Seu Filho está viciado em telas?
Com o avanço tecnológico dos últimos anos, o uso de inovações se tornou presente na rotina e nas tarefas diárias das famílias brasileiras, seja pela praticidade em realizá-las e pela otimização de tempo, seja, pela facilidade na comunicação com pessoas de qualquer local do mundo por meio das redes sociais, entre outras funcionalidades.
Outro fator que intensificou o uso de tecnologias foi o isolamento social decorrente das medidas de restrição e prevenção contra a Covid-19, que modificaram os hábitos das famílias, interferiram no funcionamento de organizações, de instituições e da sociedade em geral. Por conta das medidas restritivas, houve a necessidade de adaptar algumas atividades para o sistema de trabalho híbrido, onde o trabalhador podia cumprir sua jornada de trabalho através de aplicativos e sistemas online.
Estudos revelaram que, durante o período da pandemia, entre 2019 e 2020, o aumento de domicílios com acesso à internet foi superior a 80%. Essa mudança provocou adequações nas moradias, como por exemplo, instalação de uma internet de melhor qualidade, compra de dispositivos modernos e que atendessem às novas demandas dos usuários. Além disso as empresas e as instituições de ensino também se adequaram a modalidade de ensino remoto.
As mudanças de hábitos citadas refletiram no planejamento e nas ações corriqueiras da população. Por conta disso e aliadas a outras questões subjetivas, o aumento do uso de tecnologia pelos adultos reflete também, dentre outras coisas, no tempo dedicado aos demais membros da família.
Nesse sentido, é importante destacar que as crianças e adolescentes reproduzem por identificação as ações e costumes das pessoas de seu convívio, sejam elas saudáveis ou não. Desse modo, apesar dos adultos não perceberem o quanto exercem essa influência e por acumularem diversas tarefas (trabalho, estudo, lazer), são responsáveis pela modulação do comportamento dos jovens.
Feita essa reflexão, vamos mencionar algumas características que os pais e responsáveis podem observar quanto ao uso moderado ou excessivo de telas por crianças e adolescentes. Iremos considerar aqui os seguintes itens como “telas”: os televisores, os computadores, os dispositivos de jogos online, os tablets e os aparelhos celulares.
Quais comportamentos de crianças e adolescentes devem despertar a atenção dos pais?
- Isolamento social: as crianças e adolescentes desenvolvem capacidades sociais, neurológicas e comportamentais através da sociabilidade, ou seja, por meio do contato com outros indivíduos, da mesma faixa etária ou não. Além disso, é possível aprimorar a cognição, regular as emoções, desenvolver a linguagem e a comunicação. A interação permite a descoberta de habilidades e de afinidades com assuntos e temas, entre outros aspectos sociais e psíquicos importantes durante o crescimento.
- Desinteresse em sair de casa: realizar atividades ao ar livre e exercícios físicos, que estimulem o convívio com outras pessoas, aproveitar a luz solar em horário que há menor incidência de raios Ultravioleta (UV), além desenvolver aspectos neurobiológicos e motores das crianças e adolescentes, geram sensação de bem-estar e disposição para outras atividades.
- Permanecer por longo período em frente às telas: o uso excessivo de telas prejudica a saúde física e metal das crianças e jovens, afetando diretamente a visão e motricidade. Uma vez que muitas horas diárias de exposição as luzes causam desconforto ocular e dores musculares, principalmente se relacionadas com outros hábitos sedentários, como por exemplo, a má alimentação e baixa qualidade do sono. Consequentemente influenciam de forma negativa no desempenho escolar e a aprendizagem.
- Dificuldades em iniciar e finalizar uma tarefa: Deixar de realizar ou desviar de afazeres propostos pelos pais, esquecer as tarefas escolares, alimentar-se e dormir de modo inapropriado em decorrência do uso excessivo de telas ou pela falta delas serve de alerta aos pais e responsáveis. É possível afirmar ainda que a rotina, a organização e os hábitos da família podem estar relacionados com problemas que envolvem ansiedade e, de certo modo, com a dependência gerada nas crianças e adolescentes pelo fácil alcance às telas.
O que pais e responsáveis podem fazer para auxiliar crianças e adolescentes a reduzirem o tempo de exposição às telas?
Estabelecer diálogo reflexivo: os pais e responsáveis devem conversar e explicar às crianças e adolescentes sobre as mudanças apresentadas e a provável relação com o excesso de exposição às telas. Quando alguma coisa não ocorre como os pais esperam é fundamental que as crianças e adolescentes sejam acolhidas fazendo com que desenvolvam a autoestima, a confiança e o autocontrole das emoções.
Estabelecer limite quanto à exposição às telas: os pais e responsáveis devem estabelecer limites e reduzir gradualmente o tempo que as crianças e adolescentes permanecem em frente às telas. Uma alternativa é procurar seguir as recomendações de especialistas da Sociedade Brasileira de Pediatria que orienta determinar tempos diferentes por faixa etária do seguinte modo:
- Crianças menores de 2 anos: nenhum contato com telas ou videogames;
- Crianças entre 2 e 5 anos: limitar a 1 hora diária de exposição às telas, sempre com supervisão de adultos;
- Crianças entre 6 e 10 anos: limitar o tempo ao máximo de 1 ou 2 horas por dia, sempre com supervisão;
- Adolescentes entre 11 e 18 anos: limitar o tempo de telas e videogames, ao máximo, de 2 ou 3 horas diárias.
Supervisionar o uso de dispositivos eletrônicos e telas: os pais e responsáveis devem monitorar o uso e exposição de crianças e adolescentes às telas e dispositivos eletrônicos, podendo, por exemplo, estabelecer regras quanto aos horários e os períodos do dia em que isso será permitido.
Hábitos e meios sociais que promovam a saúde: os familiares devem programar nas recreações de lazer atividades que não incluam o uso de telas, permitindo a interação com outras pessoas, espaços culturais e ambientes ao ar livre. Dessa forma é importante incentivar que crianças e adolescentes criem hábitos saudáveis fornecendo informações e oportunidades para que eles desenvolvam sua autonomia e responsabilidade, aspectos essenciais para a formação das pessoas.
Aline Taglian - Psicóloga CRP 07/35944
Jacqueline de Freitas Maciel - Revisora