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Lobos-guarás são vítimas nas estradas brasileiras
Brasília (DF) - Das 26 espécies de carnívoros do país, o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) é seguramente uma das maiores vítimas dos atropelamentos nas estradas brasileiras. Dados da Estação Ecológica de Águas Emendadas, no Distrito Federal, apontam que, em média, mais de quatro lobos-guarás (foto) são mortos anualmente por veículos que passam em alta velocidade pela rodovia que margeia a reserva.
Se projetados para outras regiões, os dados revelam um grave problema para a conservação da espécie, que está na Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. O índice de atropelamentos de lobos é considerado altíssimo para um animal cuja população é escassa e encontra-se em situação vulnerável.
A espécie é uma das prioridades do Centro Nacional de Pesquisa para Conservação dos Predadores (Cenap) do Ibama e da Associação Pró-Carnívoros, informa Ronaldo Morato, coordenador técnico do centro. Segundo ele, o Cenap e a Associação preparam, junto com outros especialistas no assunto, uma plano de ação nacional que pretende garantir a sobrevivência da espécie que se tornou bandeira da conservação ambiental e símbolo do Cerrado.
Estudioso sobre os lobos-guarás, o professor Flávio Rodrigues, da Universidade de Brasília e da Pró-Carnívoros, aponta que as principais causas dos atropelamentos são o excesso de velocidade e a falta de sinalização nas estradas e rodovias e a inexistência de vias especiais de acesso subterrâneo para os animais cruzarem a pista. "Sinalização só não basta", adverte o pesquisador. Segundo ele, é preciso que haja orientações constantes aos motoristas e dispositivos de controle de velocidade em regiões de ocorrência dos lobos, principalmente nas imediações das Unidades de Conservação (UCs).
Para orientar os motoristas, a Pró-Carnívoros elaborou uma cartilha com principais procedimentos a serem adotados pelos motoristas que circulam em regiões onde existem lobos-guarás. Maior canídeo da América do Sul, ele é característico de ambientes abertos, principalmente os cerrados. Podem ser encontrados também em campos sulinos e têm sido registrados ainda em regiões desmatadas de Mata Atlântica, que se tornaram campos abertos.
Existem populações nas matas do Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Bahia, sul do Piauí, Maranhão, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.
De acordo com o pesquisador Ronaldo Morato, do Cenap/Ibama, os lobos necessitam de grandes extensões de área para manter uma população viável. O tamanho das áreas e a característica territorial da espécie impedem que grandes densidades populacionais sejam atingidas. Segundo ele, a intenção dos especialistas é iniciar ainda este ano uma levantamento em todo o território nacional para conhecer melhor a população dos lobos-guarás. Os recursos deverão sair do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), que estabeleceu novas perspectivas de financiamento de pesquisas e ações de conservação para animais silvestres brasileiros ameaçados de extinção.
MITO - A vida dos lobos é cercada de histórias, lendas e mitos que nem sempre condizem com o comportamento da espécie. A fama de feroz e comedor de galinhas é falsa. Na verdade, os lobos-guarás são animais arredios que só se aproximam das áreas urbanas quando lhes faltam regiões selvagens por onde peregrinar. Quanto às galinhas, os pesquisadores garantem que a dieta dos lobos é diversificada, caracterizada por frutos silvestres ou animais de pequeno porte que ele caça durante suas incursões noturnas. Galinhas são item raro na alimentação dos lobos. Entram no cardápio só quando o homem não deixa para os lobos nenhuma outra alternativa de sobrevivência.
Cartilha ajuda a evitar atropelamentos
Para evitar atropelamentos nas estradas brasileiras, a Associação Pró-Carnívoros preparou uma cartilha que orienta motoristas sobre as melhores formas de proceder ao volante, principalmente nas imediações das unidades de conservação, tais como parques nacionais, estações ecológicas e reservas biológicas. A cartilha está disponível no site www.procarnivoros.org.br.
Escrita em forma de perguntas e respostas, a cartilha é um dos instrumentos que os pesquisadores encontram para ajudar a garantir a sobrevivência dos lobos-guarás. Eis alguns trechos:
Ao dirigir, o que fazer para diminuir a chance de atropelamento de fauna?
Respeite o limite de velocidade e ande até abaixo dele próximos de Unidades de Conservação - Parques e Reservas. Evite trafegar nos horários de crepúsculo, quando os animais são mais ativos. Diminua a velocidade ao passar próximo aos rios. Os animais são freqüentes nestes locais.
O que devo fazer ao ver um animal silvestre atropelado?
Para sua segurança, não pare na pista. O acostamento das rodovias deve ser utilizado apenas para situações de emergência. Anote a estrada, a quilometragem na estrada, se era de terra, de asfalto e com quantas faixas, o sentido da pista, a espécie de animal que você acha que era, as condições do tempo (chuva, neblina etc), data, hora, se foi você quem atropelou, se presenciou o atropelamento ou se apenas encontrou a carcaça já morta. Posteriormente você passará estas informações para a Pró-Carnívoros no (0xx11) 6232-6256. Se a estrada está sob responsabilidade de uma concessionária, você deve imediatamente informá-los sobre o atropelamento. Eles devem providenciar o socorro do animal se ele estiver ferido, ou a retirada da carcaça, se já estiver morto. Se não for retirada do local, a carcaça poderá atrair animais carniceiros para a pista e logo eles também poderão ser atropelados.
Se você decidir parar no acostamento para observar melhor o animal, lembre-se: Não toque no animal. Se ele estiver ferido poderá agredir você. Mesmo morto, pode lhe transmitir doenças muito perigosas. Se fotografar, lembre-se de colocar algo ao lado da carcaça para servir de parâmetro do tamanho (uma caneta, uma caixa de fósforos etc). Em breve você poderá enviar esta foto juntamente com o formulário para que seja possível quem sabe a confirmação da espécie.
O que vai ser feito com as informações que você fornecer?
Sua informação será somada as de outros motoristas e, com o tempo, esperamos poder apontar, neste site, rodovias e trechos específicos com maior número de ocorrências relatadas pelos internautas. Com isso: antes de sair em viagem você poderá checar se vai passar por algum trecho muito citado e, assim, dirigir com cuidado nestas áreas; Jornais, escolas, ONGs, e pesquisadores de universidades próximas destes locais poderão se voltar para o problema procurando a melhor solução local; Eventualmente, em casos em que fique registrada taxa expressiva de acidentes com fauna, a Pró-Carnívoros poderá diretamente promover ações para comprovar cientificamente o relatado pelos internautas e encaminhar soluções.