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Iguape-Juréia, uma experiência agroecológica
"Três anos não é tempo suficiente para consolidar um projeto que trabalha com a proteção, uso sustentável dos recursos naturais e geração de renda para a população." Esta foi uma das conclusões da Ong Proter - Programa da Terra, que apresentou no dia 19, na sala de reuniões do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), os resultados do Projeto Iguape-Juréia, no Vale do Ribeira (SP). Parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, o Vale do Ribeira engloba 23 Municípios, perfazendo uma área de 17.264 km2 ou 10% do estado de São Paulo e concentra os maiores remanescentes contínuos desse bioma no Brasil.
"Há um tempo para plantar e um tempo para colher", lembrou a diretora-executiva da ONG, Ana Aparecida Rebeschini, reivindicando um período de pelo menos cinco anos para se avaliar melhor o trabalho. Mesmo assim, o projeto conseguiu várias vitórias, como iniciar lavouras agroecológicas; introduzir o cultivo de plantas medicinais; substituir as monoculturas de banana por sistemas agroflorestais e mudar o paradigma da floresta intocável.
Várias etnias - Na região existem várias áreas protegidas pelas leis brasileiras que, ao mesmo tempo, são as zonas-núcleo da Reserva da Biosfera. Da população de 45.000 pessoas que vivem da agricultura familiar, muitos são herdeiros e descendentes de caiçaras, quilombolas e indígenas. Desenvolvido entre os anos de 1999 e 2002, o Projeto "Desenvolvimento Comunitário e Conservação da Mata Atlântica na região de Iguape-Juréia" se propôs a conciliar a conservação dos remanescentes da Mata Atlântica com melhorias na qualidade de vida, experimentando e difundindo tecnologias agroecológicas.
O Proter é uma entidade não-governamental sem fins lucrativos, fundada em 1985, com sede em Registro (SP). Tem como missão contribuir para a construção de novos modelos de desenvolvimento rural que permitam o aprofundamento da democracia, a redução das desigualdades sociais, a conservação do meio ambiente e o fortalecimento da agricultura familiar. O projeto teve o apoio do Centro Francês de Estudos Agronômicos em Áreas Quentes (Cnearc); Instituto Katalyse (Alemanha); Instituto Rede Brasileira Agroflorestal (Rebraf) e o acompanhamento técnico-financeiro do PDA/PPG7.
Para o assessor do Proter Armin Deitenbach, as dificuldades encontradas no Vale do Ribeira foco de guerrilha no período militar e hoje uma das regiões mais pobres do estado de São Paulo foram desde uma cultura paternalista, de esperar tudo do governo, até o excesso de burocracia nos financiamentos oficiais para a área ambiental. "A missão continua com o Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Vale do Ribeira e Litoral Sul (Sintravale)", apontou.
Além de organizar os trabalhadores e instalar o fórum permanente da agricultura familiar e um sindicato rural, o projeto incentivou a comercialização conjunta e criou a marca Família do Vale, em cujo logotipo aparecem as quatro etnias que habitam a região. "O desafio agora é distribuir produtos como banana passa, chás e artesanato e colocá-los nos grandes centros", conclui o presidente do Sintravale, Henrique da Mota Barbosa.
A apresentação do Proter foi promovida pelo Projeto de Apoio ao Monitoramento e Análise (AMA), vinculado ao Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7). Faz parte do ciclo Debates Sócio-ambientais que já trouxe a Brasília vários especialistas para discutir temas relacionados ao uso dos recursos naturais e desenvolvimento sustentável. O Programa Piloto faz parte da Secretaria de Coordenação da Amazônia do Ministério do Meio Ambiente.