O ano de 1965 viu grandes remoções de favelas cariocas, como a do Esqueleto e a de Brás de Pina. Os moradores com melhor poder aquisitivo foram encaminhados para conjuntos habitacionais na Vila Kennedy, onde poderiam adquirir casas populares de baixa qualidade. Aqueles que não puderam arcar com os custos, contudo, foram encaminhados para os mais precários e distantes “parques proletários do Estado”.
Visando a venda de terreno para a iniciativa privada, interessada em instalar indústrias ali, o estado da Guanabara transferiu muitos moradores de Brás de Pina para regiões do mesmo bairro acometidas por alagamentos crônicos. Segundo reportagem do jornal Correio da Manhã, de 6 de janeiro de 1965, o problema se deveria a “manilhas colocadas nas margens do rio Irajá, pelo próprio governo do estado”.
A fotografia, publicada na edição de 7 de janeiro do mesmo jornal, acompanhava a legenda:
“É para esse tipo de Veneza que o governo do estado quer transferir as cinquenta e uma famílias que resistem, em Brás de Pina, na defesa do direto de morar em suas próprias casas. A COHAB, apesar dos entendimentos, das promessas e compromissos, quer mesmo é que todo mundo vá para Bangu, ou para o fim do mundo. Agora, o ardil é a palavra que o estado vai aterrar o alagadiço, em 48 horas, para que os favelados pisem no seco – se não preferirem o Canaã dos confins. O que é impossível – replicam os favelados – porque a maré, em sua vazão, não respeitará um simples aterro. Diante do alagado, a mulher favelada limita-se a chorar.”
Arquivo Nacional, Correio da Manhã, BR RJANRIO PH.0.FOT.1664