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Mensagem do diretor-executivo do Pnuma, Klaus Topfer
Mensagem de Klaus Topfer, diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho)
Procuram-se! Mares e oceanos: Vivos ou mortos?
Visto do espaço, nosso planeta é azul, o que mostra que os oceanos cobrem 70% de sua superfície. Sabemos disto devido aos bilhões de dólares que foram gastos nas últimas décadas para explorar nosso sistema solar e o espaço. A ironia desta paixão por explorar o lugar ocupado pela humanidade no universo é que aqui na Terra há uma fronteira descuidada e em grande parte desconhecida sobre a qual sabemos muito pouco. Em grande medida os mares e oceanos da Terra seguem sendo um mistério. Sessenta por cento do planeta está coberto por oceanos de mais de dois quilômetros de profundidade, a grande maioria dos quais inexplorados. Apesar disto, nossa ignorância não evita a exploração cega daquele que, como vamos percebendo de forma crescente, é um recurso frágil e finito. Mais de 70 porcento da pesca marinha se situa atualmente até seu limite de sustentabilidade ou acima dele. Em todo o mundo, os consumidores estão introduzindo novas espécies de peixes nos cardápios, uma vez que as espécies tradicionais vão se tornando ainda mais escassas, tanto que as comunidades de pescadores artesanais, que somam a metade da captura mundial de pescados, estão vendo que seus meios de subsistência estão cada vez mais ameaçados por frotas comerciais ilegais, irregulares ou subsidiadas. Ao mesmo tempo, a cada ano, práticas pesqueiras desnecessariamente destrutivas causam a morte de milhares de espécies marinhas e contribuem para a destruição de importantes habitats marinhos.
A contaminação é outra ameaça para a vida marinha, a saúde e os meios de sustento do ser humano. Oitenta porcento da contaminação dos mares tem sua origem em atividades baseadas em terra. Três quartos das megalópoles do mundo se encontram à beira-mar e 40 porcento da população do mundo vive atualmente a 60 quilômetros da costa ou menos. A mortalidade e as enfermidades causadas pela contaminação das águas costeiras custam 12,8 bilhões de dólares por ano à economa mundial. Apenas o impacto econômico anual da hepatite causada por mariscos contaminados chega a 7,2 bilhões de dólares. Contudo, as populações e industrias costeiras não são as únicas que contaminam os oceanos. Os rios que desembocan no mar transportam sedimentos, águas residuais não tratadas, dejetos industriais e um espectro de desperdícios sólidos de fontes interiores remotas. A cada ano, toneladas de produtos de plástico vão parar nos oceanos, causando a morte de centenas de milhares de mamíferos marinhos e aves oceânicas e de um número incalculável de peixes. Esses dejetos não são apenas mortíferos, mas tambén persistentes. Os animais mortos por causa do plástico se decompõem, mas o plástico não. Ele, permanece no ecossistema, onde volta a matar repetidamente. O excesso de adubos empregados na agricultura que, ao ser transportado pelas águas, cria um número cada vez maior de zonas costeiras mortas onde as populações de algas consomem periodicamente todo o oxigênio da água, se adiciona aos males dos oceanos. Acrescenta-se ainda, o aquecimento atmosférico, que está elevando o nível dos mares e as temperaturas. A mudança climática ameaça destruir a maior parte dos recifes de coral do mundo, causar estragos nas frágeis economias dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento e devastar a vida de bilhões de pessoas que vivem em zonas alcançadas pelas tempestades, furacões e tufões cada vez mais ferozes que estão atingindo as costas de todo o mundo. A soma de tudo isto configura un quadro de ecossistema em crise. É por isso que o PNUMA elegeu Procura-se! Mares e oceanos: Vivos ou mortos? como tema para o Dia Mundial do Meio Ambiente de 2004.
A mensagem é simples. Podemos eleger entre atuar agora para salvar nossos recursos marinhos o ser testemunhas de como a rica diversidade da vida em nossos mares e oceanos chega abaixo do ponto de recuperação. A boa notícia é que não apenas está aumentando em todo o mundo a consciência da crise enfrentada por nossos mares e oceanos, mas também o compromisso de fazer algo a respeito. Na Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável os governos concordaram em uma série de metas com prazos determinados para melhorar a legislação da pesca e demonstrar em enfoque por ecossistemas a
respeito do desenvolvimento sustentável dos mares e oceanos - inclusive o establecimento de uma rede representativa de zonas marinhas protegidas e um processo periódico para informar sobre o estado do meio marinho e avaliá-lo. Essas metas complementam os objetivos internacionalmente acordados em matéria de desenvolvimento previstos na Declaração do Milênio. A redução da fome e da pobreza, assim como o melhoramento da saúde, da educação e das oportunidades de para os seres humanos - sobretudo mulheres e crianças - em todo o mundo, contribuiria sobremanera para reduzir a carga que pesa sobre os mares e oceanos. O PNUMA é um dos principais participantes em muitos dos mecanismos que servirão para alcançar essas metas. Além de participar nos preparativos para a Avaliação Mundial do Meio Marinho, no último ano, o PNUMA contribuiu para alertar à comunidade mundial sobre o papel e o estado de habitats marinhos fundamentais, como os forragens de pastos marinhos, os corais de água fria e temperada e a importância de se aumentar a superfície das zonas marinhas protegidas, representada atualmente por menos de 0,5 porcento dos mares e oceanos. Estes habitats se beneficiarão também da influência crescente do Programa de Ação Mundial (PAM) para a proteção do meio marinho frente às atividades realizadas em terra do PNUMA e da rede de programas e planos de ação de mares regionais respaldada pelo PNUMA. No entanto, nenhum destes muitos planos de restauração e desenvolvimento sustentável dos mares e oceanos do mundo terá êxito sem o respaldo ativo de todos os setores da sociedade. A cada ano, o Dia Mundial do Meio Ambiente oferece às pessoas, comunidades, empresas, indústrias e aos governos locais e nacionais a oportunidade de centrar-se nos questões ambientais do mundo. Este ano o olhar está focado sobre os mares e oceanos. Mortos ou Vivos? A decisão é sua.