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'O Silêncio que Canta por Liberdade' traz memórias de 33 vítimas da censura do Regime Militar
Publicado em
16/05/2023 14h55
O período de ditadura no Brasil e a censura imposta pelo regime são tema de O silêncio que canta por liberdade, idealizada pelo produtor cultural Omar Marzagão, o herdeiro do Festival Internacional da Canção Popular (FIC), junto com a atriz Úrsula Corona, que também assina a direção, e que entra na disputa pela categoria de melhor documentário do prêmio Emmy Internacional de 2023, cujos finalistas serão conhecidos em setembro. Em oito episódios gravados na Bahia, no Ceará, na Paraíba e em Pernambuco, a série mergulha nas memórias de 33 músicos perseguidos pelo regime opressor. Trata-se de personagens que não prestaram depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), que teve o seu retorno anunciado recentemente pelo Governo Brasileiro.
O elenco principal do filme é composto por Moraes Moreira (1947-2020), Gal Costa (1945-2022), Gilberto Gil e José Carlos Capinan, representantes da Tropicália, o movimento artístico surgido na década de 1960 durante da ditadura militar, que despertou a consciência política na Música Popular Brasileira, por meio de uma discografia que protestava contra a realidade vivida. Também participam da série Ednardo, Chico César e Alceu Valença além do cineasta Cacá Diegues.
O primeiro episódio reúne relatos sobre as diferentes formas de torturas físicas e psicológicas sofridas por músicos que protestavam em discos e em apresentações nos concursos musicais em festivais e na televisão contra o sistema vigente. Os depoimentos também se aprofundam na discriminação regional da ditadura, em especial contra a produção musical de artistas oriundos da região Nordeste do Brasil. Isso em um período em que grandes cantores, compositores e instrumentistas nordestinos ascendiam para todo o país, como o cantor, compositor e sanfoneiro pernambucano Luiz Gonzaga e do cantor, compositor e multi-instrumentista paraibano Jackson do Pandeiro.
A série também discute a influência dos povos africanos na formação da música brasileira. Músicos como Gilberto Gil, oriundos do estado da Bahia, tema do segundo episódio, relembram o racismo perpetuado pela ditadura brasileira. No terceiro episódio, ainda sobre a Bahia, esses artistas também contam histórias inéditas e corajosas sobre o uso de figuras de linguagem, para conseguir autorização da censura da época para gravar, tocar e distribuir a música afro-brasileira de protesto. As metáforas possibilitaram que os músicos expressassem suas opiniões acerca do contexto vivido sem colocar em risco suas obras. Mesmo assim, algumas composições consideradas subversivas foram impedidas pelos militares brasileiros de serem musicadas.
Entre os depoimentos estão Gilberto Gil (BA), Ednardo (CE), Chico César (PB) e Alceu Valença (PE). |
Fonte: Diário de Pernambuco, 15/05/2023