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Características dos biomas exigem diferentes estratégias para combater incêndios florestais
Foto: Marinaldo Gomes Rocha/FN
Brasília, 23/09/2024 – O Pantanal e a Amazônia, dois importantes biomas brasileiros, estão sofrendo com grandes focos de incêndios. Para evitar ainda mais estragos, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) já empregou cerca de R$ 38,6 milhões em operações para conter o fogo e convocou mais de 300 agentes da Força Nacional de Segurança Pública, que já estão atuando nas cidades atingidas.
As particularidades dos biomas impõem aos bombeiros militares destacados para a missão e aos voluntários que lá estão, diferentes desafios e conduzem as estratégias adotadas para combater os incêndios florestais.
No Pantanal, o fenômeno conhecido como fogo de turfa, ou fogo subterrâneo, queima o material orgânico que fica abaixo da superfície. Isso aumenta o grau de complexidade do trabalho.
“O combate precisa ser feito à noite, porque os focos ficam mais claros, a temperatura diminui e o vento enfraquece. Chegamos a trabalhar no período noturno completo e só descansamos pela manhã. Nos outros biomas, é o contrário”, explica o comandante do Grupamento de Busca e Salvamento da Força Nacional, Marinaldo Gomes Rocha.
Outro desafio é a hostilidade dos animais silvestres, que muitas vezes atacam os combatentes. Segundo Rocha, a ameaça é constante e aumenta à noite, justamente no período de maior atuação das equipes. “Já tivemos um caso de ataque de onça a um brigadista que estava nos apoiando”, conta.
O acesso aos pontos de queimadas também é um obstáculo na região. De acordo com o comandante, na maioria das vezes, os bombeiros militares precisam ser transportados por aeronaves. Helicópteros das Forças Armadas os levam até o local, e a equipe permanece acampada por um período de oito a 15 dias.
Desmistificar ideias falsas é outra batalha enfrentada pelos combatentes do fogo. De acordo com Rocha, é mito acreditar que incêndios florestais dificilmente acontecem em regiões com grande volume de rios. “A água está no canal dos rios. A parte alagada, que as pessoas costumam ver, não está assim neste ano. Em razão da falta de chuvas, o Pantanal está seco e propício aos incêndios florestais”, alerta.
Amazônia
Já na Amazônia, as dificuldades são outras. De acordo com o comandante das operações da Força Nacional na Amazônia, Jaldemar Pimentel, a maior delas é o deslocamento das tropas. “A maioria é feita por via aérea e, em algumas situações, fluvial. As condições de acesso são bastante limitadas, com estradas precárias”. Os agentes permanecem em regiões isoladas por até 15 dias, até de serem resgatados.
Segundo o comandante, a situação é ainda mais grave na região conhecida como Arco do Fogo, no sul do Amazonas (AM), onde os incêndios são, em grande parte, provocados pela ação humana. “O desmatamento, a grilagem de terras e a queima controlada ou irregular da vegetação criam um cenário de destruição”, enumera.
Pimentel explica que, normalmente, o processo ocorre em três fases: a queima superficial da vegetação, o corte das árvores mais altas, e, por fim, uma nova queima. “Estamos lidando, portanto, com as consequências diretas do desmatamento e da grilagem, que resultam em incêndios devastadores.”
Cerrado
Concentrado na área central do Brasil, o bioma Cerrado também tem sofrido com as queimadas. Bombeiros militares destacados pelo Governo do Distrito Federal atuaram na Floresta Nacional de Brasília nas últimas semanas.
O Cerrado é uma vegetação de savana, caracterizado por árvores esparsas, arbustos e gramíneas adaptadas ao clima tropical sazonal, com biodiversidade bastante rica. “O clima, extremamente seco, facilita o início e a propagação do fogo, agravado pelas atividades agropastoris, que utilizam as queimadas para a formação de novas áreas de plantio ou para a eliminação de pragas”, destaca o comandante Rocha, da Força Nacional.
Ele explica, ainda, que acontece, na região, um fenômeno conhecido como 30-30-30, uma combinação de temperatura superior a 30° C, umidade relativa do ar inferior a 30% e ventos a velocidade maior do que 30 km/h.
O acesso de viaturas e equipamentos às áreas com grandes cânions ou elevações, como a Chapada dos Veadeiros (GO), é outro complicador. Nesses casos, veículos pesados, com grande quantidade de água e equipamentos, não podem ser utilizados e, em muitos casos, até as viaturas pequenas ficam impossibilitadas de acessar a área afetada.
Nessas situações, o enfrentamento ao fogo precisa ser feito de forma direta pelo combatente, com o uso de pás, enxadas, rastelos, gadanhos, mochilas costais, sopradores e outros instrumentos. “Essa ação é dificultada pelo fato de que o fogo pode atingir de 400 °C a 1.000 °C em situações extremas”, revela.
Crimes ambientais
A Polícia Federal concentra esforços no combate a crimes ambientais, especialmente aos incêndios florestais. São 5.589 inquéritos policiais em trâmite sobre temáticas ambientais, sendo 52 diretamente relacionados a incêndios na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado, iniciados em 2023 e em 2024.
No momento, 20 policiais federais estão dedicados a investigar os incêndios no Pantanal, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Foram criados, ainda, polos de investigação nos estados que compõem os biomas da Amazônia e do Cerrado.
Além disso, o programa Brasil Mais, do MJSP, fornece imagens diárias de satélites de alta resolução que cobrem todo o território brasileiro para 517 instituições públicas, sendo 198 órgãos de segurança pública.