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Investidores precisam pensar a longo prazo
Gisele Teixeira
Para a gestão da biodiversidade trazer resultados positivos ao setor privado, é necessário combater a ênfase excessiva nos resultados financeiros de curto prazo. Esta é a principal conclusão do estudo Negócios e Biodiversidade no Brasil: experiência e ferramentas para o engajamento corporativo na Conferência sobre Diversidade Biológica (CDB), de autoria dos pesquisadores Peter May e Valéria da Vinha, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O documento foi apresentado hoje na reunião Empresas e as Metas de 2010 - Desafios para Biodiversidade, que conta com a presença de empresários nacionais e internacionais, no Hotel Transamérica, em São Paulo.
O evento é promovido pelo MInistério do Meio Ambiente e Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável. O objetivo é encontrar caminhos que permitam um maior engajamento do setor privado na preservação e uso sustentável da diversidade biológica, que, segundo a CDB, é "a variedade de organismos vivos de qualquer fonte, incluídos, entre outras coisas, os ecossistemas terrestres e marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos; compreende a diversidade dentro de cada espécie, entre as espécies e dos ecossistemas". "Há uma ligação direta entre negócios, consumo e perda de diversidade", afirmou Joshua Bishop, representante da The World Conservation Union (IUCN). Ao final do encontro, no sábado (5), será produzido um documento que será encaminhado à 8ª Conferência das Partes da CDB, que acontece entre 20 a 31 de março, em Curitiba (PR).
A necessidade de uma visão de longo prazo também foi defendida pela inglesa Kerry ten Kate, representante da Insight Investments, companhia britânica que administra US$ 150 bilhões de quinhentos fundos de pensão do mundo inteiro. "Para um avalista de investimento, longo prazo é o espaço de um ano e meio. Mudar essa mentalidade é o nosso desafio", disse.
Autoridades brasileiras e internacionais convergem na defesa de que é preciso estabelecer uma nova forma de fazer negócios, que leve em conta as variáveis ambientais. A perda de biodiversidade irá afetar os atuais modos de produção e insumos ambientais que hoje são gratuitos irão acabar ou irão tornar-se muito caros.
Neste contexto, Kate defendeu que a biodiversidade pode ser vista como risco ou oportunidade. No entanto, apontou que as companhias que insistirem em se manter no primeiro grupo terão sérias dificuldades daqui para frente. Entre elas, problemas para obterem acesso à terra, a financiamentos e seguros, mercado e até a bons profissionais. "Ninguém mais quer trabalhar em empresas que não possuem boa reputação na área ambiental", acrescentou.
A realização da COP-8 no Brasil está sendo vista como um momento importante para envolver empresas brasileiras que ainda não incorporaram a variável ambiental em seus processos produtivos. Para isso que isso aconteça, Peter May destacou a necessidade de se disseminar os objetivos e ferramentas da CDB, sugerindo direções e oportunidades para o setor privado se tornar ativo na sua implementação. "Os empresários também precisam ser encorajados a participar das conferências das partes daqui para frente", disse.
O documento elaborado pelos brasileiros inclui oito recomendações que serão discutidas até sábado. Entre elas a necessidade de se quantificar os benefícios econômicos da conservação da biodiversidade para a sociedade e os negócios, mesmo que esta quantificação não seja em termos monetários. Eles também defenderam uma maior circulação de informações sobre o tema, a elaboração de um guia com os impactos da biodiversidade em diversos setores, e a melhoria dos incentivos fiscais e de crédito para atividades que tenham em conta a preservação e o uso sustentável da natureza, entre outros itens.