Desafios e oportunidades para a Amazônia são debatidos em evento internacional sobre conectividade ecológica
No dia 2 de outubro de 2024, foi realizado o webinar “Conectividade Paisagística — Abordagens Ecológicas e Culturais na Amazônia”. O evento foi promovido pelo Programa Paisagens Sustentáveis da Amazônia (ASL) e coordenado com apoio também da Secretaria Nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais (SBIO) do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), e pelo Field Museum de História Natural de Chicago, USA. Com a participação de especialistas, o webinar discutiu o tema corredores bioculturais — áreas que interligam ecossistemas e facilitam o intercâmbio cultural e biológico —, buscando identificar oportunidades e desafios para ações coordenadas em áreas de fronteira e compartilhar boas práticas.
Desmatamento, degradação, contaminação da água e infraestrutura inadequada ameaçam a biodiversidade global e a conectividade entre os ecossistemas amazônicos e outros biomas vizinhos. Diante deste cenário de grandes desafios, os participantes exploraram a importância de proteger e restaurar os ecossistemas transfronteiriços. Para Erwin de Nys, gerente de Prática, Meio Ambiente, Recursos Naturais e Economia Azul do Banco Mundial, é essencial uma abordagem multinível e holística. “Proteger, manter e restaurar a conectividade paisagística e fluvial requer reconhecimento das dimensões jurisdicionais, culturais e sociais envolvidas, especialmente quando rios e territórios cruzam diferentes países”, afirmou.
Carlos Eduardo Marinelli, chefe de Gabinete da SBIO/MMA e supervisor do projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia (ASL Brasil), destacou que para a natureza não há limites pré-definidos. “Estamos discutindo esse tema numa perspectiva de Amazônia Internacional. Falamos de uma região em que há limites geopolíticos, mas não há limites para as florestas, para as águas, para as culturas e para os povos, os quais têm uma relação muito forte, importante e intrínseca entre si”, disse Marinelli.
A conectividade ecológica — essencial para o movimento livre das espécies e para a saúde dos ecossistemas — beneficia tanto a biodiversidade quanto os seres humanos. Para Simone Athayde, gerente de Integridade de Pesquisa do Instituto de Recursos Mundiais (WRI), “... há lacunas históricas na política em não reconhecer a conexão entre floresta, rios e conhecimento tradicional das populações locais”. Ela defendeu que essa conexão holística é essencial para garantir a conservação e o desenvolvimento sustentável. Na Amazônia, a recente Declaração de Belém (2023), assinada por líderes de organizações para o Tratado de Cooperação Amazônica, reforça a importância de manter e restaurar essa conectividade.
Marinelli também ressaltou a necessidade de uma governança descentralizada e horizontal, para permitir que demandas locais sejam ouvidas e incorporadas em níveis regional e internacional. Segundo ele, “Os povos e comunidades tradicionais da Amazônia Internacional estão mais engajados, envolvidos e empoderados do que nunca, influenciando diretamente as políticas que impactam seus territórios.”
O evento, que reuniu mais de 100 participantes, é uma iniciativa do Grupo de Trabalho Conectividade Ecológica, liderado pela SBIO/MMA, por meio do Projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia (ASL Brasil), e pelo Banco Mundial. O objetivo do GT é desenvolver um entendimento comum sobre corredores de conectividade sociobiocultural e identificar oportunidades de ações coordenadas para melhorar a conectividade, a governança e o gerenciamento da paisagem em áreas adjacentes de cada lado das fronteiras comuns entre países da Amazônia Internacional.
Esta iniciativa faz parte do Programa ASL (Amazon Sustainable Landscapes), que fomenta projetos no Brasil, na Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname. O objetivo do Programa é reunir esforços na melhoria da gestão da paisagem na Amazônia.