No coração da capital potiguar, o professor Luciano Capistrano desafia as convenções tradicionais do ensino e tem transformado as ruas do centro de Natal em salas de aula. A paixão pelo patrimônio histórico e a história o levaram a desenvolver um projeto de educação pública para conectar o passado com o presente, destacando a importância das ruas e praças como espaços apropriados para tratar a história. No próximo dia 26 de agosto, antevéspera dos 44 anos da Lei de Anistia, o tema é o golpe civil-militar de 1964 no Brasil. A aula começa às 8h, na Praça André de Albuquerque, e será encerrada às 10h no Sebo Vermelho.
“Precisamos dialogar sobre este momento tão delicado da história recente de nosso país para que pessoas compreendam o que foi de fato o abril de 1964 ”, avalia Capistrano.
Para ele, o tema transcende a sala de aula e remonta à sua própria história pessoal. Seu pai, Benjamin Capistrano Filho, era servidor dos Correios quando foi afetado diretamente pelo golpe, sendo enquadrado no Ato Institucional n° 1 e expurgado do serviço público. As consequências do golpe deixaram uma marca profunda em Capistrano.
“ Cresci vendo meu pai passar um tempo fora de casa, tempos depois descobri que papai tinha de comparecer a Recife onde respondia inquérito no tribunal militar ”.
Luciano Capistrano, historiador do parque da cidade e professor da rede estadual de ensino
Mas foi uma situação particular que desencadeou na necessidade de abordar a temática da ditadura. Durante uma aula na Praça André de Albuquerque, um colega professor mencionou uma informação inverídica sobre o prefeito Djalma Maranhão e sua ligação com um suposto arsenal de armas.
“ Imediatamente questionei essa informação e passei então a pensar em um roteiro histórico no Centro da Cidade Alta com o tema do golpe de 1964 em nossa cidade ”, esclarece Capistrano.
Esse momento deu origem ao seu projeto de roteiro histórico no Centro da Cidade Alta, focando no golpe de 1964 em Natal. Uma jornada que culminou na publicação do livro “1964: Para Não Esquecer “, uma obra que busca elucidar os eventos e resgatar a memória da cidade.
“ A ideia é dialogar com professoras e professoras, estudantes e a sociedade em geral sobre um período que ainda traz marcas que precisam ser esclarecidas ”, pontua.
Capistrano acredita fortemente que fazer história em espaços públicos é parte de sua missão como historiador. Sua busca por diálogo e reflexão sobre os eventos da história recente do Brasil é uma forma de trazer clareza e compreensão às gerações atuais e futuras. Como historiador do parque da cidade e professor da rede estadual de ensino, Capistrano tem sempre buscado inovar na abordagem do conhecimento histórico. Atualmente, ele conduz o Projeto “ Das Ruas às Redes: Quinta da História” por meio das redes sociais, levando o ofício de historiador a todos os cantos, aproximando a história das pessoas.
Fonte: Agência Saiba Mais, 20/08/2023