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Madeireiros peruanos invadem o Brasil atrás de madeiras nobres
Depois de esgotar as reservas de madeiras de lei na região próxima à fronteira, madeireiros peruanos estão invadindo o território brasileiro e desmatando porções da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, no Acre. A denúncia foi feita por lideranças Ashaninkas recebidas hoje pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (foto). Em março deste ano, foram expulsos do país 30 madeireiros que levavam para o Peru toras de mogno e operavam com o uso de maquinário de grande porte, além de armas de fogo de grosso calibre para intimidar os índios. Os madeireiros peruanos contruíram, inclusive, uma estrada circundando a fronteira brasileira para facilitar a extração ilegal de árvores. "Precisamos de apoio para nos defender e também para continuar nosso trabalho, ajudando outras comunidades a preservar", disse o cacique Moisés Piyãko Ashaninka.
Os Ashaninkas representam uma população de cerca de mil pessoas no Brasil e mais de 55 mil no Peru. Na Terra Indígena Kampa vivem cerca de 500 pessoas (destaque no mapa ao lado). A área fica no extremo oeste do Acre, a cerca de quatro horas de barco de Marechal Thaumaturgo, a treze quilômetros da fronteira com o Peru e a 850 quilômetros da capital Rio Branco. A terra faz divisa com a Reserva Extrativista do Alto Juruá e com um assentamento do Incra. Ao norte e ao sul faz divisa com o Peru. A demarcação da área, com mais de 87 mil hectares, aconteceu em 1994. A invasão e o desmatamento ilegal têm provocado contaminação de rios e declínio no número de espécies, caçadas pelos madeireiros, além de intensa preocupação para os indígenas. Desde então, os Ashaninkas (a palavra significa gente, ser humano) vêm desenvolvendo trabalhos para fortalecer a cultura, a arte e a gestão dos recursos naturais.
Os Ashaninka da Terra Kampa tê se destacado por sua liderança na região, sendo referência no debate sobre sustentabilidade, pois usam em suas terras práticas de vanguarda em conservação da natureza e de organização comunitária. A partir de projetos que incluem o manejo da fauna, como de abelhas, tracajás e jabutis, pesquisas de aromas e essências, a produção de artesanato e a educação, os índios traçaram um plano de desenvolvimento sustentável. Ao longo dos anos, vêm conseguindo preservar e recuperar áreas degradadas e também repovoar matas e rios. Cada família possui um roçado e é praticamente autônoma. Mas isso não exclui relações com outras famílias, já que a carne e o peixe são distribuídos dentro do grupo local. O trabalho, mesmo sem apoio institucional contínuo, já influencia outras comunidades a buscar o uso sustentável das suas riquezas naturais. "Os Ashaninkas são exemplo para o Brasil em termos de organização", disse Marina Silva.
Os secretários de Coordenação da Amazônia e de Biodiversidade e Florestas, Muriel Saragoussi e João Paulo Capobianco, respectivamente, organizarão, ainda esta semana, encontros das lideranças Ashaninka com setores como agroextrativismo e recursos genéticos do Ministério do Meio Ambiente para que o trabalho desenvolvido pelos indígenas possa ser melhor conhecido, aproveitado e apoiado. Além disso, o MMA apoiará o agendamento de encontros com outros ministérios e instituições governamentais. Durante o encontro, a ministra Marina Silva foi presenteada com um traje típico ashaninka.
Os Ashaninkas estão em Brasília para o evento
Floresta Amazônica: Gente e Natureza
, que inclui ainda a
Semana Ashaninka e Apiwtxa
, com a exposição
Nos Meandros do Juruá
, e uma "confraternização musical", reunindo músicos da aldeia Ashaninka Apiwtxa e a cantora Keilah Diniz.
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