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Marina Silva e secretária do Tesouro dos EUA debatem transição ecológica e combate à mudança do clima
Ministra Marina Silva e secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, participam de painel em São Paulo. Foto: Diogo Zacarias/Ministério de Fazenda
A ministra Marina Silva e a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, participaram nesta terça-feira (27/2) de painel em São Paulo sobre a transformação ecológica e a necessidade de investimentos privados para combater a mudança do clima. A conversa na semana da reunião dos ministros de Finanças do G20 foi organizada pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham).
Marina reforçou a retomada da governança socioambiental e climática desde a posse do presidente Lula, após quatro anos de retrocesso. Em 2023, primeiro ano de governo, a área sob alertas de desmatamento na Amazônia caiu 50% em comparação com 2022, segundo dados do sistema Deter, do Inpe. A redução evitou lançar na atmosfera cerca de 250 milhões de toneladas de CO2.
“Estamos também criando mecanismos que incentivem a manutenção da floresta, como a política de bioeconomia, agricultura de baixo carbono, restauração florestal, reindustrialização verde e infraestrutura sustentável”, afirmou a ministra. “Para isso é que estamos mobilizando, com o devido sentido de urgência, investimentos públicos e privados.”
Na segunda-feira (26/2), o governo federal anunciou parcerias com o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para impulsionar investimentos externos em projetos de baixo carbono no Brasil. A expectativa é que o país receba até US$ 3 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões) para combater os efeitos da emergência climática e acelerar a transformação ecológica.
Segundo Yellen, o Brasil pode liderar e se beneficiar da transição global para uma economia verde. A secretária citou a matriz energética brasileira e seu índice de renovabilidade: 47,4% dela era renovável em 2022, segundo dados do relatório Resenha Energética Brasileira, lançado no ano passado pelo Ministério de Minas e Energia. Em 2021, apenas cerca de 14% da energia produzida no mundo era renovável.
“O Brasil está particularmente bem-posicionado para se beneficiar da transição global para a neutralidade do carbono. Vocês têm a vantagem de uma matriz energética que já é amplamente baseada em energias renováveis, o que vai se tornar um ativo essencial enquanto economias no mundo inteiro têm que internalizar cada vez mais os custos da emissão de carbono”, afirmou Yellen.
Segundo a chefe do Tesouro americano, o Brasil precisa criar condições para o setor privado investir e se integrar mais às cadeias de oferta globais. É necessário criar condições para o setor privado investir e crescer, completou Yellen, antes de elogiar a reforma tributária aprovada no ano passado.
““Parabenizo o ministro [Fernando] Haddad por conquistar uma reforma tributária verdadeiramente histórica. Isso vai facilitar muito a realização de negócios aqui”, afirmou Yellen.
Marina reiterou que o Brasil se comprometeu a sediar a COP30, em 2025, na cidade do Belém (PA), e trabalha na construção de uma nova meta climática que reflita os compromissos a serem assumidos, alinhada com o objetivo de evitar o aumento da temperatura global em 1,5°C em relação ao século XIX. O país trabalha também, destacou a ministra, em seu Plano de Transformação Ecológica, coordenado pelo Ministério da Fazenda, que guiará a transição verde brasileira.
“As nossas equipes devem continuar buscando sinergias no âmbito do Plano de Transformação Ecológica e do Grupo de Trabalho de Clima, explorando temas como o mercado de carbono, finanças sustentáveis, a proteção de floresta e as cadeias de suprimentos, bem como investimentos para que nossas cidades se tornem mais sustentáveis e resilientes, de modo a acelerar uma transição justa e inclusiva para todas as pessoas”, declarou Marina.
Os desafios ambientais brasileiros e suas soluções, destacou a ministra, “estão lastreados pelos objetivos estratégicos de combater a desigualdade, fortalecer nossa democracia e criar um novo ciclo de prosperidade”. Entre eles, o compromisso assumido pelo presidente Lula de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030.
O governo federal lançou em junho o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm). Em novembro, houve o lançamento do PPCerrado. A previsão é que os planos para os outros biomas — Mata Atlântica, Pantanal, Pampa e Caatinga — sejam lançados neste ano.
O MMA também trabalha para atualizar o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, o Plano Clima, que terá estratégias nacionais e planos setoriais — oito para mitigação e 15 para adaptação. O apoio à bioeconomia, destacou a ministra, será outro ponto essencial:
“É muito importante pensar na criação de novos produtos, novos materiais, abertura dos mercados, investimentos que sejam inovadores, porque temos a compreensão de que não há como combater o desmatamento apenas com ações de comando e controle”, afirmou Marina. “É fundamental tirar o que é ilegal, evitar o que não deve ser feito, mas pôr no lugar algo que ajude a gerar emprego, renda e a melhorar a vida das pessoas.”
A reunião entre Yellen e Marina foi promovida pela Amcham como parte das celebrações para marcar o aniversário de 200 anos da relação bilateral entre os EUA e o Brasil. Marina agradeceu o aporte dos EUA ao Fundo Amazônia — em abril de 2023, o presidente Joe Biden anunciou doação de US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões), a primeira do país ao mecanismo. Segundo Yellen, os laços entre os dois países são “sólidos e baseados em uma longa história de valores compartilhados”.
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