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Expansão urbana e cães ameaçam lobos-guarás no DF
O constante aparecimento de lobos-guarás (Chrysocyon brachyurus) em áreas urbanas do Distrito Federal - quatro só este ano - tem, pelo menos, duas causas principais. Ambas relacionadas ao crescimento urbano desordenado em torno da capital federal.
A primeira delas é a ocupação de antigas áreas nativas para a expansão urbana entre as três principais reservas de Cerrado do DF: o Parque Nacional de Brasília, a Área de Proteção Ambiental (APA) Cabeça de Veado e a Estação Ecológica de Águas Emendadas.
A segunda causa é a invasão de cães domésticos nessas mesmas áreas de proteção ambiental, resultado da proximidade de assentamentos humanos às unidades de conservação. As reservas ambientais do entorno de Brasília surgiram com a criação da capital, mas passaram a sofrer as conseqüências negativas do crescimento sem planejamento ambiental.
Sem espaço quando em dispersão, os lobos acabam saindo dos limites da áreas protegidas e encontram pela frente as áreas ocupadas pelo homem. Aí começam as desvantagens para os animais. Lobos-guarás são as principais vítimas de atropelamentos nas rodovias que cruzam as unidades de conservação. Quando sobrevivem e chegam às casas e estabelecimentos comerciais são capturados.
Além da dispersão que acontece quando um jovem alcança a idade adulta e atinge a fase reprodutiva, os lobos são expulsos de suas áreas naturais pelos cães domésticos. Os cães invadem as reservas e se tornam selvagens, disputando território e alimento com os lobos. Muitas vezes os lobos são perseguidos por matilhas de cães e para não serem mortos procuram abrigo em residências ou lojas.
"Em grupo, os cães entram em jogos de predador-presa, caçando desde animais pequenos como roedores e répteis até mamíferos de grande porte como tamanduá-bandeira, anta e o lobo-guará", explica a bióloga Ana Cristyna Lacerda, do Ibama, que pesquisou durante dois anos a invasão dos cães no Parque Nacional de Brasília. No local, estima-se que existam cerca de três mil cães asselvajados.
Para Ana Cristyna, uma das saídas para garantir a sobrevivência dos lobos é o estabelecimento de corredores ecológicos entre as unidades de conservação. Os corredores são áreas que interligam áreas naturais estabelecendo conexões para que a vida silvestre possa realizar os fluxos de que necessitam para sobreviver.
Em relação aos cães, diz a pesquisadora, é preciso haver controle do número desses animais dentro das unidades de conservação, sobretudo nas áreas fronteiriças aos assentamentos humanos. De acordo com Ana Cristyna, os cães preferem a periferia das reservas, pois ali encontram alimento disponível assim como nas residências próximas de onde vem a maioria deles.
Lobos não são perigo para humanos
Estudioso das interações entre carnívoros silvestres e humanos no Brasil, o biólogo Rogério Cunha de Paula, do Centro Nacional de Predadores Naturais (Cenap/Ibama) assegura que os lobos-guará não representam perigo para as pessoas quando ocorrem os contatos, indesejados para ambos os lados.
Segundo ele, durante esses contatos os lobos estão muito mais assustados do que as pessoas. O importante é não acuar o animal e tentar avisar o Ibama, que tem técnicos capazes de ajudar a resolver o conflito e retirar os animais da situação em que se colocaram sem causar-lhes danos.
"Os lobos gozam de má reputação entre as pessoas, mas isso é puro preconceito. Eles não são animais ferozes e é preciso ter muito cuidado para resgatá-los com vida. Eles são fundamentais no meio ambiente e estão na lista das espécies ameaçadas. Precisam é de cuidado", diz Rogério.
Mito
A vida dos lobos é cercada de histórias, lendas e mitos que, nem sempre fazem jus ao comportamento da espécie. A fama de feroz e comedor de galinhas é pura maldade. Na verdade, os lobos-guará são animais arredios que só se aproximam das áreas urbanas quando lhes faltam regiões selvagens por onde peregrinar.
Quanto às galinhas, os pesquisadores garantem que a dieta dos lobos-guará é diversificada, caracterizada por frutos silvestres ou animais de pequeno porte que ele caça durante suas incursões noturnas. Galinhas são item raro na alimentação dos lobos. Entram no cardápio só quando o homem não deixa para os lobos nenhuma outra alternativa de sobrevivência.