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Obra investigou imagens produzidas pelo regime militar, desde as vésperas do golpe de 1964 até a promulgação do AI-5, em 1968
Filme brasileiro sobre a ditadura militar é selecionado para festival de Amsterdã
11 outubro 2023 às 10h25
O documentário brasileiro A Portas Fechadas, sobre a ditadura militar, foi selecionado para o Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA), um dos mais importantes do mundo. Dirigida por João Pedro Bim, a obra é baseada em uma reunião do Conselho de Segurança Nacional e reúne imagens inéditas da Agência Especial de Relações Públicas, órgão de propaganda do regime. A 36ª edição do Festival acontece de 8 a 19 de novembro de 2023, em Amsterdã, na Holanda.
O material, que era exibido na TV e no cinema, estava sem catalogação no Arquivo Nacional e não era visto desde a década de 1970. Bim digitalizou os filmes de 16 mm para usá-los, investigando as imagens produzidas pelo regime militar, desde as vésperas do golpe de 1964 até a promulgação do AI-5, em 1968.
Bim e a montadora Bruna Carvalho Almeida, tão autora do projeto quanto o cineasta, determinam que as imagens de décadas atrás falem por si próprias. Eles resgatam cinejornais de extrema-direita, palavras de ordem desenvolvimentistas, slogans bombásticos. “Sua paz está em boas mãos”, pregavam os militares. “O Brasil merece o nosso amor”, afirma uma voz autoritária e masculina.
A 36ª edição do IDFA apresenta a mais ampla seleção de filmes do Leste e Sudeste Asiático de todos os tempos, tanto em conteúdo quanto em linguagem cinematográfica. Durante o IDFA 2023, o vencedor do Lifetime Achievement Award, Peter Greenaway, será homenageado com uma retrospectiva sofisticada.
Cinema brasileiro na edição de 2022
O cinema brasileiro marcou presença na última edição do evento (35ª) com diversos títulos, entre eles, Solmatalua, de Rodrigo Ribeiro-Andrade, na IDFA Competition for Short Documentary, mostra competitiva de curtas-metragens. Descrito como uma onírica odisseia afro-diaspórica, o filme propõe a construção de novas poéticas ao resgatar a luta e resistência do povo negro na diáspora africana a partir de uma extensa pesquisa de materiais de arquivo, percorrendo um vertiginoso itinerário por territórios ancestrais e contemporâneos.
Outro destaque nacional foi o longa Sinfonia de um Homem Comum, dirigido por José Joffily, na mostra Frontlight, que trouxe títulos com uma abordagem mais artística e explorou questões urgentes do nosso tempo. O filme narra a história do diplomata José Mauricio Bustani, primeiro diretor-geral da OPAQ, Organização para a Proibição de Armas Químicas, entre 1997 e 2002, que tentou impedir a invasão ao Iraque pelos Estados Unidos, durante o governo de George W. Bush, e acabou demitido por pressão dos americanos.
Fonte: Jornal Opção, 11/10/2023