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Quintais Produtivos: lições para conviver melhor com a seca do Semiárido nordestino
Por Marta Moraes – Editor: Marco Moreira
Para quem acha que é difícil diversificar a produção nas condições do Semiárido brasileiro, Alaíde Dionísia Lins, que mora no Sítio Bom Retiro, município de Bodocó (PE), e Maria do Socorro Neto, da comunidade de Dourado, município de Parnamirim (PE), dão o exemplo.
Aos 62 anos de idade, Alaíde mantém um quintal produtivo diversificado com a água de cacimba, e, para ajudar no crescimento das plantas, utiliza adubo à base de esterco e cobertura morta. Práticas que ela aprendeu em uma das capacitações do projeto “Quintais Produtivos”, desenvolvido pela ONG Caatinga, com o apoio do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
“Tenho tudo no terreiro de casa, nem verdura a gente bota na geladeira. Quando precisa é só ir ao quintal. Estou com a vida que eu pedi a Deus. Passamos por secas, mas a gente vem resolvendo. O povo diz para eu botar um trator aqui dentro. O trator sou eu. Eu pego esse capim morto, pego o mato e boto em cima, quando dá um mês a terra fica boa. Coloco, então, estrume e planto o coentro”, ensina Alaíde, satisfeita.
CISTERNA
Já Dona Socorro e o marido Francisco de Assis viram, em uma das capacitações do projeto, que era possível produzir um alimento saudável sem agredir o meio ambiente com a cisterna-calçadão – que capta água da chuva por meio de um calçadão de cimento construído sob o solo.
Hoje, mais estruturados, contam com uma cisterna de enxurrada - onde o terreno é utilizado como área de captação - viveiro de mudas e, recentemente, com um bioágua, tecnologia que permitE o reuso da água da pia e possibilitar a produção de um quintal no entorno da casa da família. “Eu sempre digo que esta foi uma das maiores secas da história, mas para os agricultores familiares que receberam essas tecnologias é uma das menores, porque hoje as pessoas têm onde armazenar água”, afirma Socorro Neto.
As capacitações são uma das iniciativas do projeto “Quintais Produtivos” que vem trazendo mudanças significativas para a vida dos agricultores familiares no Território do Sertão do Araripe, em Pernambuco e, de forma mais pontual, no Território do Acauã (no Piauí).
Atualmente são cerca de 2 mil famílias beneficiadas. O projeto tem interlocução direta com os principais eixos do Plano de Ação Nacional de Combate à Desertificação (PAN-Brasil). A organização não governamental (ONG) Caatinga foi certificada, em junho deste ano, no prêmio do Programa DrylandChampions 2015 pela ação do projeto “Quintais Produtivos”.
OUTRAS PARCERIAS
O MMA tem mantido parcerias com a ONG Caatinga, com apoio à realização de capacitações e promoção de intercâmbios com famílias agricultoras, assim como tem articulado e custeado a participação da instituição em espaços e eventos de debate e construção de propostas e estratégias para promoção da agroecologia, convivência com o semiárido e combate à desertificação.
“A organização Caatinga desenvolve os quintais produtivos junto às famílias agricultoras porque acredita que esta ação aumenta a capacidade de convivência com o Semiárido e manejo dos recursos naturais, principalmente nos anos de escassez de chuvas explicou o diretor do Departamento de Combate à Desertificação do MMA, Francisco Campello. “A instituição já tem dezenas de quintais produtivos implantados que auxiliam ainda, no cumprimento das Metas do Milênio”
O PROJETO
Uma das principais ações do “Quintais Produtivos” constitui em delimitar uma pequena área cercada, localizada próximo à residência da família agricultora, disponibilizando no espaço uma série de tecnologias e subsistemas que garantam segurança alimentar e nutricional, segurança hídrica e renda da família.
É, também, uma área própria para experimentação de técnicas de produção agroecológica que poderão ser utilizadas em outros locais. As famílias com quintais aumentam sua capacidade de convivência com o semiárido e manejo dos recursos naturais, principalmente nos anos de escassez de chuvas.
A instituição Caatinga vem, há quase 30 anos, pesquisando, experimentando e divulgando tecnologias adaptadas à convivência com o Semiárido brasileiro e colaborando na organização social das famílias agricultoras. Dentre os projetos executados pela instituição durante toda esta trajetória, o projeto “Quintais Produtivos” faz parte das estratégias concretas de busca da melhoria das condições de vida das famílias, pois é bastante eficiente no processo de construção de conhecimentos e no enfrentamento às mudanças do clima.
Segundo Paulo Pedro de Carvalho, técnico da instituição, esta ação está diretamente ligada às estratégias de combate à desertificação e convivência digna e sustentável com o semiárido. “Os quintais produtivos têm demonstrado sua eficácia na produção de alimentação saudável, plantas medicinais, geração de renda, conservação de solos e outros bens naturais”, afirmou. “Assim como são espaços propícios para que as famílias construam novos conhecimentos a partir do processo de experimentação e troca de saberes.”
Além do MMA, o projeto conta também com o apoio dos ministérios do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS); Petrobras; Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA Brasil); ACTIONAID; entre outros parceiros.
Colaborou: Assessoria de Comunicação da ONG Caatinga
Assessoria de Comunicação Social (Ascom/MMA) – (61) 2028.1165