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Quem foi Mércia Albuquerque: maior advogada de presos políticos do Nordeste terá diários revelados
Mércia Albuquerque, morta em 29 de janeiro de 2003, é considerada a maior advogada nordestina de presos políticos da ditadura militar de 1964. Os dados ainda estão em fase de levantamento, mas estima que ela tenha defendido mais de 500 pessoas, sendo cerca de 10% do Rio Grande do Norte, detalha Roberto Monte, diretor do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular no RN.
No Balbúrdia desta terça (18), ele deu detalhes sobre o acervo de Mércia Albuquerque, formado por diários, cartas e pastas com material jurídico relativas ao período da repressão militar. Monte recebeu o material em 2003, após o falecimento da advogada.
“ O ano de 1973 foi muito complicado porque a repressão estava acabando de eliminar todas as pessoas da luta armada e quando entra 1974 já começa o extermínio do pessoal do partidão, que não estava na questão da luta armada. Os diários de Mércia pegam, justamente, os anos de 1973 e 1974. Mas, o que isso tem a ver com o Rio Grande do Norte? No início do ano, a companheira Anatália Alves foi assassinada. Quando chega o dia 4 de setembro de 1973, Emmanoel Bezerra dos Santos também é assassinado, com Manoel Lisboa. São pessoas de quem Mércia foi advogada. Quando chega o final do ano, você tem o caso de José Silton Pinheiro, isso sem falar na questão de José Carlos da Mata Machado… para quem não sabe, Mata Machado não é desaparecido político em função de um norte riograndense: Rubens Lemos”, começa Roberto Monte, ao explicar a conexão entre Mércia Albuquerque e vários presos políticos da ditadura militar.
O projeto em torno do acervo começa com o lançamento de dois livros e passa pela criação de um grande portal com a história dos presos políticos nordestinos, passando pela história de cada estado.
“ Ela era uma humanista. Naquele momento em que as pessoas estavam sendo trucidadas, aniquiladas, você tem alguém que de alguma maneira não dá apenas o chamado remédio jurídico ”, rememora Roberto Monte.
Mulher
Numa época em que ser advogado era difícil, encontrar um profissional disposto a defender preso político era ainda mais complicado, agora imagine enfrentar todos esses desafios sendo mulher.
“ Imagine 1964, pelas ruas de Recife, coronéis do Exército levando feito um bicho alguém que era Gregório Bezerra. Uma jovem advogada chamada Mércia Albuquerque vê aquilo e toma uma decisão de vida e diz: a partir de hoje eu vou defender esse povo ”, conta o diretor do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular no RN.
Lições
Na atual fase política do país, de retomada de políticas públicas desmontadas por gestões neoliberais e após o golpe de 2016 contra a primeira mulher eleita presidenta da República, a organização e publicização do acervo de Mércia Albuquerque tem um significado ainda mais profundo.
“ Se esse projeto fosse feito há dez anos, talvez não tivesse essa necessidade, esse enfoque didático de estarmos falando de uma mulher entre advogados, que era uma coisa difícil ”, resgata o incansável Rogério Monte.
Para assistir a entrevista completa, com essas e muitas outras informações
Fonte: Saiba Mais Agência de Reportagem, 18/07/2023