Eu tenho várias aqui e desde que descobri que está em extinção, ensinei a quem trabalha comigo a não cortá-la quando roça o terreno. As infantes terminam sendo cortadas ou pisadas pelo gado. Mas das adultas, cuidamos. As pessoas cortam porque não sabem dos benefícios. Falta informação”, avalia.
RECONHECIMENTO
Iniciativas, atividades e projetos concluídos ou em estágio avançado de execução, que apresentem resultados e impactos comprovados para a melhoria do estado de conservação da biodiversidade brasileira, podem participar da segunda edição do Prêmio Nacional da Biodiversidade (PNB).
As inscrições estão abertas até 22 de outubro. A iniciativa é coordenada pela Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (SBF/MMA). Tem como objetivo reconhecer ações que se destacam na contribuição para o alcance das Metas Nacionais de Biodiversidade.
Em sua segunda edição, o PNB contempla sete categorias: Sociedade Civil, Empresas, Iniciativas, Comunitárias, Academia, Órgãos públicos, Imprensa e, Ministério do Meio Ambiente. A Comissão Julgadora selecionará três finalistas e um vencedor em cada categoria, de acordo com os seguintes critérios: estado de conservação da espécie; impacto; caráter social; e inovação.
PREMIAÇÃO
Os vencedores serão agraciados com troféu e certificado, em solenidade no dia 22 de maio de 2017, em Brasília-DF, quando se comemora o Dia Internacional da Biodiversidade. Também será concedido o Prêmio Especial “Júri Popular”, cujo resultado é definido por votação eletrônica no sítio do MMA.
São elegíveis iniciativas que promovam a manutenção ou a mudança para uma categoria de menor risco de extinção da espécie ou demonstrem evidências claras que comprovem o alcance de, ao menos um, dos seguintes itens: Redução do declínio ou aumento do tamanho da população; redução da fragmentação ou aumento da conectividade entre as subpopulações; ampliação da área de distribuição da espécie, mesmo que seja por identificação de novas áreas ou; redução das ameaças às populações das espécies.
CRONOGRAMA:
Inscrições: 30 de junho de 2016 a 22 de outubro de 2016
Avaliação: até 18 de abril de 2017
Divulgação dos finalistas: 22 de abril de 2017
Cerimônia de premiação: 22 de maio de 2017
Acesse o Edital
(Edital nº 1, de 28 de junho de 2016)
Informações adicionais:
premionacionaldabiodiversidade@mma.gov.br
Assessoria de Comunicação Social (Ascom/MMA): (61) 2028-1227