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Ministério apóia projetos de agricultura familiar
Aldem Bourscheit
Encravado no Semi-Árido do norte mineiro, no município de Montes Claros, o Centro de Agricultura Alternativa (CAA) trabalha desde 1995 para fortalecer a agricultura familiar em 17 municípios da região. O centro recebeu apoio do Ministério do Meio Ambiente e privilegia produtos orgânicos dos chamados sistemas agroflorestais, onde as plantações convivem com a floresta, e o extrativismo de frutos do Cerrado e da Caatinga.
Em 1998, como fruto do trabalho do CAA, surgiu a Grande Sertão, empresa que tem auxiliado cerca de 700 famílias de pequenos agricultores na busca de alternativas para a geração de renda e de trabalho. Todos os produtores estão envolvidos com o extrativismo, voltado à fabricação de polpas de frutas, óleos, farinhas e doces. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, visitou a Grande Sertão e o centro em agosto do ano passado.
A empresa foi uma das oito entidades apoiadas pelo Ministério do Meio Ambiente para participar das feiras de orgânicos Natural Tech e BioBrazil Fair, em São Paulo, entre os dias 7 e 11 deste mês.
Segudo João Carlos Ávila, membro da Grande Sertão e da Comissão de Orgânicos de Minas Gerais, a produção de orgânicos é tradicional no norte mineiro. É a "forma mais antiga de relação do homem com a natureza", disse. Para o engenheiro de alimentos, as lavouras de monocultura e as plantações de eucaliptos e pinus vêm prejudicando o extrativismo, que tradicionalmente não reconhece muros ou cercas, e os recursos hídricos da região.
Segundo ele, estudos do CAA mostram que a quantidade de nascentes na região teria caído de mais de seis mil, nos anos 70, para menos de mil, nos dias atuais. "Revendo os conceitos atuais de produtividade e de lucratividade, todos podem produzir alimentos sem agrotóxicos ou insumos químicos, do pequeno ao grande agricultor. Isso também ajudaria na preservação e recuperação ambiental".
Também participaram das feiras de orgânicos com apoio do Ministério do Meio Ambiente representantes do projeto Reca (Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado), do distrito de Nova Califórnia, em Rondônia, na divisa com o Acre, do Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre (Pesacre), do Terra Viva - Centro de Desenvolvimento Agroecológico do Extremo Sul da Bahia, da Ajopam (Associação Juinense Organizada para Ajuda Mútua), de Juína, no Mato Grosso.
Fundado em 1989, o Reca reúne hoje 300 famílias que cultivam em sistemas agroflorestais cerca de 20 espécies amazônicas, como cupuaçu, pupunha, açaí, bacaba e andiroba. A entidade contou com recursos do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), nos anos 90, para ampliar sua infra-estrutura e capacidade de produção. No ano passado, uma grande empresa de cosméticos adquiriu 25 toneladas da manteiga de cupuaçu, usada em cremes e sabonetes, e a França já consome o palmito de pupunha produzido pelos agricultores da Associação dos Pequenos Agrosilvicultores de Nova Califórnia, embrião do Reca. Estados das regiões Sul, Sudeste e Nordeste também compram produtos da entidade. "A vida de muitas famílias melhorou com o Reca. Estradas foram construídas e a maioria já têm energia e saúde", disse Hamilton Oliveria, membro da entidade.
A Ajopam foi criada em 1991 em Juína, município de 40 mil habitantes no oeste do Mato Grosso, na divisa com Rondônia e próximo à fronteira com a Bolívia. A entidade possui 140 famílias de pequenos produtores e indígenas associadas, mas atende cerca de 300 famílias por meio do ProAmbiente (Programa de Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar Rural (Proambiente), do MMA. A associação também foi beneficiada com recursos do Fundo Nacional, ano passado. Até o fim deste ano, a entidade deverá lançar uma linha de palmito de pupunha, com apoio do programa PDA (Projetos Demonstrativos).
Orgânicos - Com a aprovação da Lei dos Orgânicos (Lei 10.831), sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 23 de dezembro do ano passado, o Brasil passou a ocupar o segundo lugar na produção mundial de orgânicos. O País está atrás apenas da Austrália.
Isso foi possível com a incorporação na categoria de orgânicos de 5,7 milhões de hectares onde se pratica extrativismo de produtos típicos das florestas tropicais, como a pupunha, açaí e andiroba. Estimativas mostram que existem cerca de 20 mil agricultores orgânicos no Brasil. Esse tipo de agricultura produz alimentos com qualidade, sem agrotóxicos e resíduos químicos, e também em quantidade. Além disso, é uma prática que pode garantir o sustento dos agricultores familiares, permitindo que produzam em harmonia com o meio ambiente.