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Paulista foi deputado e senador pelo Rio de Janeiro e lutou pela criminalização do racismo e pelos direitos humanos e civis da população negra no Brasil
Conheça Abdias Nascimento, um dos pioneiros do movimento antirracista brasileiro
Antirracista, ativista do movimento negro e dos direitos civis, escritor, poeta, dramaturgo, político, artista plástico, ator e professor universitário. Essa longa lista de ocupações mostram a amplitude do trabalho de Abdias Nascimento, ex-deputado e senador que morreu há 12 anos.
Considerado o “mais completo intelectual e homem de cultura do mundo africano do século XX”, Abdias morreu aos 97 anos após dedicar sua vida aos direitos civis e humanos da população negra brasileira. O pesquisador do Instituto de Pesquisa e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro, fundado por Abdias), Júlio Menezes Silva, fala sobre o pioneirismo do ativista.
“Há 40 anos, ele já apresentava projetos de lei das cotas, ações afirmativas na educação, mercado de trabalho e todos os setores do serviço público, do ensino da história e cultura africana e negra nos currículos e da criminalização da discriminação racial com crime qualificado, crime de lesa humanidade.”
Quem foi Abdias Nascimento?
Nascido em 14 de março de 1914 em Franca, São Paulo, Abdias Nascimento era neto de africanos escravizados. Filho de sapateiro, passou a infância descalço e trabalhou desde os sete anos. Formou-se no segundo grau em Contabilidade aos 14 anos, se tornou economista pela Universidade do Rio de Janeiro aos 24 e fez duas pós-graduações no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb) e no Instituto de Oceanografia.
Abdias participou da Frente Negra Brasileira na década de 1930 e organizou o Congresso Afro Campineiro, que debateu a discriminação racial em Campinas. Foi preso após protestar contra a ditadura de Getúlio Vargas e levado ao Carandiru por questionar a discriminação racial em São Paulo. No presídio, fundou o Teatro do Sentenciado e um jornal dos prisioneiros.
Em 1944, Abdias fundou o Teatro Experimental do Negro, primeira entidade afro-brasileira que relacionou a luta pelos direitos civis com a recuperação da herança cultural africana. A entidade oferecia alfabetização a população negra, propôs leis contra a discriminação racial na Assembleia Constituinte e realizou o primeiro Congresso do Negro Brasileiro.
Abdias precisou sair do Brasil por conta da repressão da Ditadura Militar, exilando-se nos Estados Unidos e Nigéria durante 13 anos. Neste período, representou a América do Sul em encontros e congressos na África e fez obras de arte visual, expostas em galerias importantes.
Voltou ao Brasil em 1978 e, nos anos seguintes, fundou o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro). Em 1983, foi eleito deputado federal pelo PDT, partido que ajudou a fundar. Em seu mandato, articulou medidas contra o Apartheid, deu forças à criação da Fundação Cultural Palmares e do Dia da Consciência Negra (20 de novembro).
Suplente de Darcy Ribeiro, se tornou senador em 1997. Em 2001, recebeu o prêmio UNESCO na categoria “Direitos Humanos e Cultura” e, dois anos depois, o Prêmio Comemorativo da ONU por Serviços Relevantes em Direitos Humanos. Morreu em 23 de maio de 2011 aos 97 anos, poucos anos após receber a Grã Cruz da Ordem do Mérito Cultural e a Grã Cruz da Ordem do Mérito do Trabalho.
(Com informações de Ipeafro e Literafro)
Fonte: Rádio Itatiaia, 24/05/2023
Disponível: https://www.itatiaia.com.br/editorias/brasil/2023/05/24/conheca-abdias-nascimento-um-dos-pioneiros-do-movimento-antirracista-brasileiro