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Corais exóticos invadem região de Ilha Grande, no Rio de Janeiro
A região da Ilha Grande, pólo turístico do litoral do Rio de Janeiro que abriga dois parques estaduais e uma reserva biológica, está sofrendo com a chegada de espécies invasoras, vindas de outras partes do mundo. Desta vez, os intrusos não são peixes, plantas ou mexilhões, mas corais originários do Oceano Pacífico.
Durante pesquisas conduzidas pelo Laboratório de Ecologia Marinha Bêntica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), na Ilha Grande e ilhas vizinhas, foram encontradas colônias de Tubastraea coccinea (foto) e de Tubastraea tagusensis , considerado o primeiro coral exótico registrado no Atlântico Sul. Esses organismos ocupam o espaço e excluem as espécies nativas de corais, e ainda não existem estudos conclusivos sobre os impactos que essa ocupação terá no ecossistema local e nas atividades pesqueira e turística, por exemplo.
Parte dos trabalhos que levaram à descoberta das espécies invasoras conta com recursos do MMA/Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (Probio), da UERJ, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). "A descoberta reforça a necessidade do controle internacional e nacional da água de lastro e do trânsito de espécies, com campanhas e ações como as coordenadas pelo Ministério do Meio Ambiente contra o mexilhão dourado", disse Robson José Calixto, oceanógrafo do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
A região abriga um porto comercial, terminais de petróleo e de minérios, duas usinas nucleares e um estaleiro. Como a Baía da Ilha Grande e a Baía de Sepetiba formam um conjunto quase contínuo, é grande a possibilidade de trânsito de invasoras com as atividades portuárias, já que embarcações e plataformas trazem espécies estranhas na água de lastro ou incrustadas em seus cascos. Por isso, o Porto de Sepetiba foi escolhido para a implantação de uma base do Programa Global de Gestão de Água de Lastro (GloBallast), coordenado no Brasil pelo MMA.
De acordo com o biólogo inglês Joel Creed, da UERJ, os corais exóticos podem ter chegado ao Rio de Janeiro agarrados aos cascos de navios e às estruturas de estaleiros, terminais ou plataformas de petróleo que são transportadas pela região de Ilha Grande. Segundo ele, poucos estudos estão sendo feitos sobre os efeitos do trânsito de embarcações e de outras estruturas pelo litoral brasileiro, mesmo já tendo sido encontrados exemplares desses corais em plataformas petrolíferas no Rio de Janeiro. "Espécies invasoras poderiam chegar aos recifes brasileiros", alertou.
A situação em Ilha Grande, onde podem ser encontrados grupos com mais de mil exemplares dos corais invasores, seria irreversível. Conforme Creed, será impossível eliminar as Tubastraeas do local pelo nível de infestação, mas em ilhas menores e inclusive na região de Arraial do Cabo seria possível adotar algumas medidas com base em novos estudos. "É preciso entender como esses organismos se distribuem para reduzir os impactos ambientais".
No ano de 1999, a Baía de Ilha Grande foi reconhecida pelo Ministério do Meio Ambiente como de extrema prioridade para a conservação, pois abriga rica fauna e flora em remanescentes da Mata Atlântica. Seus principais ecossistemas são praias, costões e formações rochosas, manguezais e estuários. Toda a Ilha Grande está abrigada dentro da Área de Proteção Ambiental dos Tamoios, que engloba o Parque Estadual da Ilha Grande, o Parque Estadual Marinho do Aventureiro e a Reserva Biológica da Praia de Sul.
Caramujos e mexilhões
Outras espécies invasoras bem sucedidas na ocupação de espaços no Brasil são o caramujo-africano ( Achatina fulica ) e o mexilhão dourado ( Limnoperna fortunei ). Espécies invasoras são consideradas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) como a segunda maior causa de perda de biodiversidade em todo o Planeta, logo atrás da destruição direta de habitats por ações humanas.
O caramujo africano chegou ao Brasil na década de 80, estimulado entre produtores agrícolas como alternativa ao escargot. Como não houve aceitação pelos consumidores, produtores acabaram soltando os animais, causando sua disseminação. A espécie já se disseminou por vários estados, inclusive em alguns bairros de Manaus, na Amazônia. Provoca danos ambientais, perdas agrícolas, além de poder transmitir doenças contagiosas, e é considerado um dos piores invasores devido à sua grande capacidade de reprodução, propagação e competição com espécies nativas. Chega a medir até 20 centímetros e se reproduz rapidamente, gerando até 600 filhotes em cada cruzamento.
O mexilhão dourado é originário da Ásia e foi encontrado pela primeira vez na América do Sul em 1991, no porto de Buenos Aires. Em 1998, foi visto no Delta do Rio Jacuí, em frente ao porto de Porto Alegre (RS). Em pouco tempo, o mexilhão se disseminou por várias outras bacias hidrográficas da Argentina, do Uruguai, Paraguai e do Brasil, sendo encontrado do Rio Grande do Sul ao Pantanal. A invasão da espécie no Brasil é considerada tão grave que levou o Ministério do Meio Ambiente a criar uma Força-Tarefa Nacional para combater seu avanço.
Antártica
Nem a remota Antártica está livre de espécies invasoras. O caranguejo-aranha (
Hyas araneus
), crustáceo do Atlântico Norte e do Oceano Ártico, foi encontrado na Península Antártica, do outro lado do planeta, em pleno Hemisfério Sul. A descoberta dos pesquisadores Marcos Tavares e Gustavo de Melo, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e colaboradores do Programa Global de Gerenciamento de Água de Lastro (Globallast), foi publicada na revista Antartic Science, em junho. De acordo com os cientistas, o caranguejo-aranha pode ter chegado à região pegando carona na água de lastro ou nas chamadas caixas-de-mar de navios (usadas para resfrigeração de equipamentos, por exemplo).
Mais informações em
www.mma.gov.br/?id_estrutura=14
www.mma.gov.br/aguadelastro
www.ief.rj.gov.br
www.institutohorus.org.br/noticias.htm
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