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Modelo de desenvolvimento da Amazônia é equivocado
Aldem Bourscheit
O modelo de desenvolvimento que levou à destruição da Mata Atlântica em São Paulo foi exportado para a Amazônia, e isso poderá trazer graves efeitos para a sobrevivência da floresta tropical. O alerta é do agrônomo Mauro Antonio de Moraes Victor que, junto com João Guillaumon, Antônio Cavalli e Renato Serra, lança hoje, em Brasília (DF), a obra Cem anos de devastação - Revisitada 30 anos depois.
O lançamento será às 17h, no Hotel Parthenon Flat (Setor Hoteleiro Norte, Quadra 5, Bloco 1). A edição do livro foi possível com o apoio da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente. O título é o 15º da série Biodiversidade, publicada desde 2000.
Na obra, o agrônomo compara os remanescentes de Mata Atlântica com as paisagens que vislumbrou nos anos 70. Formações de Cerrado, Cerradão, restingas e mangues praticamente desapareceram de São Paulo. Segundo ele, a cobertura de matas nativas do estado caiu de 8,3% para cerca de 5% nos últimos 30 anos. "Hoje o verde é extremamente raro em São Paulo", alertou.
Victor, que é representante da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência na Comissão Coordenadora do Programa Nacional de Florestas (Conaflor) do MMA, também alerta para o fato de que o modelo de desenvolvimento que está sendo implementado na Amazônia não leva em consideração as características e a fragilidade dos solos da região.
"As terras da Mata Atlântica são diferentes, mais resistentes", disse. Além disso, a economia que se instalou no norte do País não valorizaria o capital natural brasileiro, apenas o capital financeiro. "É um equívoco transportar esse modelo (de São Paulo) para a Amazônia. Estamos destruindo nossas riquezas e vendendo nossas matérias-primas a preço de nada", salientou.
Corte raso e seletivo, estradas clandestinas, queimadas e mineração teriam afetado 50% da floresta tropical. "Isso é uma grande catástrofe", disse Victor. "A sociedade terá de decidir se quer ou não prosseguir com a devastação da Amazônia", completou.
A primeira verão de Cem anos de devastação, publicada por Victor em 1975, marcou uma geração de ambientalistas. A obra traçava um panorama da destruição da Mata Atlântica paulista ao longo de vários ciclos econômicos. Tudo começou no Século 16, com a cana-de-açúcar, mas a perda de florestas se intensificou com o avanço dos cafezais pelo Vale do Rio Paraíba. Entre 1890 e 1927, o número de pés de café no estado saltou de 220 milhões para 1,3 bilhão.
Com os lucros do café, foi possível abrir ferrovias, que contribuíram para o avanço descontrolado do desmatamento e da urbanização pelo interior do estado. Na carona, estavam a agricultura com uso de agrotóxicos e as pastagens para a pecuária, seguidas pela industrialização.
Os volumes da série Biodiversidade podem ser solicitados junto ao Centro de Informação e Documentação do MMA, pelo e-mail cid-ambiental@mma.gov.br ou pelo fone (61) 4009-1235, ou junto ao ProBio, pelo e-mail probio@mma.gov.br ou pelo fone (61) 3325-5768.