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Lançada 3ª Jornada na Cidade sem meu Carro
Brasília (DF) ? Os ministérios do Meio Ambiente e das Cidades e o Instituto da Mobilidade Sustentável Ruaviva lançaram, nesta quarta-feira, a 3ª Jornada Brasileira na Cidade sem meu Carro. A iniciativa pretende mobilizar as cidades brasileiras para que, em 22 de setembro, restrinjam o trânsito de automóveis em suas zonas centrais. Os objetivos da Jornada são: refletir sobre os problemas causados por um modelo de mobilidade com base no automóvel; fomentar o uso racional e solidário dos carros; estimular o uso do transporte coletivo, de bicicleta ou a pé.
O lançamento da campanha aconteceu nesta tarde, no Ministério do Meio Ambiente, e contou com as presenças da ministra Marina Silva e do ministro das Cidades, Olívio Dutra, do Secretário Nacional de Transportes e Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, José Carlos Xavier Grafite, da secretária de Qualidade Ambiental do MMA, Marijane Lisboa, e da diretora do Instituto Ruaviva, Liane Born, além de parlamentares e representantes do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) e de entidades civis.
A violência no trânsito, a poluição, os congestionamentos e o estresse da chamada vida moderna estão ligados, entre outros pontos, à dependência da sociedade ao automóvel. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a atmosfera terrestre está saturada pela quantidade de poluentes, e isso estaria causando vários problemas de saúde e até alterando as condições de vida no planeta. Para a ministra Marina Silva, o desafio a que se propõe o Governo Federal com essa iniciativa é o de iniciar um processo de criação de uma nova cultura, de firmar novos valores. "A liderança pelo exemplo é sempre muito forte", disse. A ministra lançou, durante o evento, a proposta para que seja feito um cadastro de pessoas dispostas a tornar seus veículos verdadeiros "coletivos" no Dia Mundial na Cidade sem meu Carro, 22 de setembro. Assim, por exemplo, vizinhos e amigos poderiam se deslocar para seus locais de trabalho fazendo uso de um número menor de veículos.
O ministro das Cidades, Olívio Dutra, salientou o fato de que 300 mil acidentes de trânsito acontecem todos os anos no Brasil, deixando 350 mil pessoas feridas e 30 mil mortos. "Vivemos uma tragédia nacional", destacou. Ele declarou que a campanha não é contrária à indústria automobilística, mas que irá trabalhar para que a sociedade tenha mais qualidade de vida, mais e melhores meios de transporte público, novas relações entre as máquinas e o Homem, com geração de empregos e de renda. "Esperamos estar fecundado todo o conjunto do Governo com essa atitude".
Para a engenheira e consultora de transportes Liane Born, do Instituto Ruaviva, deve haver um grande avanço na Jornada 2003 com a integração dos setores de transportes e de meio ambiente. Segundo ela, existem mais de 100 mil ônibus prestando transporte coletivo urbano no Brasil, e essa frota é responsável pelo mobilidade de 70% da população brasileira, cerca de 120 milhões de pessoas. "Se o transporte coletivo fosse mais eficiente e democrático, esse número poderia ser bem maior", afirma. "Não se trata de uma guerra contra o automóvel. Queremos abrir um debate, uma reflexão, sobre o sistema de transporte adotado no Brasil".
As Jornadas vêm ocorrendo no país há dois anos, ainda de forma tímida. Em 2001, 12 cidades participaram, e, em 2002, cerca de 25 municípios se engajaram na campanha. Com a parceria governamental, deve haver um incremento nas ações e no número de cidades envolvidas. "Esperamos que pelo menos 50 municípios restrinjam o trânsito nesse 22 de setembro", disse Liane. Em 2002, 1,6 mil cidades em 24 países integraram a campanha.
Os municípios que desejarem participar da Jornada deste ano deverão declarar sua intenção por meio de um termo de adesão. Deverão ainda promover atividades e debates com a comunidade. No dia 22 de setembro, o acesso de automóveis a alguns setores da cidade deverá ser restringido, permitindo apenas o trânsito de pedestres, de ciclistas, de coletivos e de serviços essenciais.
PIONEIRISMO ? A cidade francesa de La Rochelle, em 1997, foi a primeira a debater abertamente o tema transporte público. Em 1998, com ampliação do movimento, a ministra francesa do Meio Ambiente propôs a países vizinhos e à União Européia o evento Na Cidade sem meu Carro. Já em 2000, mais de 14 países da União se envolveram com a campanha.
No Brasil, o Estado de Santa Catarina instituiu, em julho deste ano, a Lei Estadual 12.641, que criou o Dia Catarinense sem Carros. "A definição da data segue uma tendência mundial e quer promover a conscientização da população sobre as conseqüências do uso excessivo do carro", explicou o deputado Afrânio Boppré, autor da lei.
No Paraná, a capital Curitiba pode ser citada como exemplo. Mesmo com 1,6 milhão de habitantes e uma frota de 700 mil veículos, a cidade aposta em alternativas como a bicicleta, com 150 quilômetros de ciclovias instaladas. Além disso, foram feitos ajustes nas calçadas para portadores de necessidades especiais e está sendo desenvolvido projeto para aproximar os locais de trabalho das zonas residenciais.