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Governo quer ampliar plantação e manejo de florestas
Aldem Bourscheit
Petrópolis (RJ) - As florestas cobrem hoje um terço da superfície do planeta, contribuindo para regular o clima e evitar e reduzir o impacto de desastres naturais. Além disso, abrigam rica diversidade de espécies animais e vegetais, garantem água para as populações e são fonte de sustento direto para quinhentos milhões de pessoas, principalmente para os mais pobres. Apesar desta série de serviços prestados, estimados em US$ 4,7 trilhões ao ano, 60% das matas do globo estão fragmentadas ou degradadas, segundo dados das Nações Unidas.
Uma alternativa para enfrentar esse problema é a recuperação de áreas degradadas com plantio florestal, tema do Simpósio Global para Implementação de Restauração de Paisagens Florestais, que começou hoje na cidade de Petrópolis (RJ). O evento reúne especialistas de 41 países que reconhecem a importância da manutenção e da recuperação das matas para a vida das populações e para o equilíbrio ecológico do planeta.
De acordo com Tasso de Azevedo, diretor do Programa de Florestas do Ministério do Meio Ambiente, o governo brasileiro está contribuindo com a iniciativa global com a ampliação do plantio de florestas para seiscentos mil hectares/ano, até 2007. Para este ano, a expectativa é de que sejam plantados 520 mil hectares, suprindo principalmente a indústria de papel e celulose. De acordo com Azevedo, isso está se tornando possível com melhorias e criação de novas linhas de crédito, com assistência técnica, com menos burocracia e mais tecnologia. "Estamos estimulando o uso de áreas degradadas e de espécies nativas para a restauração e criação de florestas", disse.
Outros objetivos do MMA são a recuperação de matas ciliares (que protegem as margens dos rios, por exemplo), a ampliação dos chamados sistemas agroflorestais, onde os pequenos produtores retiram da floresta produtos madeireiros e não-madeireiros de forma sustentável, e a concessão para manejo de quinze milhões de hectares de florestas, nos próximos dois anos. A recuperação das matas ciliares forma corredores verdes, ajuda a evitar a erosão e o assoreamento dos mananciais e a proteger a água. Para a concessão de florestas, é necessária a aprovação do Projeto de Lei sobre Gestão de Florestas Públicas, enviado ao Congresso no dia 17 de fevereiro.
Com uma parceria entre Ministério do Meio Ambiente e Embrapa, está sendo desenvolvido o Plano Nacional de Silvicultura de Espécies Nativas. A iniciativa deverá ser lançada em maio para suprir a atual deficiência brasileira na produção de mudas, contribuindo diretamente para um maior plantio de matas. O programa encaminhará a coleta e classificação de sementes, a criação de mudas adequadas para cada região e o correto manejo das matas para seu desenvolvimento. O Ministério do Meio Ambiente também está trabalhando na produção do primeiro inventário florestal brasileiro e apresenta, durante o evento em Petrópolis, o primeiro mapa das atividades florestais no País.
O plantio, a manutenção e a recuperação de florestas, além de trazer benefícios ambientais, sociais e econômicos, auxiliará o Brasil a cumprir com uma série de acordos globais dos quais é signatário e também com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, declarados pelas Nações Unidas em 2000. Entre essas metas, estão as da redução da pobreza, da perda de biodiversidade, da fome e da escassez de água potável. Na Avaliação Ecossistêmica do Milênio, diagnóstico da situação ambiental do planeta divulgado na semana passada, a recuperação das florestas do planeta é uma prioridade. E o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, em seu último relatório, pede para que os países se unam para replantar matas em todo o globo. "Os bosques são o elemento principal para a proteção dos ambientes", disse Jiang Zehui, declarou a presidente da Academia Chinesa de Florestas, responsável por um dos maiores projetos de reflorestamento do globo, com um plantio anual de mais de dois milhões de hectares de matas.
Os resultados do encontro de Petrópolis serão levados em maio a uma reunião do Fórum de Florestas das Nações Unidas, em Nova Iorque (Estados Unidos), onde será debatido o futuro da política florestal em nível global, e como a recuperação florestal poderá efetivamente contribuir para o cumprimento dos Objetivos do Milênio. "O mundo precisa tomar providências para recuperar as florestas e garantir a volta dos processos ecológicos e o bem estar humano", disse Tim Rollinson, diretor-geral da Comissão de Florestas do Reino Unido. "Recuperar florestas não é apenas plantar florestas, pois nesses locais pessoas vivem e trabalham", ressaltou.
Amanhã, os participantes do simpósio se dividirão em grupos para conhecer projetos de recuperação de matas na Floresta da Tijuca, na Reserva Biológica do Poço das Antas, que abriga o Projeto Mico-Leão-Dourado, e no entorno de um reservatório da empresa Light, no Rio de Janeiro. Mais informações sobre a visita pelo fone (24) 2222-2002 / ramal 4254. O evento segue até sexta-feira. Confira programação em www.mma.gov.br