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Ambientalista indiana pede maior rigor na questão dos transgênicos
Brasília (DF) ? A ecologista indiana Vandana Shiva pediu à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para que interceda junto ao governo brasileiro na tentativa de mudar diretrizes em nível global que estariam causando prejuízos ao meio ambiente e à sociedade, como as da OMC (Organização Mundial do Comércio). Elas se encontraram na tarde desta sexta-feira, no Ministério do Meio Ambiente. "Nós duas temos preocupações semelhantes com o meio ambiente, com as injustiças sociais. Quando nos encontramos, procuramos debater temas emergentes no contexto internacional. Além disso, Brasil e Índia têm em comum sua força biológica e diversidade cultural", justificou a indiana.
Segundo Vandana, houve um acirramento do interesse das grandes indústrias farmacêuticas em nível global pelos recursos genéticos após a chamada rodada de Doha da OMC, em novembro de 2001. "Precisamos de mais alianças com países europeus para tentar garantir a manutenção dos conhecimentos e das culturas tradicionais e da própria diversidade biológica frente à predominância dos valores de mercado", disse. Em setembro, no México, ocorrerá nova reunião da Organização Mundial do Comércio. Na ocasião, a ministra Marina Silva deverá participar de uma mesa redonda com outras lideranças globais para tratar de comércio internacional e meio ambiente.
OGMs ? De acordo com a ativista, a tentativa de avanço das culturas transgênicas na Índia se assemelha em muito ao ocorrido no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul. "Em meu país pequenos agricultores também foram iludidos sobre supostas vantagens dos OGMs", disse. Conforme Vandana, empresas transnacionais "inventam dados" e "pregam a contaminação" de lavouras com transgênicos, forçando uma "política de fato consumado".
Artigo recente da revista inglesa Science mostrava supostos benefícios das culturas geneticamente modificadas em solo indiano. Vandana entregou à ministra Marina Silva uma coleção de estudos desenvolvidos por universidades, institutos e organizações não-governamentais que contradizem os dados apresentados pela revista. "Esse é um documento oficial para o governo indiano. Os cientistas que assinam aquele artigo nunca estiveram na Índia, apenas repassaram informações recebidas de uma grande empresa de biotecnologia", afirmou. "Os organismos geneticamente modificados estão agora proibidos na Índia devido ao fracasso, sob todos os aspectos, das experiências que se realizaram em quatro Estados", salientou a ecologista.
Conforme Marina Silva, o Brasil como signatário da Convenção da Biodiversidade, deveria seguir os princípios desse documento. "O Ministério do Meio Ambiente sempre defendeu o princípio da precaução, a exportação da safra transgênica atual e a manutenção das atribuições de direito de cada órgão do governo federal", enfatizou a ministra.
DIÁLOGOS ? Em janeiro deste ano, durante o Fórum Social Mundial, o físico e ecologista Fritjof Capra propôs à ministra Marina Silva a realização de uma série de reuniões com especialistas de todo o globo para auxiliar o novo governo brasileiro nos mais variados temas. O primeiro desses encontros, chamados de Diálogos, ocorrerá em agosto deste ano, e irá tratar de temas como: alfabetização ecológica, agricultura orgânica, energia e remodelagem de processos industriais.
Vandana Shiva, uma das participantes confirmadas, acredita que o Brasil tem a oportunidade de unir e mobilizar muitos países para que o mundo tomenovo e melhor rumo. "Todo o globo está de olhos voltados para o Brasil, para as atitudes que vocês têm tomado em relação ao meio ambiente, à sociedade, à economia", disse. Para ela, o futuro trará uma nova relação social e entre as pessoas e a natureza, sem destruição da biodiversidade, com mais justiça social. "Espero poder trazer meus netos ao Brasil no futuro e não ser obrigada a consumir qualquer organismo geneticamente modificado", comentou otimista a indiana.
Vandana Shiva é criadora e coordenadora da Fundação de Pesquisa para Políticas de Ciência, Tecnologia e Recursos Naturais da Índia, Vandana é pós-doutora em Filosofia da Ciência e autora de livros como Biopirataria e Monoculturas da Mente.