Notícias
Em plena ditadura, em 7 de julho de 1978, a população negra foi às ruas de São Paulo protestar contra o racismo e a violência estatal
Manifestação do Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial em 1978
Foto: Jesus Carlos / Memorial da Democracia
Reunindo perto de duas mil pessoas, o ato ocupou as escadarias do Teatro Municipal e impulsionou a criação do Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial, mais tarde renomeado Movimento Negro Unificado (MNU)
Convocando a manifestação, panfletos reunindo algumas das principais reivindicações do movimento acabaram nos arquivos dos serviços de vigilância e repressão da ditadura, que acompanharam tudo de perto.
Confira abaixo a sua transcrição integral:
“MOVIMENTO UNIFICADO CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL”
CARTA CONVOCATÓRIA PARA O ATO PÚBLICO CONTRA O RACISMO
Nós, entidades negras reunidas, resolvemos ampliar um movimento no sentido de defender a comunidade afro-brasileira da exploração racial e desrespeito humano a que ela é submetida.
Não podemos mais calar, a discriminação racial é um fato marcante na sociedade brasileira, que barra o desenvolvimento do negro, destrói sua alma e sua capacidade de realização como ser humano.
O Movimento Contra a Discriminação Racial foi criado para que os direitos dos homens negros, também, sejam respeitados. Como primeira atividade, este movimento realizará um ato público contra o racismo, no dia 7 de julho às 18:30 horas, no viaduto do chá. Seu objetivo será protestar contra os último acontecimentos, ocorridos contra negros, amplamente divulgados pela imprensa.
- No dia 28 de abril, numa delegacia de Guaianazes (em SP), mais um negro foi morto, por causa das torturas policiais. Este negro chamava-se Robson Silveira da Luz, trabalhador, casado e pai de filhos.
- No Clube Regatas Tietê, quatro garotos foram covardemente barrados do time infantil de voleibol, pelo fato de serem negros. O diretor do clube deu entrevistas nas quais confirmou suas atitudes racistas, tal a confiança de que não será punido por seu ato.
Nós também sabemos que os processos destes casos não darão em nada. Como todos os outros casos de discriminação racial, serão apenas mais dois processo abafados e arquivados pelas autoridades deste país, embora um dos casos tenha o agravante da tortura e consequente morte de um cidadão negro.
Mas o ato público marcará fundo o nosso repúdio. Para tanto, convocamos todos os setores democráticos, que lutam contra as injustiças e o desrespeito aos direitos humanos, e engrossaremos as fileiras com a comunidade afro-brasileira, neste ato contra o racismo.
Fazemos um convite especial a todas as entidades negras do país a ampliarem o movimento. As entidades negras devem desempenhar o seu papel em defesa da comunidade afro-brasileira. Lembramos que quem cala consente.
Não podemos mais aceitar as condições em que vive o homem negro, sendo discriminado na vida social do país, vivendo no desemprego, subemprego e nas favelas. Não podemos mais consentir que o negro sofra perseguições da polícia, sem dar uma resposta.
- TODOS AO ATO PÚBLICO CONTRA O RACISMO!
- CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL!
- CONTRA A VIOLÊNCIA POLICIAL!
- PELO FORTALECIMENTO E UNIÃO DAS ENTIDADES AFRO-BRASILEIRAS!
Assinam:
GRUPO AFRO-LATINO-AMÉRICA (SP)
GRUPO DE ATLETAS NEGROS
ASSOCIAÇÃO CULTURAL RECREATIVA BRASIL JOVEM
GRUPO DE ARTISTAS NEGROS
AFRO-LATINO-AMÉRICA (RJ)
ACBB – ASSOCIAÇÃO CRISTÃ BRASILEIRA BENEFICENTE
IBEA – INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS AFRICANISTAS
Referência: Arquivo Nacional, Divisão de Segurança e Informações do Ministério das Relações Exteriores, Direitos humanos e tortura no Brasil, BR DFANBSB Z4.DHU.0.49