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Durante a ditadura, uma antiga embarcação serviu de prisão para opositores no litoral paulista
Raul Soares, o navio-prisão da ditadura militar
por Giovanna Gomes
Publicado em 08/08/2023, às 14h06
Maack , que vive com a família nos Estados Unidos desde que foi expulso do Brasil pelos militares em 1964 , veio ao país sul-americano para ser homenageado na Câmara de Vereadores de Santos. Na ocasião, ele foi lembrado também por sindicalistas portuários que deram-lhe uma placa.
Fisicamente é a primeira vez que eu olho diretamente onde eu estava. É quase inimaginável poder voltar. Faz 48 anos. E pensar que um dia eu estava naquele navio e depois de 48 anos que saí do país tive uma filha, carreiras profissionais, isso é quase inimaginável", conta Thomas .
Levado ao DOPS
"Fui levado para o DOPS , fiquei lá uma tarde. Fui pelo exército e transferido para o quartel de Quitaúna. E fui transferido para o Raul Soares , fui para lá à noite, me deixaram em uma cela inundada, tinha só um beliche superior. Mas não dava para ficar em pé sem molhar, a água ia até os joelhos, e era muito frio", disse Thomas .
Nascido na Alemanha, o médico chegou ao Brasil ainda bebê. Ná época da prisão, o profissional era um jovem de 29 anos e dava aula na faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Caixões no navio
"Às vezes tinham boatos, saíam caixões do navio. E, elas [as famílias dos prisioneiros] falavam para os guardas, olha lá o que vocês fazem com as pessoas do navio", afirma ele, que ficou quatro meses desaparecido antes que sua esposa, Isa Tavares Maack , descobrisse seu paradeiro
Um mês e meio mais tarde, Isa seria chamada para ser interrogada. Segundo a mulher, isso a deixou muito contente, já que sabia sabia que, uma hora ou outra, poderia ver o marido.
Uma ou duas semanas depois, eu pude começar a visitá-lo uma vez por semana, aos domingos", afirmou.
Registros do navio-prisão
Conforme destaca o portal de notícias G1, poucos são os registros de dentro da histórica embarcação. Um deles é uma foto tirada durante uma visita aberta a jornalistas — que foi uma maneira encontrada pelos militares de acalmar a sociedade e mostrar que os presos estavam bem.
Na imagem, é possível ver um dos integrantes do sindicato dos operários portuários, Iradil Santos Mello , o pai da jornalista Lídia Maria de Mello , que na época tinha apenas seis anos. Décadas após a prisão do pai, ela publicou um livro sobre o Raul Soares, além de uma série de matérias sobre o tema no jornal A Tribuna.
"Perguntavam se ele acreditava em Deus, se ele era comunista , ficavam fazendo perguntas aparentemente absurdas. Então, periodicamente ele era convocado para prestar depoimentos, e as perguntas eram sempre dessa forma. Ele foi preso e foi solto. Mas o problema começou aí, ele foi processado e esses processos se arrastaram na Justiça por muitos e muitos anos", contou Lídia .
Giovanna Gomes é jornalista e estudante de História pela USP. Gosta de escrever sobre arte, arqueologia e tudo que diz repeito à cultura e à história do ser humano.
Fonte: Aventuras na História, 08/08/2023
Disponível: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/historia-hoje/como-era-o-navio-prisao-da-ditadura-militar.phtml