Alexandre Vannucchi Leme — Foto: Arquivo Pessoal
O estudante Alexandre Vannucchi, de Sorocaba (SP) , preso, torturado e morto no DOI-Codi, em 1973, durante a ditadura militar , receberá uma diplomação honorífica da Universidade de São Paulo (USP).
A decisão, aprovada pelo Conselho de Graduação da USP, foi anunciada pelo primo de segundo grau de Alexandre, Camilo Vannucchi, nesta quinta-feira (17). Em um post nas redes sociais, ele relembrou que o jovem era estudante do quarto ano de Geologia, e era conhecido como "Minhoca".
"Teve o sonho do diploma ceifado pelos torturadores que fizeram dele uma das milhares de vítimas fatais da ditadura militar. Parabéns, Pró-Reitoria de Graduação e Conselho de Graduação! Alexandre vive!", escreveu.
Camilo contou ao g1 que levou a ideia da diplomação honorária para a universidade depois que soube que a PUC de São Paulo realizou a entrega de diplomas para pessoas vítimas da ditatura militar. O processo ocorreu após a conclusão da Comissão da Verdade interna da instituição, em 2017.
"Eles entregaram diplomas simbólicos, porque não é um diploma do MEC, um diploma oficial", diz. Conforme ele, ao menos cinco pessoas, que morreram durante a repressão, foram homenageadas.
Símbolo de luta pela liberdade
Alexandre Vannucchi Leme foi morto nas dependências do Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), na capital. O estudante de Geologia da USP tinha 22 anos e virou símbolo da luta pela liberdade.
O jovem foi capturado um dia antes de ser assassinado. Assim como outros presos políticos, ele foi torturado e morreu em decorrência das agressões. Uma das hipóteses é de que os torturadores se aproveitaram da cicatriz de uma recente cirurgia para retirada de apêndice.
Funeral de Alexandre em Sorocaba (1973) — Foto: Arquivo Pessoal
A dor e a tristeza causadas pela separação abrupta, sem despedida, são sentidas até hoje. A família insistiu por dez anos até um exame comprovar que os restos mortais de Alexandre Vannuchi Leme foram enterrados no cemitério de Perus como indigente.
A identificação só foi possível graças a um molde dentário guardado pelo estudante depois de um tratamento feito dois meses antes do assassinato. Foram mais alguns anos de espera até as cinzas chegarem à família.
A lápide dos Vannucchi fica no cemitério da Saudade e, assim como outras, carrega marcas de vandalismo. "Assassinado pelo regime militar, à espera do tempo da Justiça" é a inscrição da lápide de Minhoca.
Somente em 2013, 40 anos após a morte de Alexandre, o atestado de óbito foi retirado. Causa da morte: lesões provocadas por tortura .
Colega também será homenageado
Ronaldo Mouth Queiroz, que foi morto a tiros, em um ponto de ônibus, e que também era estudante de geologia, receberá a mesma homenagem. Ele foi assassinado pelos repressores em 6 de abril de 1973.
O Conselho Universitário da USP também precisa aprovar a entrega. Um evento está previsto em outubro, onde os diplomas serão entregues para as famílias dos homenageados.
Fonte: G1, 19/08/2023